Avaliação da primeira temporada de Chucky.
(não é uma média)
- Há SPOILERS! Veja, aqui, todo nosso material sobre Chucky.
Não resta dúvidas de que com a popularidade adquirida, Chucky chegou para ficar na TV e, quem sabe, levantar uma tendência de trazer mais famosas franquias de terror para continuarem suas histórias através do streaming. O criador do brinquedo assassino, Don Mancini, foi inteligente ao olhar para o forte apelo popular do cenário televisivo atual (cada vez mais cinematográfico) como uma oportunidade de transferir o cânone da franquia (até então renegada ao home-video) e expandi-lo de maneira organizada, considerando o maior tempo de tela de uma série para desenvolvimentos mais detalhados. Espertamente, o showrunner também observou a recepção da refilmagem de 2019 e puxou a ideia de trazer Chucky (Brad Dourif) para uma atmosfera colegial adolescente, naturalmente trazendo um contexto em que o caráter antiquado do personagem seria aceito com verossimilhança e, de bônus, uma forma adequada de introduzir o velho Chucky para uma nova geração.
Os primeiros quatro episódios cumpriram muito bem esse papel, apresentando novos personagens carismáticos, referências pontuais à mitologia do boneco, situações de suspense ou assassinato bem elaboradas e possibilidades bastante estimulantes de caminhos de trama. Infelizmente, os quatro últimos episódios que reintroduziram a continuidade dos filmes, se perderam ao estabelecer conectivos extremamente didáticos e não naturais da antiga história para a nova, além de apressar demasiadamente seus desdobramentos (matando/descartando vários personagens aparentemente importantes) a ponto de bagunçar completamente o tom da narrativa, além de ostentar furos grotescos de roteiro. O último episódio ainda conseguiu recuperar parcela do potencial apresentado no início ao admitir uma linguagem puramente satírica (que antes estava compartilhada e equilibrada com a dramaticidade) e incluir a metalinguagem para o texto debochar da própria galhofa, mas não deixou de ser uma correção de erros internos, desnecessária caso o restante tivesse seguido a simplicidade e elaborado uma cautelosa crescente até o exagero (que poderia ser) mais divertido do final.
Agora que já se atropelou no crossover, é esperar que Chucky, na próxima temporada, siga uniformemente uma proposta e que apresente um verdadeiro “oitavo filme” arrumando toda a casinha da cronologia. Para finalizar nossa cobertura, como é costume ao término de todas as séries que acompanhamos por episódios, trago um ranking dos oito capítulos (que poderiam ser dez), do melhor ao pior. Comentem o que vocês acharam da temporada, qual a sua ordem de episódios e o que vocês esperam que vai acontecer no segundo ano!
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8º Lugar: Twice the Grieving, Double the Loss
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No episódio passado, o trio estava esperando Andy e Kyle aparecerem (por que diabos o Andy a abandonou sendo que eles trabalham juntos há tempos nisso?) para ajudarem a resolver o problema de Chucky. Nesse, eles se esquecem desse fato e desistem sem motivo de procurá-lo, mesmo sabendo que isso não vai alterar a matança. Aliás, o motivo de Devon é o mesmo de Junior, culpando a morte recente da mãe (que não teve velório, dane-se) para Jake, por ele ser uma espécie de amaldiçoado pelas mortes de todo mundo e querer distância do namoradinho, sendo que ele sabe quem é o responsável (como aparentemente também Junior sabia), tanto que vai atrás de vingança sozinho procurando a casa de Charles Lee Ray – que como comentei anteriormente, era o esconderijo mais óbvio possível da dupla de assassinos.
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7º Lugar: Cape Queer
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Até o momento, as motivações seguem plenamente incertas e bagunçadas. Tiffany compra a casa antiga de Nica para serem o seu “covil”, sendo que este seria o local mais óbvio para Andy e companhia procurá-los. Pode ser proposital, mas ainda não tem qualquer linha de critério. Chucky, aqui mesmo, mata meio mundo de pessoas importantes, porque sim. “Direito” dele, mas incomoda bastante: como os episódios anteriores, vem banalizando a repercussão dessas mortes e não trazendo qualquer tipo de conflito ou formas de progresso narrativo através dela. É literalmente um descarte de personagens para ter ceninhas de galhofas que são até divertidas, mas onde depois se enfia qualquer justificativa.
