É muito comum encontrar cinéfilos que odeiam refilmagens, o que é completamente justificável. Tem obras que não podem, não precisam e não merecem ser refeitas; nem o cinema e nem o publico precisam disso. Só que alguns produtores teimam em refilmar essas obras, e na onda viral de não-inspiração que hoje vivemos, é cada vez mais comum encontrarmos remakes, todos eles contestáveis, nem que sejam por um único ponto.
No caso dos filmes de terror, essa questão é ainda mais chocante. O gênero trabalha com a surpresa imediata, e a refilmagem, mesmo que tenha suas características próprias de ver o original, tira isso do público. Mesmo que levemos em conta o relativismo cinéfilo (a refilmagem que é ruim para mim, não necessariamente é ruim para você), há coisas que parecem ser um consenso geral entre os que realmente entendem o que é cinema, não apenas o pipoqueiro bobo que gosta de ver imagens em tela grande, conversa na sessão e levanta 8 vezes durante o filme para ir ao banheiro, recarregar o pacote de pipoca ou o copão de Coca-Cola.
O Plano Crítico mais uma vez reuniu seus Homens Abomináveis e como resultado dessa reunião temos aqui a lista das piores refilmagens de filmes de terror para o cinema. Confira, opine, xingue, faça vodu, monte sua própria lista nos comentários, participe! E boa leitura!
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Sidnei, The Wicker Man
PSICOSE (1998 – remake do homônimo, de 1960). Psicose é um clássico tão famoso e tão querido do público que já inspirou um livro somente sobre seus bastidores (que foi a base do recente filme Hitchcock). A “homenagem” do diretor Gus Van Sant manteve enquadramentos e movimentos de câmera da versão original , mas resultou num remake totalmente desnecessário. A crítica não perdoou esta heresia e o filme foi um fracasso (merecido) nas bilheterias. Achou que o diretor aprendeu a lição que com clássicos não se mexe.
INVASORES DE CORPOS (1978) e INVASORES (2007) / remakes de VAMPIROS DE ALMAS (1956). Hollywood até que tentou, mas nem Invasores de Corpos (de Philip Kaufmann) nem muito menos Os Invasores chegou sequer aos pés do nível do filme original rodado na década de ’50. Perca seu preconceito em relação a filmes antigos e em preto-e-branco e descubra a matriz original deste clássico, misto de suspense, ficção-científica e horror. O diretor alemão Oliver Hischbiegel do segundo remake é o mesmo do excelente A Queda – Os Últimos Dias de Hitler. É, todos cometem erros…
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Ritter Evil Dead Fan
TODAS. Sim, galera, é isso mesmo que vocês leram. Considero todas as refilmagens de filmes de terror como piores. Vou além e diria que 99,9% das refilmagens são coisas desnecessárias, originadas unicamente na necessidade de “tropicalizar” filmes e, claro, tirar dinheiro do público bobalhão que vai a qualquer porcaria sempre, no lugar de procurar os clássicos. Ah, pode deixar que eu me incluo na categoria de “bobalhão”, mas, pelo menos, eu sei que estou sendo engrupido. Mas, especificamente sobre filmes de terror – e que os fãs do gênero me perdoem – há pouquíssimas obras-primas nessa categoria. Pouquíssimas MESMO! Estou falando daquelas obras imortais, que transcendem gostos e passam incólumes por décadas a fio. É Nosferatu (preciso dizer que é o primeiro?), O Gabinete do Doutor Caligari, O Bebê de Rosemary, O Iluminado e mais uma honrosa meia dúzia e olhe lá! O corolário disso é que todo o resto é só bom, com a MAIORIA sendo tenebrosa mesmo. Ô generozinho para produzir lixo, viu? Assim, como remake de porcaria é porcaria ao quadrado (muitas vezes ao cubo ou mais) e remake de clássico é heresia cuja pena deveria ser o empalamento público no estilo do Conde Vlad, em empacoto TODOS os remakes de terror na vala comum de “piores refilmagens”. Seu sangue está fervendo com o que escrevi? Pretendem me ameaçar com ratos mortos na porta de minha casa ou encantamentos demoníacos? Vão lá. Siga em frente! Como já diria Harry, o Sujo: “Go ahead, punk. Make my day.“
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Luiz “The Thing” Santiago
O SACRIFÍCIO (2006 – remake de O Homem de Palha, de 1973). Eu não conhecia essa abominação até recentemente, quando resolvi, sabe-se lá por quê, assistir o que fizeram com o original dos anos 70. E… o que foi que eu fiz? Primeiro, a presença cômica e de vergonha alheia de Nicolas Cage como Edward Malus, depois o roteiro e todas aquelas motivações tortuosas como caminho para o terror… Quanta bizarrice e falta de senso de ridículo para um filme só! O que defendo na obra (sim, tem uma coisa) é a fotografia. Eu realmente gostei do trabalho de Paul Sarossy nesse filme, mas infelizmente, é a única coisa no meio de lixo nuclear nível máximo, então, não tem como escapar, é com certeza um dos piores remakes de horror já feitos.
