Black Mirror é uma série de televisão criada por Charlie Brooker, no formato de antologia, que, até o momento, possui cinco temporadas, além de dois especiais. Trabalhando com o impacto da tecnologia em nossa realidade e estudando as relações e comportamentos humanos, o seriado, originalmente transmitido pelo canal britânico Channel 4, ganhou mais fama após a compra pela Netflix, o que garantiu sua enorme popularidade atual. Com seus episódios buscando embasamento sobre diferentes temáticas, não demoraria para que o Plano Crítico trouxesse para vocês, baseada na opinião daquele que vos escreve junto ao colunista Iann Jeliel – responsável pela crítica das três primeiras temporadas – uma lista, ranqueando todos os 23 episódios de Black Mirror lançados até agora.
Para acessar os textos críticos de Black Mirror, feitos aqui no site, segue os links de nossas críticas:
- Black Mirror – 1ª Temporada
- Black Mirror – 2ª Temporada
- Black Mirror – White Christmas (Especial)
- Black Mirror – 3ª Temporada
- Black Mirror – 4ª Temporada
- Black Mirror – Bandersnatch
- Black Mirror – 5ª Temporada
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23° Lugar: Bandersnatch
4X07 – Especial/Filme Interativo | 3 Pontos
Iann Jeliel: Se dizem que a metalinguagem é uma arma de um cartucho só, Bundersnatch gasta suas balas atoa e soa como um projeto muito menor que sua teórica ambição. É falso senso de interatividade que se esconde num exercício metalinguístico preguiçoso, que não sabe criar uma história de vários desdobramentos mais elaborados. No fim, não chega nem a ser um filme interativo de fato, muito menos um episódio dramaticamente efetivo dentro do contexto da série.
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22° Lugar: Men Against Fire
3X05 | 8 Pontos
Gabriel Carvalho: Men Against Fire não é isento de relevância social. Este episódio fala sobre questões importantíssimas, extremamente humanas, sobre a natureza do homem, o qual, mesmo em conflito, tende a ter empatia pelo seu semelhante. O uso da tecnologia é bem feito, condiciando o ser a não enxergar pessoas, mas monstros. Contudo, o episódio tem uma hora de duração e não consegue sustentar essa temática de forma eficiente. No meio da história, tudo que era para ter sido contado já tinha sido, sobrando pouco de interessante a ser mostrado.
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21° Lugar: Crocodile
4X03 | 10 Pontos
Gabriel Carvalho: Um dos mais sombrios episódios de Black Mirror, Crocodile quase conseguiu ser um episódio ruim, pela ausência de interesse que o espectador pode ter assistindo-o, na sua primeira parte. Aos poucos, enquanto cresce o clima de tensão e conflito, o público certamente se verá engajado pelo capítulo, para o bem ou para o mal, visto que estamos diante de uma narrativa que não teme o macabro em sua conclusão e que, por tal, pode resultar em duas perspectivas opostas na forma como essa história será encarada.
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20° Lugar: The Waldo Moment
2X03 | 11 Pontos
Gabriel Carvalho: The Waldo Moment não é um episódio ruim. Mas, em comparação com os demais que já haviam sido lançados, apenas não soou tão incrível quanto, no meio de uma narrativa não tão crível quanto poderia. Mesmo assim, independente do espectador comprar ou não essa história, é bem interessante notar que, alguns anos depois, a campanha de Waldo seria comparada por muitos com a campanha de Donald Trump. Diferentemente do episódio de uma série de TV, isso no entanto não foi ficção. No twitter de Black Mirror, enquanto Trump já encaminhava a sua vitória, veio a seguinte frase: “Este não é um episódio, não é marketing, é a realidade”. The Waldo Moment acabou sendo muito mais relevante do que era em sua exibição original.
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19° Lugar: Arkangel
4X02 | 12 Pontos – Desempate Por Menor Classificação
Gabriel Carvalho: Arkangel leva os espectadores para dentro de um mundo levemente alterado, se comparado com o nosso. Em substância, apenas a criação de um aplicativo que permite pais terem controle do que seus filhos estão comendo, sentindo, precisando e assistindo, 24 horas por dia. Dessa forma, Black Mirror cria seu debate sobre a linha tênue entre cuidado e obsessão.
