- ATENÇÃO: As despedidas, votos finais e fofuras de encerramento do ano deixaremos para fazer no tradicional Editorial Plano Crítico, dia 31/12, como de costume.
Esta lista NÃO é apenas de leituras de obras lançadas em 2020, seja no Brasil, seja no exterior. Claro que podem aparecer obras lançadas neste ano, mas a proposta é apenas ranquear as nossas melhores leituras ou releituras de janeiro a dezembro, independente de quando o volume em questão chegou ao mercado.
Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica! É só clicar nos links para ler os textos completos! Já deixo também o convite para vocês compartilharem nos comentários as suas listinhas de 10 melhores leituras de quadrinhos neste ano! E, caso queiram ver as nossas outras listas sobre o tema, cliquem aqui!
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LUIZ SANTIAGO
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Neste ano de 2020 eu experimentei uma ressaca que acredito nunca ter sentido antes. Uma ressaca de leitura de quadrinhos. E eu considero uma ressaca porque a minha quantidade de quadrinhos lidos nos anos anteriores foi sempre bem grande. Esta é uma mídia que eu consumo desde a infância e que devoro até hoje. Este ano, porém, li uma quantidade bem menor do que estou acostumado (meu goodreads me diz que foram 61, sendo a maioria deles entre janeiro e março, ou seja, pré-isolamento social). Parece que passei pelo mesmo moedor que o Ritter: mantive minha média de livros, mas a média de quadrinhos despencou. Assim, fazer a lista de melhores HQs lidas em 2020 foi bem mais fácil que fazer a do ano passado.
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10º – O Que Aconteceria Se…
o Mestre do Kung Fu Fosse um Fora-da-lei?
EUA, 1979
Quando a grande virada moral da história acontece, o leitor consegue entender perfeitamente os motivos do protagonista e acompanha com gosto as justificativas e a forma como essa nova realidade vem à tona. Sua visão de preservação da vida é muitíssimo coerente, como se pode ver na página que destaco aqui no corpo do texto, uma das coisas mais legais que já encontrei num quadrinho falando sobre esse tema e que, como se sabe, podemos atribuir a assuntos correlatos bastante complexos e que muitas polêmicas geram em nossos dias. Uma fantástica saga de luta e reavaliação moral.
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9º – Lilith: O Sinal do Triacanto
Itália, 2008
A pesquisa histórica de Luca Enoch é muito precisa e ele trabalha com bastante cuidado o evento principal em jogo, alertando para o fato de que Lilith não pode alterar as coisas que vê, não pode se envolver em nenhum tipo de luta… mas é claro que ela não segue esse mandamento à risca. E é isso que torna a personagem ainda mais interessante. Ela viaja no tempo, tem uma missão sombria e ao mesmo tempo salvadora para a humanidade, mas em muitos momentos age sob um código fora do protocolo. O Sinal do Triacanto é uma aventura que mescla sci fi com misticismo, gore, terror, uma espécie de messianismo, História e distopia. Um conceito fascinante com uma protagonista de peso em cena.
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8º – Valérian e Laureline: Bem-vindos a Alflolol
França, 1971 – 1972
Com uma arte sempre maravilhosa, criando com muito cuidado as diversas linhas de produção e os diversos biomas de ‘Technorog’, além de trazer um tema que faz parte de grandes discussões de nosso tempo, Bem-vindos a Alflolol convida-nos a pensar sobre os limites e os caminhos de progresso, e como certos projetos de crescimento não são ruins apenas para nativos ou povos/indivíduos diretamente ligados “à causa“, mas para absolutamente todos. A diferença é que alguns grupos demorarão tanto para assumirem que existe um problema nisso, que só verão o estrago quando o próprio quintal for atingido. E aí, como já se tem visto em diversos recortes pelo mundo afora, será tarde demais.
