Avaliação da segunda parte da temporada:
(não é uma média)
Eu ainda quero escrever alguns textos sobre Shingeki no Kyojin aqui no site, como uma análise da série toda, um ranking das temporadas e outros artigos nesse sentido, como até um grande leitor sugeriu na análise dos capítulos finais. Aqui, porém, quero falar brevemente dessa segunda parte da temporada final da produção. É um pouco difícil para mim chegar ao desfecho da série por ser uma das primeiras obras que escrevi para o site, e certamente a primeira que trouxe muita atenção, sendo que nesses vários textos da animação pude gradualmente moldar meu estilo de escrita, aprender a tornar minhas leituras mais acessíveis e poder ter um contato com uma legião de fãs entusiasmados em conversar sobre a obra.
E Isayama sempre ensinou tanto, não é mesmo? Os episódios finais de sua grande obra encapsulam tudo que tornou seu trabalho fascinante, passando por suas discussões sobre guerra, violência, empatia e a condição humana, num emaranhado complicado de mitologia que nunca deixou de nos vender o épico de battle shonen que de diversas formas brinca, satiriza e joga com as expectativas do que esperemos de animes com protagonistas invencíveis e seus amados amigos.
Essa segunda parte particularmente lida de forma direta com os demônios e os pecados de nossos personagens, com muitos deles entendendo alguns dos traidores das primeiras temporadas, numa visão cruel daqueles manipulados por conflitos. É bem verdade que esses episódios finais não lidam tão bem com a mitologia dos Titãs, tampouco a história de origem de Ymir, mas as discussões temáticas extremamente provocativas do seriado atingem seu ápice com muitas conversas melancólicas, situações impossíveis e uma reta final apocalíptica que, para bem ou para mal, revela que Eren é apenas outro idiota com poder nas mãos e muito ódio no coração.
No fim, não assistimos uma obra-prima como alguns certamente esperavam, mas em meio a suas imperfeições e corajosas escolhas que podem decepcionar, Isayama entrega um final bem acima da média e em linha com suas mensagens, ao ponto de terminarmos o seriado com um senso de desolação, mesmo que entremeio a sorrisos com a resolução satisfatória da maioria dos arcos da animação.
Os Titãs deixarão saudades! Mas iremos falar mais deles, se quiserem, em outros textos. Nessa lista, faço o meu ranking dos episódios, do pior para o melhor, todos com as devidas críticas indicadas para leitura mais expandida. Deixe você também nos comentários a sua lista e diga o que achou, em geral, desta temporada!
13º Lugar: Ataque Surpresa
4X18
No mais, Ataque Surpresa tem uma dificuldade imensa em termos de direção, a mesma reclamação que citei no capítulo anterior. A proposta agora é guerra, então fico decepcionado em como visualmente a série está deixando a desejar. Seja novamente as péssimas coreografias ou a falta de criatividade com a câmera – sério, o que aconteceu com os planos aproximados acompanhando os humanos lutando em 3D nos DMT com ótimas manobras ou as lutas dos titãs que emulam combates práticos de um-contra-um? Eu sei que a Mappa está trabalhando contra o relógio, mas não tem como não apontar o quão artisticamente limitado o anime se tornou. O que dizer, então, daquela irritante sequência do Eren manco indo em direção ao Zeke paradinho no muro? O que me leva ao problema de enrolação do episódio, que facilmente poderia ter avançado mais rapidamente a narrativa para dar mais senso de dinamismo – é uma guerra! – e proporcionado mais progresso narrativo, principalmente considerando o fato de que têm muitos capítulos para cobrir em poucos episódios. Seria essa segunda parte apenas uma ponte para os possíveis filmes? É provável. Há o que se gostar nesse episódio, mas é bem aquém do que estamos acostumados em AoT.