FRANKENSTEIN (todos os remakes sobre a origem da personagem feitos após o filme de 1931). Quem me conhece sabe da minha predileção por filmes clássicos, desconhecidos, B, Cult, trash, ostracizados, escanteados, esquecidos, esquisitos, etc etc etc., mas nesse caso é apenas uma questão de sanidade preferir a versão trintista de Frankenstein, não uma apenas predileção por clássicos. Não sou do time dos nostálgicos assassinos como o meu colega Ritter Evil Dead Fan, mas valorizo muito as primeiras vezes da sétima arte (se bem feitas, é claro, como na maioria das vezes são). O Frankenstein de 1931, digirido por James Whale, é uma obra-prima daquelas para ter em casa em lugar de honra. Vivido pelo imbatível Boris Karloff, O Monstro é um dos mais icônicos do cinema de terror, e o filme, a despeito das dificuldades técnicas de sua época, dá surra em muita produção milionária que vomita CGI hoje em dia…
COLHEITA MALDITA (2009 – remake do homônimo, de 1984). Eu ainda fico em dúvida quando penso em eleger um pior de todos: a refilmagem de O Homem de Palha ou a de A Colheita Maldita? Tudo bem que existem muitos candidatos na lista, mas fala sério, como alguém pode pensar em fazer filmes como esses? E olha que eu nem sou assim tããoooo fã da versão oitentista de A Colheita, mas essa de 2009 é de doer a alma, principalmente no que fizeram com as crianças. Tsc tsc tsc.
A CIDADE DOS AMALDIÇOADOS (1995 – remake de A Aldeia dos Amaldiçoados, de 1960). John Carpenter é um diretor de quem gosto muito. Alguns de seus filmes trazem uma atmosfera decadente, suja e violenta que geram boas histórias e uma sessão bastante densa, geralmente com resultados positivos. Mas A Cidade dos Amaldiçoados é fraco demais. E a coisa ainda fica pior quando percebemos que ele é a refilmagem do maravilhoso Aldeia dos Amaldiçoados, filme britânico de 1963, dirigido por Wolf Rilla. Não é mesmo um filme que eu odeie com todas as letras, mas comparado ao original, sem sombra de dúvidas tem todos os ingredientes para constar numa lista de piores remakes de terror.
A PROFECIA (2006 – remake do homônimo, de 1976). É simplesmente patético o “esforço” de John Moore para trazer novamente às telas o clássico de 1976, excelente filme de Richard Donner, que além do tema, tinha um elenco maravilhoso. O “novo filme” até que começa bem, mas aos poucos se perde e nunca mais se acha, tomando a terrível liberdade de adicionar elementos que só estragam ainda mais a história e filtram bastante o potencial psicológico de terror do original.
A CASA DA COLINA (1999 – remake de A Casa dos Maus Espíritos, de 1959). Tudo bem que o filme de 59 não seja uma maravilha da sétima arte, mas pelo menos é um bom filme e dá conta do recado, contando uma história aceitável e fazendo um tipo de horror interessante, algo que não acontece nessa versão de 99. Na trilha dos terrores adolescentes/jovens e grupos curiosos assombrados por ameaças do além, o diretor achou que seria uma boa ideia pegar um clássico e trazer para o presente, filmando com câmera torta e planos-parkinson. O resultado é certamente uma tremenda bobagem que faço questão de esquecer que um dia me dispus a ver.
A CASA AMALDIÇOADA (1999 – remake de Desafio do Além, de 1963). Ok, eu adoro terrores sobre casas mal assombradas. Adoro. E o filme de Robert Wise, de 1963, é um dos que eu tenho em alta conta. O enredo é bem simples à primeira vista, mas ao passo que o grupo vai descobrindo coisas ou que as coisas vão se revelando para o grupo, tudo fica intricado demais e digno de espanto. A refilmagem de 1999 traz um elenco pop, mas a qualidade não chega nem aos pés daquela conseguida por Wise em 63. Quem não viu a versão original, por favor, veja!