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Lista | Falcão e o Soldado Invernal: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

Falcão e o Soldado Invernal é a segunda série da Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel e, ao reunir os dois sidekicks do Capitão América em uma estrutura clássica de buddy cop, a obra teve como objetivo lidar com o legado de Steve Rogers que, pelo menos em tese, passou o escudo para Sam Wilson ao final de Ultimato. Inteligentemente, porém, no lugar de a Marvel Studios simplesmente seguir o caminho mais simples e empossar o Falcão como o novo Capitão, a série comandada por Malcolm Spellman criou uma trajetória tortuosa, de alta carga política, tendo como pano de fundo não somente a passagem de manto, mas também o que significa os EUA terem um Capitão América negro.

Começando de maneira claudicante, com uma tentativa não tão eficiente de abordar a vida pessoal de Sam e, por outro lado, lidando bem com os traumas psicológicos de Bucky, os dois heróis juntam-se para lutar contra um grupo autointitulado Apátridas, que deseja impedir a remoção de povos que se uniram a partir do desaparecimento de metade da população da Terra depois do retorno dela. É esse grupo que é, talvez, o maior ponto fraco da série, não só pela forma genérica que é apresentado, mas também por sua líder Karli Morgenthau por muitas vezes não parecer muito mais do que uma jovem revoltada que se injetou o soro do supersoldado.

Mas, se os Apátridas não tiveram função maior do que serem buchas de canhão, a determinação de que o soldado John Walker seria o novo Capitão América empossado pelo governo americano rendeu uma ótima história, mesmo começando mal, sem contextualizar de maneira satisfatória o personagem. No entanto, seu desenvolvimento como alguém que quer fazer o certo, mas sem saber exatamente como, mostrando-se truculento, violento e estourado, cria um ótimo anti-Capitão América que entra em oposição direta especialmente à postura pacífica de Sam Wilson, sempre tentando resolver as questões na conversa antes de partir para o braço (ou asas, claro).

Nessa mistura, Bucky liberta o Barão Zemo para que ela possa ajudá-los, o que imediatamente fez a série melhorar e muito na dinâmica entre os personagens graças ao carisma de Daniel Brühl, Madripoor, cidade fictícia dos quadrinhos Marvel é introduzida e Sharon Carter é reapresentada, desta vez como alguém muito claramente escondendo um segredo. Se Carter tem um desenvolvimento estranho ao longo da minissérie, pelo menos houve espaço para a apresentação de Isaiah Bradley, personagem afro-americano oriundo dos quadrinhos que, juntamente com diversas outras cobaias, recebeu o soro do supersoldado nos anos 50 e tornou-se o segundo Capitão América, ainda que sua existência tenha sido escondida pelos EUA. Essa conexão com o passado e as agruras passadas por Bradley refletindo a forma como os negros foram e ainda são tratados nos EUA e outros diversos países cria o impulso necessário para que Sam Wilson finalmente tome sua decisão sobre o escudo do Capitão América, ressignificando a simbologia.

Mas Falcão e o Soldado Invernal, apesar de ser uma série cheia de ótimas ideias e bandeiras, falha em sua execução, algo particularmente saliente no episódio de encerramento, e, mesmo demonstrando qualidade altíssima no antepenúltimo e penúltimo episódios, não consegue, em linhas gerais, sair de uma estrutura básica que faz bem a passagem do manto, mas não consegue lidar a contento com as questões que gravitam ao redor, seja o trabalho introdutório para a apresentação de John Walker, seja o uso de Sharon Carter ao longo da história e, claro, a criação de um grupo de vilões que realmente tivesse impacto maior. Com isso, a curta minissérie não desponta de verdade, fazendo com que seus melhores momentos pareçam desgarrados de um todo mais simples e burocrático, ainda que ainda seja boa e agradável de se assistir.

Como fazemos em séries que acompanhamos semanalmente, fiquem, agora, com o ranking dos seis episódios. Digam o que acharam, mandem os seus próprios rankings e vamos conversar!

6º Lugar:
New World Order

1X01

Mas esse é apenas o primeiro episódio que, claro, é normalmente usado para estabelecer as premissas e, por isso, carrega o ônus de ser abrangente e um pouco mais desfocado. Sem dúvida alguma, faz parte do jogo, mas a série inegavelmente passa a impressão de algo mais convencional, mais padrão, mais esperado vindo da Marvel Studios. Não é um problema, pois a produtora já mostrou repetidas vezes que é capaz de fazer muita coisa com sua fórmula mágica, pelo que é só esperar para a história dos sidekicks do Capitão América engrenar de verdade.