12º Lugar: Julgamento
4X17
Se a direção da série é um tantinho decepcionante para um retorno em tese bombástico, o roteiro do episódio também não oferece grande substância. Julgamento tem um caráter extremamente introdutório, reorganizando núcleos de coadjuvantes e apresentando o provável mote da reta final: o encontro de Eren (Titã Fundador) e Zeke (Titã com sangue Real). Desde que Eren precisou fechar um portão com uma pedra lá na 1ª temporada, Isayama sempre prezou objetivos simplistas para sua narrativa labiríntica, então delinear logo de cara o “toque” entre os irmãos como fio condutor da trama faz muito sentido. Será interessante como os outros personagens circulam esse momento decisivo, desde o papel do contra-ataque de Marley, para onde a narrativa irá levar Gabi, o (óbvio) retorno de Levi, a explicação do “caminho”, até as decisões do grupo de amigos do protagonista. O desfecho do episódio traz ótimos conflitos dramáticos, como a desconfiança de Connie e Jean, a esperança de Armin, e, claro, o conflito interno de Mikasa – finalmente a personagem ganhando um arco narrativo pessoal e interessante. Mas especialmente oferece uma bem-vinda ambiguidade para Eren, deixando novos mistérios para os desdobramentos da série. Um episódio sólido, que não encanta, mas estabelece bem o arranjo narrativo e nos deixa curiosos para os próximos capítulos.
11º Lugar: Descongelamento
4X22
Por fim, meu texto pode parecer muito negativo por acentuar problemas, mas eu gostei do episódio. Ele é dramaticamente eficiente. Fiel às bases, conceitos e temas da série. Adoro a certa ironia (novamente) carregada na história, agora em relação a como os atos ditos “libertadores” por Eren acarretam num ataque a seu próprio povo – sério, quem ainda não enxerga o discurso moralmente deturpado, ativamente egoísta e ideologicamente vazio do protagonista, precisa rever alguns conceitos. É também um dos melhores e mais consistentes episódios em termos visuais da MAPPA nesta reta final da temporada. E traz bons fechamentos de arco, conflitos internos e uma reviravolta desejada pela audiência há muito tempo. Mas eu não consigo tirar o sentimento de que a série já passou desse ponto. De que Isayama deveria ter elaborado melhor a narrativa para o clímax ter vindo posteriormente ao que vemos exposto aqui, pois há uma sensação de que as melhores e mais interessantes partes do enredo já aconteceram. Mas veremos. Espero sinceramente que meus receios não se concretizem e que Attack on Titan entregue uma conclusão satisfatória neste novo arco que se inicia. Por enquanto, só parece um “mais do mesmo” eficiente.
10º Lugar: Orgulho
4X24
Por fim, Orgulho também me lembra os momentos do Esquadrão de Recrutas, com a dramaturgia da obra voltada para questões íntimas, pequenas dinâmicas e aventuras aleatórias, amizades sendo forjadas no compartilhamento de traumas e posteriormente as decepções que decorrem disso. Há um contexto de mitologia e uma bagagem emocional muito maior do que havia nos treinamentos, injetando melancolia nos encontros, então é de se apreciar Isayama dando enfoque mais no fator humano, até de certa forma com uma direção minimalista. Chega a ser irônico o quanto eu estava animado pelo desenrolar do clímax, para onde o anime iria com a pegada apocalíptica e o subtexto crítico da guerra, e agora mal posso esperar para esse grupo de assassinos sentar em volta de uma fogueira e começar uma terapia. Enfim, AoT. Vamos ver como o objetivo de salvar o mundo vai dar errado.
9º Lugar: O Alvorecer da Humanidade
4X28
Nos últimos episódios de Attack on Titan, após o apogeu em Paradis, tivemos um tratamento introspectivo sobre as pessoas que cercam a vida de Eren, suas diferentes reflexões, culpas e arrependimentos, mas com a presença do protagonista sendo uma constante na discussão. O Alvorecer da Humanidade, porém, é um olhar para o próprio Eren. Já tivemos isso anteriormente, mas como disse, o último episódio desta segunda parte funciona como uma grande recontextualização de Eren, dos pequenos indícios e impulsos que não notamos ou quisemos não notar, afinal, seria muito pessimista que o cara que bebe com amigos e quer protegê-los seja na verdade um genocida irreparável, não é mesmo? Assim sendo, o episódio que possivelmente aparenta ser meio cretino em nos dar mais um cliffhanger, me parece um ótimo desfecho de capítulo antes do verdadeiro ato final.