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6º Lugar: Little Little Lies
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Little Little Lies acaba só matando tempo no núcleo das crianças procurando o Chucky (com a direção fingindo criar um suspense sobre onde ele está) até surgir a oportunidade de ele usar seu poder de repartir sua alma em outro boneco – Nathan (Michael Therriault) dá um novo Good Gye para Caroline (Carina Battrick) que negou Chucky por estar com meia cara derretida – para se safar do acúmulo de suspeitas que levantou com os assassinatos e, assim, Tiffany (Jennifer Tilly) e Nica (Fiona Dourif) entrarem na narrativa em núcleo paralelo, justificando expositivamente de onde veio essa capacidade do personagem com uma retrospectiva fan-service da sua trajetória nos filmes anteriores.
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5º Lugar: An Affair to Dismember
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O fato do plano de Chucky ser meramente convencer qualquer jovem a matar alguém para poder realizar o seu ritual voodoo e possibilitá-lo de criar um exército dele próprio para espalhá-los pela América, também acaba sendo uma saída plausível para o roteiro justificar as suas atitudes de caráter aleatório durante temporada e neste próprio episódio. Isso deixa a matança no cinema e as várias mortes dos diferentes Chucky – minha favorita: Jake (Zackary Arthur) estrangulando o boneco até seus olhos saírem para fora – bem mais divertida de acompanhar porque seguem uma aleatoriedade calculada no contexto humorizado plenamente assumido e com gore exagerado bastante caprichado.
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4º Lugar: Give Me Something Good to Eat
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Seu plano inicial aparentemente é Jake (Zackary Arthur), que por mais que tenha se deparado com Chucky por acaso, não foi morto ainda porque o brinquedo assassino viu nele um potencial de transformá-lo em um psicopata. Não só pelo bullying sofrido na escola ou a repressão natural vinda de ser gay facilitando o processo de influenciá-lo por revanchismo, mas também por algo de sangue, dado o histórico violento de seu pai (Devon Sawa). Chucky parece acreditar ainda nesse hereditarismo, mesmo com o histórico de seu filho Gleen/Gleenda (Billy Boyd), que no filme OFilho de Chucky passou por todo um processo de querer negar a sua natureza violenta. O filho queer é mencionado por Chucky de maneira orgulhosamente debochada – já que mencionou, temos que ter uma aparição dele em algum momento, certo, Don Mancini? – para deixar implícito ao fandom da franquia a origem dessa nova motivação, que vai ganhando sentido conforme outras atitudes do boneco no episódio.
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3º Lugar: Death by Misadventure
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Todos os personagens parecem interessantes dentro de seus respectivos estereótipos, ainda que o único bem desenvolvido propriamente seja Jake, nesse início. Seu desenvolvimento foi muito pautado no alavanque de revelação do Chucky como agente do caos. A motivação que o faz adquirir e permanecer com o boneco por um tempo é super plausível. Obviamente, não há mais uma criação de suspense acerca dele ter vida ou não, porque a essa altura seria perda de tempo. Já fica claro de que Good Guy está vivo desde o primeiro minuto, para o telespectador. Assim, Death by Misadventure se concentra mais nas articulações das situações com o brinquedo de fundo ouvindo tudo, mexendo alguns pauzinhos, até a derradeira “revelação” na cena do show de talentos. Tudo funciona, ali.
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2º Lugar: Just Let Go
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A cena em que Jake enfim desabafa por cima dela, na escada, é ótima para fechar esse arco de atrito e descartar a possível tendência de Jake em ser um assassino, selando uma união dos adolescentes contra o verdadeiro inimigo. União essa que se amplia para Devon (Bjorgvin Arnarson) ao mais tarde compartilhar a suas pesquisas sobre a lenda urbana do serial killer Charles Lee Ray ter sua alma presa no corpo do Good Gye com Lexy e testemunhar com ela e Jake, Chucky dando dedo depois de assassinar Detetive Peyton (Travis Milne) de maneira brutal – mais uma ótima cena de morte.
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1º Lugar: I Like to Be Hugged
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Gosto de como essa virada de personalidade é sutil o suficiente para não a deslocar de seu estereótipo de patricinha modernizada que ainda dá gosto de odiar. Tanto amamos odiá-la que sentimos também o suspense de perdê-la tão cedo para o Chucky, ao mesmo tempo que saboreamos outro gostinho de vê-la recebendo “o que merece”, novamente em um fabuloso clímax, naquele incêndio em sua casa no meio de uma balada silenciosa, guiadas por fones de ouvido Bluetooth. Aliás, vale comentar que, apesar ser jovem, não vi essa moda e, honestamente, achei além de uma ideia genial (para pôr em prática no futuro não pandêmico, quem sabe), um acerto e tanto trazê-la nesse contexto humoristicamente sarcástico do antiquado proposto na série, que vem sendo uma ferramenta precisa para fazê-la se comunicar entre gerações e driblar as polêmicas do politicamente incorreto saindo das bocas quase infantis.