5º Lugar:
The Star-Spangled Man

1X02

A missão dos dois contra os Apátridas, grupo vilanesco que continua muito sem graça, é o ponto alto de ação do episódio, assim como o começo do anterior, algo que ganha ainda mais relevo por ser a primeira vez que vemos Walker e seu parceiro Lemar Hoskins, o Estrela Negra (Clé Bennett vivendo mais um personagem tirado lá do fundo do baú da Marvel Comics) arregaçando as mangas para exibir suas habilidades, com um surpreendente bom uso do icônico escudo. Tudo bem que os quatro acabam não sendo páreo para os oito super-soldados que os atacam, mas isso já era esperado. O que realmente interessa é o que segue daí, com Walker tentando insistentemente recrutar os ex-sidekicks da persona que adotou para não só facilitar seu trabalho, como para legitimar seu codinome e uniforme, exatamente o que precisávamos para detestar o personagem de uma vez. Será no mínimo interessante ver como a dinâmica agora de duas duplas rivais com um mesmo objetivo será tratada nos episódios seguintes, especialmente com a entrada de Helmut Zemo na jogada.

4º Lugar:
One World, One People

1X06

Partamos então pela escolha estética de se fazer com que as sequências de ação, que tomam 3/4 do episódio, aconteçam à noite. Não só isso reduziu substancialmente o impacto desses momentos, inclusive e especialmente as afirmações e reafirmações visuais de que Sam Wilson agora é mesmo o Capitão América, como a fotografia e a montagem não conseguiram elevar as sequências a mais do que tentativas de se reduzir a carga de CGI, no truque mais velho do livro de regras de Hollywood. Se é para carregar nas sequências noturnas, então que elas pelo menos sejam realmente bem executadas, e não uma sucessão de socos e chutes com cortes frenéticos ou de sequências aéreas ofuscadas pelo manto da noite. Se eu elogiei a ação inicial de New World Order, aqui eu não posso fazer o mesmo, infelizmente.

3º Lugar:
Power Broker

1X03

Mas a grande verdade é que a dinâmica entre Sam e Bucky melhorou muito com Zemo e Sharon partilhando do espaço quase exclusivo que eles tinham, tornando o episódio muito mais fluido e eficiente que os dois anteriores. Ajuda muito que Zemo continue sendo o mesmo sacana de sempre, com um roteiro levemente mais cômico que emprega bem os dotes dramáticos cínicos de Brühl como o cara que parece estar se divertido demais às custas dos super-heróis panacas ao lado dele, especialmente nos momentos em que ele “usa” Bucky como seu capanga. E isso sem contar que ele próprio também pode ser o Mercador do Poder, diga-se de passagem. Claro que o fan service rolou solto com o uso completamente aleatório da icônica máscara roxa da versão em quadrinhos do personagem, mas isso não atrapalhou muito a ação constante e literalmente explosiva que não perdeu tempo em localizar a origem do soro e estabelecer o caos completo.

2º Lugar:
The Whole World is Watching

1X04

No entanto, se descontarmos o problema da velocidade, que poderia ter sido evitado com menos enrolação no começo e mais foco em Walker, tudo o que ocorreu faz perfeito sentido lógico dentro da proposta da série que é justamente estudar quem faria jus ao escudo, quem poderia ser um símbolo do bem incorruptível como o próprio Barão Zemo reconhece que Steve Rogers sempre foi, sem jamais desviar-se desse caminho, mesmo tendo o soro do supersoldado correndo em suas veias, ou seja, um homem que escolheu ter poder, mas nunca sucumbiu a ele. A queda de John Walker, catalisada pelo assassinato de seu parceiro (mas que aconteceria mais cedo ou mais tarde mesmo sem isso, temos que concordar) que, no processo, literalmente mancha de sangue o símbolo maior do que é ser o Capitão América, foi muito bem trabalhado pela direção de Kari Skogland, com uma atuação bem convincente de Wyatt Russell como um homem descontrolado, mas que parece entender a gravidade do que fez mesmo aplicando uma moralidade que relativizará seus atos.

1º Lugar:
Truth

1X05

E o episódio trafega por esse caminho sem trabalhar obviedades. Sam recebeu o escudo de Steve, mas nunca se sentiu confortável com ele, decidindo entregá-lo a um museu. Bucky revelou a existência de Isaiah Bradley, o terceiro homem em que o soro do supersoldado funcionou e que, conforme aprendemos em detalhe agora, comeu o pão que o diabo amassou por ter sido um herói na Guerra da Coréia. Claro que eu teria preferido que a conversa entre ele e Sam, com o escudo permanentemente dentro de sua nada discreta sacola, fosse salpicada de flashbacks para os momentos que ele descreve – quem sabe um dia não teremos uma minissérie só sobre ele, passada nos anos 50? -, mas a grande verdade é que Carl Lumbly, ainda bem retornando para a série, teve uma atuação estupenda e densa que lidou com o gigantesco elefante na sala. As estrelas e listras da bandeira americana e, por tabela, do tão cobiçado escudo, nada significam para ele e, em sua concepção, o manto do Capitão América é impensável para qualquer negro americano que se respeite. Para Bradley, Sam não deve e não pode ser o Capitão, não porque Steve Rogers não era um homem digno, pois sabemos que era, mas sim em razão do que a bandeira que ornamenta o uniforme do super-herói significa para a história de seu povo.

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