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Lista | David Lynch – Os Longas Ranqueados

por Luiz Santiago
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Esta lista foi realizada em comemoração ao aniversário de 75 anos do diretor David Lynch, em 20 de janeiro de 2021. Nela, eu e meus colegas Ritter Fan, Fernando JG, Roberto Honorato e Rodrigo Pereira votamos nos longa-metragens dirigidos pelo Mestre até o presente momento. A colocação desses filmes na lista final foi definida a partir de uma contagem simples de pontos, considerando o lugar que cada um indicou o filme em sua lista pessoal, sendo 10 o mínimo possível de indicações. Não houve empate.

Deixe nos comentários o seu próprio ranking dos filmes do diretor e comente o que acha da filmografia dele. Quais são os seus favoritos? Qual filme dele te deixou em maior estado de confusão ou perturbação? Participe!
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11º Lugar: Duna

6 pontos

gigantesca magnus opus sci-fi de Frank Herbert, lançada em 1965, cria um universo muito particular, cheio de detalhes e de história pregressa que exige até mesmo um glossário ao final para que os leitores não se percam com expressões como gom jabbarBene GesseritKwisatz Haderachsardaukar e dezenas (centenas?) de outras que ganham significado meticuloso e preciso. Herbert, ao criar o universo de Duna, que, no total, conta com seis livros – e aqui só estou contando os que foram originalmente escritos pelo autor, pois há outros ainda – faz o que os maiores autores de fantasia e ficção científica costumam fazer: nos oferecer uma experiência complexa, imersiva e, no final, extremamente recompensadora.

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10º Lugar: Twin Peaks: O Mistério

7 pontos

De certa forma, O Mistério e Os Últimos Dias de Laura Palmer acabam funcionando sozinhos, mas ganham muito mais força assistidos de uma só vez, o que faz dessa coleção de cenas deletadas e estendidas mais do que apenas complemento, mas algo necessário, que faz os dois parecerem inseparáveis. É claro que ainda sofre por conta da estrutura, que não faz dessa obra uma narrativa tão contida quanto a do filme anterior, mas todo o drama de Laura e o ciclo de violência crescente na pequena cidade de Twin Peaks sempre foram o foco de Lynch, e por mais que ele tenha nos ensinado a importância de não depender demais de soluções, O Mistério é chave para compreendermos melhor a história. Realmente, essas eram algumas das peças que faltavam, e é uma pena termos demorado para ver como grande parte delas sempre foram tão importantes desde o início.

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9º Lugar: Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer

20 pontos

A série Twin Peaks teve dois grandes momentos durante a sua curta curação. A 1ª Temporada é um verdadeiro mar de criatividade e mistérios, com inserção de elementos espirituais ao longo da investigação do assassinato de Laura Palmer. Durante esse período, David Lynch e Mark Frost estiveram plenamente envolvidos com o show, garantindo a qualidade do produto televisionado e explicando o imenso sucesso que a série teve nos Estados Unidos e no mundo ao longo daquele ano. Já a 2ª Temporada é a que recebeu maior número de críticas negativas, e não é sem motivo. Primeiro, porque trata-se de um longo serial, com 22 episódios, sendo que apenas os 9 primeiros e os três últimos episódios fazem jus à fama e à qualidade esperada da série.

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8º Lugar: Uma História Real

27 pontos

Quando um diretor adquire um estilo cinematográfico marcante, é normal esperar por determinadas características, ao assistir seus filmes. Baseado nisso, David Lynch é reconhecido por ser um dos diretores mais peculiares e inventivos do cinema americano, ou seja, sempre esperamos momentos de surrealismo e bizarrice em suas obras. Portanto, não deixa de ser engraçado atestar que, após longas como Veludo Azul e Eraserhead, o cineasta nos surpreenda em Uma História Real, ao trazer um trabalho contido, intimista e tocante, características opostas ao que conhecemos da filmografia de Lynch. Mesmo assim, o filme analisado a seguir possui uma única semelhança com os demais da carreira do diretor: a extrema competência.

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7º Lugar: Império dos Sonhos

28 pontos

Derradeiro filme da trilogia sobre Hollywood, antecedido por Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos (2001), Império dos Sonhos pode ser considerado o filme mais sombrio e enigmático de David Lynch, sendo, antes de tudo, uma fusão de dezenas de ideias que ele foi cultivando ao longo da carreira, caráter que mostra, inclusive, a origem da obra, nascida de uma série de curtas, monólogos e cenas aleatórias (“um experimento“, como o diretor disse ao telefone para Laura Dern) gravados de maneira despreocupada e depois refilmados ou usados diretamente no filme, que não teve um roteiro prévio. A cada dia de filmagens, Lynch assistia aos copiões, consultava seu caderno de notas sobre a sequência de eventos e escrevia o que achava que deveria vir a seguir. Não espanta o fato de Dern e Justin Theroux terem dito diversas vezes ao longo da produção que não faziam ideia do que o filme se tratava.

