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Lista | As Nossas Melhores Leituras em 2021: Quadrinhos

Mais um ano de muitos quadrinhos.

por Luiz Santiago
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  • ATENÇÃO: As despedidas, votos finais e fofuras de encerramento do ano deixaremos para fazer no tradicional Editorial Plano Crítico, dia 31/12, como de costume.

Esta lista NÃO é apenas de leituras de obras lançadas em 2021, seja no Brasil, seja no exterior. Claro que podem aparecer obras lançadas neste ano, mas a proposta é apenas ranquear as nossas melhores leituras ou releituras de janeiro a dezembro, independente de quando o volume em questão chegou ao mercado.

Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica (quando há crítica, claro)! É só clicar nos links para ler os textos completos! Já deixo também o convite para vocês compartilharem nos comentários as suas listinhas de 10 melhores leituras de quadrinhos neste ano! E, caso queiram ver as nossas outras listas sobre o tema, cliquem aqui!

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LUIZ SANTIAGO

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Uma coisa que o ano de 2021 me provou, em definitivo, foi o fato de que eu enjoei completamente de quadrinhos de super-heróis. Talvez essa tenha sido a “parte 2” de uma tendência que eu vinha observando na minha lista anual de leituras: o fato de estar lendo cada vez menos quadrinhos (e ainda assim, terminar o ano com centenas de quadrinhos lidos). Em anos anteriores, mesmo tendo percebido essa diminuição de quantidade, havia uma fatia gorda de obras de super-heróis, talvez uns 80 ou 85% de tudo o que eu lia. Hoje, quadrinhos de super-heróis marcam no máximo uns 20% das minhas leituras anuais de quadrinhos. Eu ainda leio, claro, mas é bem menos do que lia no passado.

Confesso que não tenho mais tanto gosto por esse gênero. Poucas semanas antes de compor essa lista, quis pegar alguma coisa do Batman atual (2021) pra ler. Daí me deparei com nomes de eventos que não estava acompanhando, saga de não-sei-o-quê, prelúdio de não-se-de-onde… perdi completamente a vontade de novo. Tenho lido mais quadrinhos antigos, sem frescura nenhuma de acompanhar detalhadamente o que vem acontecendo em todo aquele período. Ou coisas ligadas a eventos que eu já conheço (Na DC, parei de acompanhar em Renascimento. Na Marvel, em Guerra Civil). Se antes, isso “só” me incomodava imensamente, hoje é basicamente o empurrão final que me afaste grandiosamente desse tipo de leitura. O que eu não reclamo, porque quadrinhos fora desse mundo — ou pelo menos nesse mundo, mas sem as zilhões de peculiaridades de continuidade, como os “quadrinhos de Super” em editoras que não seja Marvel e DC, por exemplo — é o que não falta. E tenho estado muitíssimo bem servido deles nos últimos anos.

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10º – Mister No: Dark Lady

Itália, 1991

À parte esse lado da trama ligada a Esse Esse, Dark Lady é uma história que sabe mesclar muito bem diferentes níveis de ação, um pouco de suspense e uma nota bem abrasileirada de confusão, vagabundagem, fofoca e criminalidade. Já falei em outras críticas dessa série e volto a repetir aqui: é impressionante como Guido Nolitta consegue passar muito bem o sabor brasileiro para suas histórias. É fato que compartilhamos certos aspectos culturais com os italianos, mas a maneira como Nolitta escreve é tão autêntica que passaria tranquilamente por um autor nacional da época escrevendo para esse icônico personagem. E isso é um baita elogio.

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9º – Dreadstar Returns

EUA, 2021

Conhecendo o autor, não era possível esperar uma aventura que entregasse tudo o que fosse possível de uma vez só. A bem da verdade, Dreadstar Returns concentra um nível alto de recriação de problemáticas, e isso é algo aplaudível. Mesmo a simplicidade com que o problema inicial é tratado, ao fim, tem uma grande força, por estar aliado a eventos e pessoas do passado da série, um passado que Starlin referencia, homenageia, mas se recusa a fazer-se refém dele. Uma melhor interação entre a primeira e a segunda parte da história poderia trazer maiores benefícios para o volume como um todo, mas o que temos nessa edição é um retorno que faz jus ao personagem e agora só me resta rogar ao Universo para que o Mestre Starlin viva ainda por muitos e muitos anos e dê continuidade ao ciclo que aqui se reinicia.

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8º – Lilith: O Fronte de Pedra

Itália, 2009

Fico extremamente ansioso para ver esse véu se descortinar e tornar a missão de Lilith não apenas uma coleção de dilemas ético-morais, mas também uma missão que pode fazer a personagem se questionar se vale mesmo realizar algo para salvar a humanidade. Afinal de contas, o que o cardo diz sobre os humanos não é mentira. Nós somos uma espécie destruidora e, mais dia menos dia, iríamos encontrar alguém para parar a gente, não é mesmo?

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7º – O Mundo de Edena: Os Jardins de Edena

França, 1988

Em Os Jardins de Edena, Moebius nos faz refletir sobre o isolamento, sobre estar perdido em um lugar onde se tem muita coisa para aprender, mas onde há grande resistência inicial dos aprendizes, quebrada apenas pela passagem do tempo. É um quadrinho sobre deixar-se despir de ideias e comportamentos “civilizados” para adentrar a uma esfera de conhecimento anteriormente inalcançável. Em certa medida, pode ser considerada uma espécie de metáfora para a vida após a morte, para a adaptação de um corpo a um outro plano (o plano espiritual), lugar onde muito aprendizado deve acontecer à medida que vícios e chagas da “outra vida” são curadas.