8º Lugar: Pôr do Sol
4X23
E falando em personagens femininas, Pôr do Sol traz o retorno da fabulosa Annie à Attack on Titan. Não sou muito fã do flashback expositivo da personagem (artifício comum e pobre em animes), preferindo algo mais em uníssono com a narrativa (como executado em Lembranças do Futuro), mas é realmente bacana ter mais background da personagem, que para mim é mil anos-luz mais interessante e complexa que a Mikasa. No mais, a minha crítica é uma declaração que, no momento, eu estava parcialmente errado. Ainda torço o nariz para a previsibilidade do dilema fútil de Connie em termos de suspense narrativo (é uma coerência boba demais pro meu gosto), mas o vigésimo terceiro episódio (assim como os ótimos debates e perspectivas com quem comenta) me mostraram como o encadeamento narrativo e dramático da obra ainda cativa em seu distanciamento do apogeu.
7º Lugar: Traidor
4X26
No mais, adorei a abordagem do episódio focado numa missão complicada, na execução de um plano feito de última hora e no escalonamento do estresse borbulhando até explodir nos gritos angustiantes de Connie. Como eu disse, há muita tensão e suspense, com ótimo estofo antagonista de Floch, cada vez mais interessante como vilão, mas também há um aspecto de ação militarista que proporciona um tom de aventura gostoso de acompanhar em seus desdobramentos dramáticos e de movimentação da trama. A diminuição de escopo ressalta a qualidade da direção, me lembrando a pegada da primeira metade do terceiro ano do anime, com o grupo capitaneado por Levi lutando dentro das muralhas, enfrentando inimigos humanos com muitas acrobacias de DMT. Não sei como será a trajetória da Resistência contra Eren, mas o caminho percorrido até aqui tem sido excelente.
6º Lugar: Os Capítulos Finais
4X29 e 30
É difícil colocar em palavras o tamanho de Shingeki no Kyojin para o universo de animes e da mídia televisiva como um todo, seu impacto permanente em como as animações japonesas podem almejar adaptações menos literais em termos formais e como o mundo de mangás pode ter histórias maduras no mainstream. Portanto, penso que a audiência irá demandar nada menos do que excelência dessa conclusão. Dessa forma, o desfecho certamente vai torcer o nariz de muitas pessoas, principalmente com a resolução simplista para Eren, mas é ainda mais difícil imaginar um desfecho mais apropriado para a história principal, por mais divisivo que possa parecer. Nossos personagens de destaque ganham ótimas resoluções de arcos dramáticos e os temas da produção recebem um encerramento ao mesmo tempo desolador e sorridente, com um olhar pessimista para a humanidade como um todo, mas sem descartar a beleza da esperança mesmo em face da improbabilidade. Ajuda bastante que essa substância dramática e temática tenha sido envolta por um clímax epicamente lindo e de um espetáculo visual de um legado colossal.
5º Lugar: A Noite do Fim
4X25
Por fim, A Noite do Fim foca bastante em Jean, sem dúvidas o personagem com mais profundidade dramática do episódio, seguido do sempre deprimido Reiner. Confesso que gostaria dos holofotes na
desperdiçadaMikasa neste momento, mas a escolha por Jean faz sentido narrativamente falando, trazendo o dilema de “fazer o que é certo” (o mais próximo que há disso na obra, pelo menos) que sempre assombrou o personagem desde que escolheu a Divisão do Reconhecimento ao invés da vida fácil na Polícia Militar. Nesse sentido, o roteiro se aproveita do foco em Jean e desenterra a morte do seu amigo Marco. Com o tempo limitado, seria impossível tocar em todos os traumas possíveis, então a atenção na relação com Marco, algo que toca em quase todos os personagens ali, pareceu ser a melhor escolha dramática e emocional. Minha principal reclamação, porém, é que não tivemos mais tempo ao redor da fogueira. Quem lê minhas críticas sabe que duvido da qualidade narrativa em torno da aliança enfrentando Eren, mas neste contexto de análise íntima que o episódio faz, eu só posso pedir mais. Em meio a tanta raiva e rancor vindo à tona, acredito que a melhor palavra para descrever A Noite do Fim seja vergonha… e, no meu pensamento esperançoso, compreensão.