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6º Lugar: Coração Selvagem

29 pontos

Quando David Lynch lançou Veludo Azul, o diretor cravou definitivamente seu nome na história do cinema, construindo uma obra intrigante e provocativa que pode ser tranquilamente colocada no grupo de obras-primas daquela década. Além disso, Lynch já possuía trabalhos magistrais em sua carreira, como o fantástico O Homem Elefante e Eraserhead. Portanto, a expectativa para seu próximo longa era enorme, mas o realizador deixou de lado os filmes enigmáticos e apostou em uma história de amor, contada de maneira bastante peculiar, como vemos em Coração Selvagem.

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5º Lugar: Estrada Perdida

30 pontos

De fato, é, só que mais pela a atmosfera criada por Lynch, do que necessariamente em termos práticos. Claro, pensando num filme dele o sensorial sempre está à frente, e o exercício de suspense e paranoia surreal nos faz comprar a periculosidade da personagem, além do desnorteamento do (s) protagonistas também estimulados a mergulharem a fundo no universo primitivo do filme, mas como ele no aspecto policial incita a busca do significado de seus signos e oferece concretude para alguns deles, há de se pensar que na trama, alguns conflitos e intrigas trazem algo bem básico e até mesmo juvenil. Por mais que sequências isoladas vão complexando o enigma a ser mais reflexivo, em termos dramáticos, de estudo de personagem, não é tão potente, embora seja daquelas experiências que dificilmente não irão sair da cabeça tão cedo.

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4º Lugar: Eraserhead

35 pontos

Por fim, o destino não parece o final, e sim os rastros de uma vida concebida e por irresponsabilidade abandonada por não suportar uma pressão originada pelo próprio legado auto originário. Acaba que a abrangência simbólica centrada em um protagonista e sua relação com o meio é a insuficiência efetiva de experiência insatisfatória com as escolhas da vida, ou qualquer alcance de liberdade. Se Lynch exercita tanto as expressões dos seus atores para se harmonizar com o universo estranho do filme, o branqueamento luminoso visual total, que por muitos é o auge transcendental, da vida ou da morte, é nada mais nada menos que o símbolo ainda ambíguo sobre a origem do filme, mas agora reflexo de uma moral sobre o julgamento inevitável, seja espiritual ou genético, que a vida concebe e apaga a linha escrita no papel.

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3º Lugar: O Homem Elefante

36 pontos

David Lynch tornou-se, ao longo de sua longa carreira, um cineasta conhecido por suas obras de tom surrealista, que vão desde o seu terror de estreia Easerhead a grandes filmes que marcaram este século, como Cidade dos Sonhos. Mas Lynch nunca deixou de se provar versátil e igualmente competente em filmes mais tradicionais, como o semi-folhetinesco Uma História Real e o seu primeiro grande sucesso de público e crítica – O Homem Elefante, de 1980. É certo que o seu segundo longa-metragem, que narra a história de Joseph Merrick, um homem na Inglaterra vitoriana acometido de uma terrível doença que desfigurara seu corpo, mantém elementos oníricos e fantasiosos, como os que o diretor insere na abertura e no desfecho da obra. Mas, em todo o seu miolo, predomina uma narrativa linear e calcada na realidade dos fatos.

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2º Lugar: Veludo Azul

37 pontos

Definido pelo diretor como “uma história de amor e mistério”, Veludo Azul (1986) é daqueles filmes que começam a polarizar opiniões já nos primeiros minutos de projeção, pois cada espectador irá receber de maneira diferente o contraponto da cidade com suas casas de cerca branca, jardins bem cuidados, carro de bombeiros desfilando pelas ruas e tradicionais valores sociais e familiares versus um mundo obscuro de marginais baratos, com manias sexuais, assassinatos e absurdos cotidianos baseados nas intricadas teias de eventos do cinema noir e de mistério — notadamente do quarteto A Sombra de uma Dúvida (1943), Um Retrato de Mulher (1944), Um Amor em Cada Vida (1945) e Janela Indiscreta (1954) — para tornar coisas aparentemente banais em pistas de uma investigação que é, em tudo, teatral.

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1º Lugar: Cidade dos Sonhos

43 pontos

Depois de filmar Uma História Real em moldes bastante tradicionais no ano de 1999, David Lynch voltaria ao estilo surrealista com aquela que muitos (inclusive eu) consideram a sua melhor obra – Cidade dos Sonhos, clássico instantâneo deste século, lançado em 2001. Dessa vez, contudo, não se trata apenas do surrealismo enquanto estética cinematográfica, mas de um longa-metragem que usa o estilo para submergir no próprio inconsciente de sua protagonista Diane (Naomi Watts). O cinema não havia mergulhado nos sonhos de um personagem, em uma concepção psicanalítica de fato, tão explicitamente quanto a magnum opus de Lynch faria. Cidade dos Sonhos é uma rendição audiovisual ao papel que tudo o que recalcamos e que emerge durante nossos sonhos pode dizer sobre nós mesmos. Um projeto de uma audácia sem par e que poderia ter fracassado completamente não fosse guiado pela engenhosidade de Lynch.

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