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7º – Conto de Areia
EUA, 2011
Muita gente conhece o nome de Jim Henson por conta de sua criação mais popular, Os Muppets, e também o nome de Jerry Juhl por estar ligado a este Universo dos fantoches e ter trabalhado com Henson por muitos anos. O que pouca gente sabe é que a dupla escreveu e revisou por diversas vezes um roteiro para um longa-metragem chamado Tale of Sand. Henson teve a ideia para esse filme em meados dos anos 1950 e até o final da década seguinte esteve em um curioso processo de criação, juntamente com Juhl, construindo uma história onde Mac, o protagonista, está envolvido numa corrida pelo deserto, sendo perseguido por “Patch” um misterioso homem com um tapa-olho.
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6º – Valérian e Laureline: Os Pássaros do Mestre
França, 1973
O processo “revolucionário” exposto no quadrinho vem com uma boa dose de humor e aventura, como é típico dos volumes da série. O foco é claro desde o começo (a dupla protagonista foi “capturada” por uma força estranha do asteroide, atolou num pântano e não conseguiu mais decolar, assim como acontecera com centenas de outras naves) e o autor explora questões sociais ao lado de questões pessoais, tanto psicológicas quanto físicas, escancarando a pergunta “como é possível lutar contra um sistema se o indivíduo precisa trabalhar para não ser punido e depois só tem fome e cansaço?“. Aliado a essa questão, há a desesperança e a alienação pura e simples de alguns. Uma história que, em diversos aspectos, por mais triste que seja, se encaixa com perfeição em inúmeros arranjos sociais do nosso mundo contemporâneo.
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5º – Dylan Dog: Através do Espelho
Itália, 1987
O que temos aqui é uma junção de visões e histórias sobre a morte, costuradas de maneira bastante inteligente. Alguns momentos podem até representar uma dispersão da trama central, mas ainda assim obedecem à lógica da história como um todo. Através do Espelho é uma daquelas aventuras que fazem a gente ter medo do nosso próprio reflexo, depois de lê-la. Ou de tirar fotos. Ou de pensar no reloginho da vida que não para de tiquetaquear para todos nós.
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4º – Steampunk Ladies: Choque do Futuro
Brasil, 2019
Com um trabalho de ambientação excelente aqui em Steampunk Ladies: Choque do Futuro, Zé Wellington mais uma vez trabalha a ficção científica de forma divertida e criticamente relevante, ingredientes também observados em outra de suas histórias, Cangaço Overdrive (2018), e que vemos agora chegar a um Reino Unido governado pela Rainha Vitória, numa típica história de “passado tecnológico em crise” que nunca aconteceu.
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3º – Nathan Never: Fuzileiros do Espaço e A Última Batalha
Itália, 1992
Cheia de excelentes momentos de luta, fuga e suspense ao longo da investigação, o arco mantém o alto nível da série até o momento, com todas as doze histórias sempre acima de “muito bom“. Uma trama de caráter político, em seu alcance maior, mas com um enredo disposto a discutir um problema ideológico capaz de intoxicar qualquer mente sugestionável e moral questionável: garantir a suposta vitória ou suposto sucesso de uma iniciativa através da mentira para a imprensa, da adulteração de documentos, de assassinatos encobertos e, no fim, sempre em nome de um “ideal maior”, o amor ao pedaço de terra onde se nasceu. Quem diria, não é, Samuel Johnson? Eis aí o momento onde “O patriotismo é o último refúgio do canalha“.
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2º – Júlia Kendall: Os Reféns
Itália, 1999
Neste quinto capítulo da série Aventuras de uma Criminóloga, o roteiristas Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero abordam o caso de um comando de ex-soldados que mantém a família de um joalheiro como refém, para forçá-lo a abrir o cofre da loja. A operação é narrada como uma instigante história de ação, investigação e suspense — e traz pela primeira vez uma mulher, Laura Zuccheri, ilustrando uma história de Júlia Kendall –, também mesclando organicamente o grande problema do volume com dramas menores, seja para a vida da criminóloga, seja para os reféns ou os sequestradores.
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1º – Harleen
EUA, 2020
O desfecho marcante traz a bofetada final de repreensão para todos os muito inocentes ou insanos que acham bonitinho romantizar o “tough love” entre Arlequina e Coringa. Uma história que retrata relações e comportamentos de descida de muitos indivíduos ao seu próprio inferno psicológico… para de lá, infelizmente, nunca mais sair.