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18° Lugar: Metalhead
4X05 | 12 Pontos
Gabriel Carvalho: O quinto episódio da quarta temporada de Black Mirror, Metalhead, nos apresenta um ambiente efetivamente destruído pela tecnologia. Contudo, os vilões da vez não são mortos-vivos famintos por carne humana, mesmo que em muitos aspectos esse episódio lembre filmes de zumbis, como A Noite dos Mortos-Vivos.
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17° Lugar: Hated in the Nation
3X06 | 13 Pontos
Gabriel Carvalho: Por falar em Twitter, Hated in the Nation aborda esse tipo de tecnologia e faz um jogo interessante no quesito especulativo. As “abelhas” promovem um senso de apavoramento muito forte, por sinal. Porém, se a uma hora de duração de Men Against Fire (o que não é muito, mesmo assim) já soava cansativa, Charlie Brooker nos entrega, com o encerramento da terceira temporada, quase 90 minutos de mistérios que simplesmente não conseguiram me engajar da maneira que deveria. Pelo menos temos Kelly Macdonald nesse episódio, algo que nunca vai ser ruim.
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16° Lugar: Black Museum
4X06 | 15 Pontos
Gabriel Carvalho: Black Museum, sexto e último episódio da quarta temporada da série Black Mirror, não é isento de mensagem. Temos, na história de vingança de Nish (Letitia Wright), uma poderosa denúncia social, um comentário sobre a diferença de tratamento dado às classes sociais mais baixas. É uma história que dificilmente não será apreciada pelo público, pelo teor de relevância que exprime em seus últimos minutos e pela retomada de algo que a temporada não teve tanto, uma marca registrada da série: a imprevisibilidade costumeira.
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15° Lugar: White Bear
2X02 | 16 Pontos
Gabriel Carvalho: Um thriller sufocante que evidencia o alienamento social e critica profundamente uma sociedade sustentada no ódio e na vingança, estas usadas como entretenimento. Diferentemente de Shup Up and Dance, White Bear tem um papel interessante em nos deixar com empatia pela protagonista, apesar de seu passado tenebroso. No outro episódio citado e comparado, é difícil, depois das revelações, que continuemos nos importando com o adolescente ou até sentindo algum resquício de pena do que aconteceu com ele. Levando a breve análise para fora da ficção, a situação que vivemos, o alarme da paranoia coletiva, justificada pela violência hedionda, mas fomentadora de um desequilíbrio no pensamento político-social tremendo, foi definitivamente muito bem transposta para as telas.
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14° Lugar: Rachel, Jack and Ashley Too
5×03 | 17 Pontos
Iann Jeliel: Episódio que desvirtua completamente com as características mais relevantes da fórmula, tal como o tom, aqui bem mais aventuresco e inconsequente, o que não necessariamente diminui a eficácia do comentario proposto, principalmente pela ironia utilizada aqui como a principal ferramenta para expô-la. Existe um humor ácido na forma como o episódio explora as possibilidades perturbadoras da toxicidade da indústria da música para seus artistas e admiradores diante dos avanços tecnológicos, principalmente pela forma na qual o roteiro trata a sua protagonista como a origem de toda essa problemática. É o próprio fanatismo exacerbado que alimenta as práticas mercadológicas abusivas tão predominante atualmente. Ainda se aproveita Miley Cyrus no elenco para estabelecer um paralelo claro e metalinguístico com a própria carreira, fortalecendo e até validando essa proximidade com a realidade.
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13° Lugar: Fifteen Million Merits
1×02 | 24 Pontos
Gabriel Carvalho: Essa distopia de ficção científica é uma crítica espetacular à cultura de reality shows da atualidade. A uma massa de pessoas, que sustenta seu ganha pão na possibilidade de libertação pela fama e celebridade. A história não é contada da melhor forma, falta algum guia que nos leve ao caráter hipotético desse navio de forma mais avassaladora, mas as performances da dupla protagonista e a ideia por detrás da narrativa sustenta essa provocante embarcação de Charlie Brooker de forma eficiente. Aliás, esta é a primeira história imaginada para Black Mirror, apesar de ser situada como segundo episódio da primeira temporada.