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6º – Nathan Never: Terra Queimada e Os Predadores do Deserto

Itália, 1992

A defesa de uma posição de poder, o choque entre uma visão puramente exploradora e outra que pretende tirar da natureza apenas aquilo que vai consumir (outra dinâmica de faroeste, tendo a visão de mundo dos colonos versus a visão de mundo dos indígenas) fazem de Terra Queimada e Os Predadores do Deserto um arco crítico, atemporal, com eventos que podemos facilmente ver acontecendo no futuro — para diversos tipos de recursos naturais — e que vemos acontecer em todos os lugares no tempo presente. Como toda boa ficção científica, é uma história que fala muito mais sobre o momento em que foi escrita do que necessariamente sobre o que está por vir. O que é algo bastante triste, se a gente parar para pensar. Mas também é algo que gera uma luz de esperança, de possibilidade de mudança para que não cheguemos a tal ponto no futuro.

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5º – Martin Mystère: Operação Arca

Itália, 1982

Crítica à forma como os Estados Unidos guia as suas investigações e como tratam os seus agentes — muitas vezes utilizados apenas como peças descartáveis “para um bem nacional” — e o jogo com a perspectiva dúbia do personagem principal dão o tom do encerramento do volume. Assim como tivemos em A Vingança de Rá, o autor lida com possibilidades aqui, dando brechas para que o leitor entenda à sua maneira o que de fato aconteceu — de minha parte, achei a ideia da arca real mas puramente tecnológica, algo maravilhoso. Os últimos quadros, porém, deixam claro que pelo menos alguma coisa eles encontraram ali no Ararat. Algo que Java certamente está muito feliz em guardar para si mesmo, enquanto Martin Mystère volta à angústia de não ter certeza de nada sobre esse assunto.

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4º – Dampyr: Sob a Ponte de Pedra

Itália, 2000

Em Sob a Ponte de Pedra, vivemos uma fantasia cheia de referências histórias, com uma arte (de Luca Rossi, que começou na série em Fantasmas de Areia, e que aqui está mais à vontade para criar distorções e imagens assustadoras) que não se faz de rogada ao adotar a base da estética expressionista, abertamente referenciada no texto. É uma história importante para o cânone de Dampyr, mas mais do que isso, é uma história que faz um dos melhores usos que eu já vi nos quadrinhos da geografia e das possibilidades históricas, simbólicas e visuais que um território pode ter. Uma daquelas histórias que dá até orgulho de falar que a gente leu.

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3º – Sandman: A Casa de Bonecas

EUA, 1989 – 1990

A Casa de Bonecas é uma representação da vida em miniatura, em um momento de crise. Nela encontramos uma fauna rica de personagens que atravessam a nossa existência e que não fazem ideia daquilo que podemos ser. Às vezes nem nós sabemos sobre o nosso potencial destrutivo, como a personagem-Vórtice do arco, com sua vida de cabeça para baixo sem saber o que estava de fato acontecendo ao seu redor. Neil Gaiman reflete sobre sonhos de grandeza, sobre causar dor aos outros e sobre tentar fugir (dormindo ou acordado) das dores que sofremos. É um arco bastante inteligente na maneira como apresenta novos Perpétuos e na maneira como explora mais algumas camadas da vida sob o ponto de vista da cultura e da arte. Um presente denso e reflexivo que costura o nosso cotidiano à fantasia onírica e cheia de significados, num enredo difícil de superar.

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2º – Júlia Kendall: Jerry Desapareceu

Itália, 1999

Esta é a sensação que nos toma ao final de Jerry Desapareceu. Uma mistura de ódio, nojo e pesar compõem a conclusão do caso e carregam a nota de banalidade que sombreia ainda mais o crime, se é que isso é possível. O tipo de ato que não deve deixar ninguém “acostumado” com ele, mas no mundo em que vivemos (e notem que esta história é de 1999!) cada vez mais caímos nesse barranco. É tanta tragédia, tantos atos vis, em tantos lugares e tão continuamente, que de certa forma ficamos anestesiados diante das novas notícias sanguinárias. Manter a sensibilidade diante disso (que é a proposta de Júlia para Webb) é a coisa mais difícil e mais essencial a se fazer.

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1º – A Última História de Galactus

EUA, 1984 – 1985

Infelizmente John Byrne não conseguiu colocar um ponto final oficial neste trabalho. Em 15 de fevereiro de 2005, em resposta a uma pergunta feita em seu Fórum, o autor confirmou que esta aventura terminaria com uma luta de Eras e Eras entre Galactus e o Vigia (não Uatu!) e, num rompante de raiva para garantir sua vitória, o comedor de planetas sugaria toda a energia que ainda restava do Universo e quebraria a sua armadura, retiraria o seu capacete e toda a energia absorvida seria liberada. Isso mataria o Vigia, criaria uma nova Galactus (a antiga Nova II) e seria o Big Bang de um novo Universo… Chega a ser poético e asimoviano de tão lindo!


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