- ATENÇÃO: As despedidas, votos finais e fofuras de encerramento do ano deixaremos para fazer no tradicional Editorial Plano Crítico, dia 31/12, como de costume.
Esta lista NÃO é apenas de leituras de obras lançadas em 2020, seja no Brasil, seja no exterior. Claro que podem aparecer obras lançadas neste ano, mas a proposta é apenas ranquear as nossas melhores leituras ou releituras de janeiro a dezembro, independente de quando o volume em questão chegou ao mercado.
Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica! É só clicar nos links para ler os textos completos! Já deixo também o convite para vocês compartilharem nos comentários as suas listinhas de 10 melhores leituras de livros neste ano! E caso queiram ver as nossas outras listas sobre o tema, clique aqui!
LUIZ SANTIAGO
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Este foi um ano em que retornei para a literatura policial, relembrando uma grande paixão da juventude. Quatro indicações dessa lista são suspenses/policiais e provam bem como foi a minha jornada literária neste 2020. Mas acho que a grande diferença que ocorreu neste meu ano de leituras foi embarcar no Universo de Perry Rhodan. Li os 10 primeiros livros da saga e dois deles apareceram aqui na lista. E o melhor de tudo: viciei mais um colega aqui do site! Vejam a lista do Kevin! Hehehehe.
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10º – Ódio Mortal
Ed McBain – EUA, 1956
O ditado popular “as aparências enganam” é um que cai como uma luva em Ódio Mortal. Mesmo se tratando de uma história de procedimento policial é possível ver aqui fortes notas de noir e um encerramento que flerta com a ação da femme fatale, pegando o leitor de surpresa e mostrando como a banalidade do mal age no cotidiano de uma grande cidade. Um baita início para uma série que lidaria com a violência urbana a partir do olhar daqueles profissionais que têm contato com essa realidade todos os dias.
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9º – O Cavalariço da Providence
Georges Simenon – Bélgica, 1931
Quando a revelação acontece, o leitor imagina que a obra começará a cair de qualidade, porque temos ainda algumas páginas pela frente. Mas não é isso que acontece. Tanto a base para o motivo do crime quanto a exploração mais intensa da personalidade do assassino, sua vida e sua visão de mundo são apresentados de maneira hábil por Simenon, fazendo do final da aventura uma espécie de elegia que se costura com solenidade e uma amarga paz ao encerramento das investigações. O Cavalariço da Providence é o tipo de livro policial que bebe muito do melodrama e que não se ressente em expor demais os seus personagens a fraquezas e às coisas mais mundanas possíveis. Um daqueles casos que a gente poderia muito bem ter acesso pelos noticiários ou por fofocas de cidade pequena.
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8º – Tutto Fellini
Sam Stourdzé – França, 2009
Com informações muito valiosas sobre a relação de Fellini como seus roteiristas e parceiros de longa data, com a esposa Giulietta Masina, com o escritor Georges Simenon (temos aqui trechos de cartas escritas por Fellini ao amigo belga — cartas essas compiladas no livro Carissimo Simenon: Mon cher Fellini) e o quadrinista Milo Manara (que trabalhou com Fellini em duas ocasiões: Viagem a Tulum e A Viagem de G. Mastorna, Dito Fernet) e ainda a relação de longa data com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg (explorando, inclusive, muitas coisas sobre a produção, legado e interpretações de A Doce Vida e Entrevista) o catálogo serve como uma ótima introdução para qualquer um que queira mergulhar ainda mais no Universo felliniano, e certamente trará, nem que seja na parte imagética, muitos detalhes valiosos sobre a obra do diretor. Um catálogo curto, simples, mas muito valioso.
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7º – A Abóbada Energética
K. H. Scheer – Alemanha, 1961
A Abóbada Energética é um teste de resistência. Um livro sobre uma ação conjunta da humanidade, a primeira sob uma perspectiva de “paz entre os povos“, numa união para destruir um inimigo. É uma ótima forma de mostrar como as coisas se aquietaram e também juntar em um único espaço ou intenção todos os personagens importantes da saga até o momento. Claramente começa o estabelecimento verdadeiro da Terceira Potência e os primeiros passos de uma nova Era de desenvolvimento para os humanos. Da obra, meu único “senão” está no tratamento dado para a primeira comunicação afrontosa de Rhodan com Thora.
