Home Colunas Lista | American Crime Story – 3ª Temporada (Impeachment): Os Episódios Ranqueados

Lista | American Crime Story – 3ª Temporada (Impeachment): Os Episódios Ranqueados

Uma temporada completa e incompleta.

por Iann Jeliel
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Nota da temporada (Não é uma Média):

  • Contém SPOILERS. Veja aqui, as críticas de nosso material da série.

Impeachment traz as melhores características das duas outras temporadas de American Crime Story com uma sintonia um tanto desajeitada. Há a espetacularização divertida na emulação audiovisual de um dos casos jurídico/político mais polêmicos da História americana (ao lado de O.J Simpson) com a energia semelhante do que foi acompanhá-los à época, em contraste a uma narrativa cinematograficamente mais cadenciada, com construção dramática espelhada e não unilateral dos seus personagens centrais: Monica Lewinsky (Beanie Feldstein), Linda Tripp (Sarah Paulson) e Bill Clinton (Clive Owen).

Por um lado, é interessante a fuga de algo documental para promover certas liberdades criativas que potencializam o impacto dos eventos narrados – os maiores destaques foram as conversas no telefone entre Linda e Monica, o jantar que Linda estava sendo escoltado e, obviamente, o episódio em que Monica é intimada pelos advogados – e as consequências psicológicas posteriores – o quanto a cobertura midiática afetou as relações interpessoais de cada um. Por outro, há um sentimento de incompletude inevitável ao deixar todo o enfoque na mesma trinca de personagens mencionada, pensando que a centralização temática visava a maior valorização do ponto de vista das vítimas dos abusos sexuais e manipulações da autoridade máxima estadunidense.

Mesmo reservando muitas cenas longas (e até mesmo um episódio inteiro no caso da primeira-dama) para outras mulheres que sofreram nas mãos de Clinton, como Paula Jones (Annaleigh Ashford) e sua esposa Hillary (Edie Falco) terem direito a voz também, as demais (até Paula e Hillary inclusas) ficam relegadas a um papel terciário de contextualização histórica, assim como as figuras envolvidas a fundo na cobertura jornalística. Portanto, fica um gostinho de contradições na produção, o  que não esvazia uma experiência que, enquanto encenação, parece completa e é bastante envolvente pelo capricho na caracterização (elenco inteiro excelente) e parte técnica auxiliando a complementar a contação da história através da imagem.

De modo geral, para mim, Impeachment está abaixo de O Povo Contra O.J Simpson, mas à  frente de O Assassinato de Gianni Versace (que seria em número 3 HAL’s, nota que quase dou para essa aqui também depois de refletir mais sobre ela como um todo), graças à  sua maior regularidade até o fim. Isso posto, fiquem agora com nosso tradicional ranking dos episódios (sempre ao final de nossas coberturas semanais), ordenando-os do pior ao melhor. Comentem qual seria a sua ordem e deixe o seu palpite (sugestão) sobre qual a próxima história de crime para uma quarta (ou outra) temporada da antologia!

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10º Lugar: The President Kissed Me
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Mesmo sabendo que a intenção não é ser jornalística, a falta de detalhismo das circunstâncias, tanto nas narrações de Mônica confessando o envolvimento com o presidente para Linda Tripp (Sarah Paulson), quanto na imagética das cenas escolhidas para representar esses encontros – a tensão sexual é evidente, mas precisava ser mais explicita e não só aparentemente cínica –, abrem margem para algum desprevenido comprar o lado do abusador, também sobre projeção de futuro acompanhamento. É complicado porque parece um “problema” inerente pela escolha da fragmentação da história, que através da divisão, cumpri seu papel em trazer o sentimento que era de total desconfiança as intenções de Mônica, geralmente chamada de aproveitadora.

The President Kissed Me.

9º Lugar: Exiles
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Nesse ponto, Ryan Murphy propõe, através do olhar dessa persona importante, somente desdobramentos futuros na história, essa redoma inicialmente misteriosa sobre a premissa – os primeiros dez minutos iniciados na confusão após as confissões de Monica, a serem retomados retroativamente em linearidade nos próximos capítulos – para sustentar a atenção da trama sobre a linguagem de emulação do contexto de época. Contexto esse que num primeiro momento, como é demonstrado pelo episódio, partia de um olhar de desconfiança sobre as vítimas, ou olhava para as acusações destiladas ao presidente muito mais como um material para uma guerra interna política. Clinton nem de longe era querido nos corredores da Casa Branca, e o episódio analisa esse cenário através de Tripp, desenvolvendo suas motivações particulares de maneira simbólica.

Exiles.

8º Lugar: Not To Be Believed
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Aquela perspectiva passada pelo anterior, “romantizando” o presidente, acabou sendo uma impressão mesmo, pois já é completamente contornada na ótima sequência do “término”. Junto a outros fatores inseridos no capítulo, tais como a decisão unânime do senado dele poder ser processado por Jones, vão ressignificando a figura, destravando seu lado incisivo, mesmo que ainda ainda o deixando humanizado, para acreditarmos que Monica ainda cairia na sua lábia ao final. Contudo, para nós, público, a postura imageticamente manipuladora fica destacada com maior nitidez. Tanto dele, quanto de Tripp, embora essa tenha valores e motivações mais justas e bem desdenhadas no subentendido do texto.

Not To Be Believed.