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12° Lugar: Nosedive
3×01 | 26 Pontos
Gabriel Carvalho: Nosedive é a porta de entrada que o público da Netflix tem para a série, após a compra de Black Mirror pelo serviço de streaming. E que porta de entrada sensacional! Com a criação de uma sociedade no qual a popularidade na internet das pessoas definem suas classe sociais, Brooker enfia um facão na ferida de uma realidade nossa não muito distante dessa ficcional. É uma crítica poderosa à maquiagem que criamos em frente ao celular, à cultura de imagem fomentada pelo Instagram, Facebook, e tantas diversas redes sociais cultuadoras de poses manipuladas por meio de muito fingimento.
11° Lugar: USS Callister
4×01 | 28 Pontos
Gabriel Carvalho: Com o primeiro capítulo da quarta temporada de uma de suas séries mais populares, a Netflix opta por investir em um formato mais cinemático, cheio de efeitos especiais, menos sóbrio do que outros capítulos já vistos. Assim como Playtest da terceira temporada, a natureza dos videogames é abordada de maneira cínica, com os desenvolvedores de títulos de realidade aumentada criando verdadeiros pesadelos para os personagens apresentados.
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10° Lugar: White Christmas
2X04 – Especial | 30 Pontos
Gabriel Carvalho: Muito antes de Black Museum repetir sua fórmula, White Christmas trouxe a antologia para dentro da antologia, amarrando um storytelling rico em conteúdo de maneira invejável. Apesar da quarta temporada ter desgastado a temática absurdamente, os cookies são uma das melhores ferramentas para estudo de personagem e mensagem já criadas pela série, permitindo ao roteiro ir para caminhos completamente diferentes. No mais, acima de tudo isso, temos Jon Hamm. Isso não poderia dar errado e não deu.
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09° Lugar: Striking Vipers
5×01 | 31 Pontos – Desempate Por Menor Colocação
Iann Jeliel: Striking Vipers vai levar o debate dos efeitos íntimos e amorosos da tecnológica s para um nível mais marginal, sem uma ligeira construção de um romance, mas se transformando em um à medida que explora a repressão sexual do seu protagonista mergulhado no vazio de relações tradicionais. O roteiro ludibria bem o foco do episódio pela sutileza na qual orquestra a química dos amigos. De forma crível, convence o possivel surgimento de uma atração entre eles, mas nunca o confirma para corroborar com o questionamento de que seria essa mudança de orientação fruto das possibilidades tecnológicas de hoje? O otimismo vigente na forma de enxergar os games como essa ferramenta de satisfazer o prazer escondido carrega uma sutil ironia ao final por expor a fragilidade de praticas conservadoras quebradas, literalmente, por um dia.
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08° Lugar: Be Right Back
2×01 | 31 Pontos – Desempate Por Menor Colocação
Gabriel Carvalho: O luto trabalhado por Black Mirror. A primeira história de amor que somos encorajados a acompanhar, embora o pano de fundo triste seja realçado e evidenciado à medida que passamos da dor para a aceitação, da aceitação para a saudade eterna. Aliado a tudo isso, Domhnall Gleeson e Hayley Atwell em uma sintonia absurda. Um relacionamento que teve um fim – e um recomeço – angustiadamente doloroso.
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07° Lugar: Playtest
3×02 | 31 Pontos
Gabriel Carvalho: A realidade aumentada já chegou em nosso mundo, mas não nesse nível. Surpreendendo-nos, Playtest molda um mundo de forma bastante crível, pincelando regras e dicas importantíssimas para a conclusão explosiva e emocionante da história. Quando pensamos que estamos vendo um determinado nível de imersão nos jogos, o roteiro nos desestabiliza completamente, em uma sucessão de reviravoltas que não ficam repetitivas, apesar de quase caírem nesse problema. A música tocada nos créditos casa perfeitamente com o final do episódio, destruindo completamente o alicerce de segurança que construímos no capítulo. Pode não ser o melhor episódio de Black Mirror, mas foi, até agora, o que mais me impactou.
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06° Lugar: Smithereens
5×02 | 34 Pontos
Iann Jeliel: Sensacional a forma como Smithereens conta o obvio de forma diferente a ponto de ser até mesmo surpreendente, tanto em discursão, quanto principalmente em condução do suspense Esse que é o primeiro a ser desconstruído, remodelando típicos episódios intenso de série, ele articula uma situação aleatoriamente sufocante, mas a conduz de forma serena, gerando um contraste confuso e aparentemente enfadonho a trama. Justamente porque a virada de chave está sendo preparada no intimo do sequestrador suas motivações é o que darão ênfase a discurso principal. Essa que sim, é óbvio, ja que é a primeira critica quando pensamos nos males da tecnologia atualmente, onde se situa a própria narrativa que é essa questão do vicio nas redes sociais.