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6º – A Cabeça de um Homem
Georges Simenon – Bélgica, 1931
Maigret encontra nessa ocasião um inimigo muitíssimo astuto, e o leitor irá passar por pistas falsas e por narrativas que estão apenas parcialmente relacionadas ao caso principal, o que nos faz perguntar um bom número de coisas, mas mais do que isso, nos faz observar de perto o pensamento e o comportamento de diferentes mentes afiadas trabalhando para diferentes fins. A Cabeça de um Homem é uma história sobre a busca pela justiça de um lado e sobre o exercício da maldade de outro. Um livro sobre um gênio do crime que até à última página consegue entrar na mente do homem da lei e assustá-lo. Uma trama instigante e, pela forma como termina, verdadeiramente assustadora.
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5º – Missão Stardust
K. H. Scheer – Alemanha, 1961
Eu sou o tipo de pessoa que dá bola para indicações. É claro que isso não significa consumo imediato da coisa indicada, mas eu sempre pesquiso sobre as coisas que me indicam. E essa pesquisa serve para eu ver onde a obra indicada se encaixa na minha lista de prioridades de consumo. Se eu realmente me interesso em conferir a indicação (às vezes ela não bate com o santo, acontece), procuro organizar e entender se ela vai para a lista de “um dia eu vejo, mas não sei quando“; se vai para a lista de “verei assim que outras urgências forem zeradas” ou se vai para a lista de “verei imediatamente“, o que é algo raro e só acontece com obras que de imediato me despertam imensa curiosidade. Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu quando uma leitora aqui do PC me indicou a leitura de Perry Rhodan.
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4º – O Comprador de Fazendas
Monteiro Lobato – Brasil, 1917
Junto de Urupês, O Comprador de Fazendas está entre as produções mais famosas de Monteiro Lobato (fora suas obras infantojuvenis), seguindo aquela linha de olhar crítico, admoestador e birrento que ele tinha para com o homem do campo. O conto, no entanto, é uma deliciosa comédia com toques não tão divertidos de realismo, pois a inspiração em diversos casos reais mostra que a atitude do falso comprador de fazendas já deixou muitos fazendeiros (também malandros) de cabelo em pé e em situação financeira ainda pior.
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3º – Harakashy e as Escolas de Java
Lima Barreto – Brasil, 1920
Se em O Homem Que Sabia Javanês Lima Barreto soltou o verbo em torno da hipocrisia dos laureados e louvados sem merecimento, aqui em Harakashy e as Escolas de Java, escrito 9 anos depois, ele volta ao tema ainda com mais força, genialidade e veneno. Harakashy, amigo do narrador, só aparece mesmo no final. A obra, pois, consiste em um relato que atravessa diversos estágios emocionais e aborda o peculiar método educacional de Java, que bem pode ser qualquer lugar do mundo onde um diploma, mesmo para aqueles que se formam sem saber nada, vale muito mais do que qualquer conhecimento de fato.
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2º – Testemunha de Acusação
Agatha Christie – Reino Unido, 1925
Testemunha de Acusação é certamente um dos contos mais conhecidos de Agatha Christie (e cuja fama seria engordada pela adaptação que a própria autora faria dele para o teatro). A obra foi publicada originalmente em uma revista, nos Estados Unidos (sob o título Traitor’s Hands), em janeiro de 1925, e foi um grande sucesso. Sua publicação no Reino Unido aconteceria apenas em 1933, na coletânea de contos O Cão da Morte.
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1º – O Chamado Selvagem
Jack London – EUA, 1903
O final do livro é de cortar o coração, mas também traz uma alegria difícil de exprimir. Buck completa a sua jornada de cão civilizado para um cão primitivo, que está profundamente conectado com a floresta e que dela tira não apenas o seu alimento, a sua água, a sua diversão, mas também o verdadeiro sentido de sua existência. Um sentido mascarado pela domesticação e só após muito sangue, porretes, machados, presas e dores é que foi descortinado nele. As visões ancestrais podem incomodar alguns leitores, mas para a proposta do livro, faz o mais absoluto sentido delas existirem. Buck agora tinha voltado para casa de corpo e alma. Ele atendeu ao chamado selvagem. E se tornou uma lenda.