4º Lugar: De Você, 2000 Mil Anos Atrás
4X21
Meu único receio em tudo isso é o que citei anteriormente, de não saber quanto mais Isayama pode explorar na obra. Eu sei que há mais alguns episódios (e possivelmente filmes), o que me preocupa bastante. Como disse, este episódio funciona como um fechamento para o primeiro episódio do anime, em que Eren mata o mundo todo e o ciclo recomeça dentro do próprio povo Eldiano, ou então alguém impede o protagonista (não vejo como), e da mesma forma a violência continua. Em suma, AoT não pode ter um desfecho feliz; muito menos algo na linha de um discurso amigo que faz Eren se arrepender ou então ele sendo derrotado e o resto do mundo se unindo pacificamente. A série parece caminhar para um pequeno arco final com os coadjuvantes remanescentes (Mikasa, Armin, Levi, Jean, Gabi, Reiner, etc) se juntando contra Eren, o que honestamente não vejo sendo narrativamente tão interessante. Mas é conversa para outro dia. Por enquanto, o arco de Eren é uma história trágica com ares shakespearianos, e Attack on Titan oferece excelência narrativa.
3º Lugar: Retrospectiva
4X27
Retrospectiva também soa como um fechamento de arco interno para o grupo que vimos reunido, com o sacrifício de Magath e o discurso de Annie concluindo as questões temáticas levantadas, também reforçando o objetivo coletivo dos personagens e sua aliança atrapalhada, com cada membro ganhando seu espaço de destaque para que agora possamos acompanhar o conflito direto contra Eren. Aliás, Mikasa ganha um pouco dos holofotes no episódio, sempre no campo de batalha, como Isayama costumeiramente reduz a co-protagonista. No entanto, além de gostar das encenações de combate da personagem, com, aliás, ótimo uso de sangue e um gore leve para enfatizar os atos obscuros do grupo, também gosto da possibilidade da escolha de matar Eren aparentemente se render às mãos da personagem e sua possível subserviência. Não crio expectativas, mas fico com os dedos cruzados que algo saia disso, considerando a indicação nas palavras de Annie. No mais, Retrospectiva falta aquele “a mais” para entrar no panteão de obras-primas do anime, mas é um grande espetáculo visual, dispondo de uma excelente trama de uma missão contra o tempo para salvar o mundo. Que venha Eren!
2º Lugar: Dois Irmãos
4X19
Para o tanto que eu reclamei da direção, é preciso aplaudir a transição do “toque” dos irmãos para o “Caminho”. Do slowmotion até aquela montagem bizarra, a animação oferece uma pegada surreal para a narrativa que me surpreendeu enormemente. Aliás, é curioso como, e eu já havia citado antes, a construção visual do “Caminho” é bem diferente do lado steampunk medieval e pós-apocalíptico da obra, adentrando uma linguagem surrealista, onírica e quase espiritual, deixando o lore da obra ainda mais intrigante. O mundo de Ymir é desolador e lindo em seu ambiente desértico sob a luz da aurora. E essa sequência retorna ao tema do episódio que é o relacionamento fraterno, com ótimos diálogos e um twist bem composto, seja por delinear as motivações de Zeke e Eren logicamente com suas personalidades, seja pela construção da leve desconfiança de Zeke até a traição dupla. Não sei se gosto tanto do artifício de Zeke “ter passado mais tempo lá”, mas é uma saída que compro para um desfecho climático, dentro de um episódio muito bem construído.
1º Lugar: Lembranças do Futuro
4X20
À medida que a narrativa vai se desenrolando nesse episódio, há uma ironia circulando a história, tanto de Zeke sendo surpreendido após levar Eren para as memórias de Grisha quanto do desenvolvimento de Eren enquanto catalisador. Mas é uma ironia trágica, construindo tensão sem ação, e sim através de um sentimento de inevitabilidade, como se estivéssemos caminhando para um momento trágico, muito bem pontuado pela trilha sonora crescente, indo da leve melancolia até o clímax estrondoso. No fim, o cinismo de Attack on Titan persevera, finalmente demonstrando que Eren nunca foi “o escolhido” para interromper a violência cíclica. Ele é apenas mais um perpetrador.