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05° Lugar: Hang the DJ
4×04 | 36 Pontos
Gabriel Carvalho: O amor já foi abordado em Black Mirror outras vezes. Dentre todas, a maior aproximação que pode-se fazer com este episódio da quarta temporada é com o capítulo San Junipero, da terceira, devido o teor otimista que se é apresentado, além de toda a conjuntura do desenvolvimento de um relacionamento. Por isso, o maior acerto de Hang the DJ, antes mesmo de comentarmos sobre o seu teor crítico ou sua criatividade narrativa, está na capacidade de Charlie Brooker em criar outro casal extremamente crível, com muita química.
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04° Lugar: The Entire History of You
1×03 | 39 Pontos
Gabriel Carvalho: Nós já vimos essa história antes. Ela não é original. Mas Black Mirror conta-a de uma forma tão extraordinária que é impossível não nos assustarmos com a dualidade das propostas transmitidas. Por um lado Liam é extremamente paranoico, e isso definitivamente foi uma das causas da destruição de seu relacionamento, mas, por outro, sua mulher mentiu para ele diversas vezes. É impossível não sentirmos, apesar de suas atitudes moralmente questionáveis, ciumentas e impulsivas, pena do rapaz e de tudo que ele passou, revivendo memórias antigas através de um aparelho tecnológico, tão imaginativamente sensacional quanto degradante.
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03° Lugar: The National Anthem
1×01 | 40 Pontos
Gabriel Carvalho: A narrativa de um político influente sendo forçado a ter relações sexuais com um porco é perturbadora. A estreia de Black Mirror na televisão não poderia ter sido mais acertada, neste capítulo que nos joga para dentro do mesmo mundo que vivemos. Uma brincadeira com a nossa própria realidade, que, em situação parecida, provavelmente lidaria com o evento de maneira similar. Isso é o mais sensacional de The National Anthem. É um episódio que não fala do futuro, fala do agora, e fala de maneira tão verossímil, com um discurso tão provocante, que eu temo profundamente que algum dia uma história do tipo se repita. Vai ser nojento, pavoroso, desgostoso. Mas vai todo mundo assistir.
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02° Lugar: San Junipero
3×04 | 42 Pontos
Gabriel Carvalho: Black Mirror pode não ser perfeita, mas seu ápice certamente é. San Junipero não só conversa com a morte, um dos assuntos mais delicados de todos, como fala de eutanásia, coma, religião e outros assuntos verdadeiramente relevantes. Essa história de amor, protagonizada por um casal homossexual, é tão poderosa, tão complexa, que não poderia se encontrar em outro lugar, senão no primeiro. É um capítulo completamente humano, apesar do teor tecnológico que persiste nessa primeira imaginação verdadeiramente esperançosa da série, a qual dialoga com diversos componentes da fé do ser diante da vida e da morte. É um dos grandes episódios já feitos na história da televisão, na história dos streaming.
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01° Lugar: Shut Up and Dance
3×03 | 43 Pontos
Gabriel Carvalho: Sabe quando um produto audiovisual cria uma reviravolta que muda toda a nossa percepção dele, se revisto novamente? White Bear fez isso. Shut Up and Dance também faz a mesma coisa, porém de uma maneira muito mais intensa, ainda melhor. No meio de uma ansiedade constante, somos levados a acreditar em Kenny – interpretação sensacional de Alex Lawther, como uma vítima completa daquele jogo sujo de chantagens. Ele continua sendo uma “vítima”, mas a nossa visualização daquele garoto muda completamente. Um episódio extremamente ambíguo, questionador, que nos faz pensar na natureza da justiça feita pela próprias mãos ou, no caso, pelo próprio celular, além de trazer a essência de Black Mirror para o mundo atual, permanecendo ainda assim perturbadora. Devastador..
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O que acharam da lista? Lembrando que as posições indicam minha preferência, sendo que muitos episódios de qualidades aproximáveis ficaram em posições consideravelmente diferentes devido o próprio caráter de uma lista ranqueada. Que tal nos mostrar nos comentários suas próprias listas? Estou ansioso em lê-las.