7º Lugar: The Wilderness
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O papel era gigantesco, descrevendo inúmeras outras situações não mostradas e comentadas na série. Podia-se escolher algumas delas para serem brevemente mencionadas, mas em vez  disso, The Wilderness gasta esse tempo reforçando as que já nos foram contadas para mostrar outros personagens descobrindo-as, sendo que suas reações também não acrescentariam nada que já não tínhamos visto também. Talvez, a exceção seja ver como Clinton reagiu ao saber por Hillary (Edie Falco) que sua filha Chelsea (Anastasia Barkow) leu o texto. Ao menos a segunda metade consegue ser bem mais interessante, ao explorar a ressignificação particular de Monica aos seus traumas.

The Wilderness.

6º Lugar: The Assassination of Monica Lewinsky
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O tom da fala “Eu não tive relações sexuais com aquela mulher” é completamente diferente do desconforto meio seco da linha parecida que ele solta no depoimento gravado. A força enfática dada a esta, do final, traz o peso do arrependimento, revelando nas entrelinhas que Monica não significava nada verdadeiramente para ele. Esse é o momento em que ele “assassina” Lewinsky. Quer dizer, fica sugerido no seu “desabamento” após assistir essa fala, no tom que Clinton colocou, que ela percebeu ter sido usada por ele. Contudo, fica em aberto se esse desamparo não foi somente uma consequente “gota d’água” após ter passado o dia inteiro acompanhando programas que a escracham, paparazzis “enchendo o saco”, cercando o local onde estava, noticiários espalhando sua história vinte e quatro horas…

The Assassination of Monica Lewinsky.

5º Lugar: The Telephone Hour
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Se antes a ambiguidade da personagem era motivo de curiosidade no telespectador para saber seu real sentimento, agora ela é convertida em informações que se comportam como nuances dramáticas. Suas reações a cada novo telefonema de relatos de Monica vão permeando da empatia à pena, passando por vários momentos de impaciência, até explodir na derradeira chamada em que ela desabafa e “faz as pazes” consigo mesma para tomar sua decisão. Tripp claramente se importa com Monica, sua vulnerabilidade é motivo de espelhamento à própria, que precisou criar uma casca para sobreviver às sujeiras do mundo político ao qual aceitou pertencer. Contudo, essa casca não é isenta do orgulho, pelo contrário, o orgulho é o que a sustenta, logo, torna-se maior do que a sensibilidade de ser a única ouvidora e conselheira possível de Monica, em seus ciclos abusivos com Clinton (Clive Owen).

The Telephone Hour.

4º Lugar: Stand by Your Man
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Não era a  negação de uma realidade defendê-lo, pelo contrário, era a aceitação dela em prol da continuidade do comprometimento político e emocional do casal. A primeira-dama encobria o marido para além de manter-se numa posição privilegiada de poder pelo conjunto. Ela realmente acreditava que a união dos dois era a força que o país precisava, tanto que sacrificava sua imagem pessoal para que os dois saíssem maiores da situação. A traição por ela sentida vai muito mais pela mentira de Bill do que por descobrir que o envolvimento dele com Mônica era real. Em um diálogo do episódio passado ela deixava claro que não haveria problema se ele admitisse. Como ele não admitiu, por medo de perder a confiança de um escudo por tantas outras ocasiões, o casamento “cairia por terra” internamente, pois Hillary sai execrada pela população por defender um erro que não cometeu (tendo que sustentar isso depois, sem querer, após saber da mentira), enquanto Bill, ao fim, fica como perdoado às  suas custas.

. Impeachment

3º Lugar: The Grand Jury
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Não sei dizer até onde existiu uma liberdade criativa na sequência, a ponto de os jurados praticamente terem passado a mão na cabeça de Monica para tudo o que ela também fez, mas fato é que a construção cenográfica é suficientemente convincente para parecer realista e, ao mesmo tempo, dar uma justiça poética à memória de Lewinsky. Metade do episódio é basicamente a dificuldade do processo de contar o trauma e a privacidade com o presidente em detalhes (para contrapor o argumento de Clinton em não classificar seus encontros em “relações sexuais”, de acordo com a definição que lhe foi fornecida) com a recompensa de ser recepcionada devidamente de maneira empática, especialmente pela forma desumana com  que foi abordada no shopping pelo FBI.  A outra metade, seria dedicado para fazer o mesmo com Linda Tripp, só que uma recepção inversa, julgando seu ato egoísta não com a intenção de vilaniza-la, mas sim de fazê-la cair na realidade.

. Impeachment

2º Lugar: Man Handled
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…a encenação em Man Handled não poderia ser melhor executada. Quer dizer, ainda tenho problemas com a lente às vezes afobada de Murphy, mas neste caso, além de bem localizada, adere a um papel fundamental para alavancar um sentimento de claustrofobia sobre a vítima. De estar completamente cercada, com poucas alternativas e sem a maturidade suficiente para tomar a decisão que lhe é cobrada, mesmo que não fosse cobrada a “ferro e fogo”. Penso que o mérito maior de Murphy é extrair o desespero da personagem, visualizar seu choque de realidade, aproximar sua angústia do público, visando a extrair entretenimento do suspense de seus sentimentos e das ótimas trocas de diálogos bem escritos. O envolvimento do telespectador passa pelas várias liberdades poéticas de como foram os detalhes daquelas quase doze horas de negociação, mas a proposta circunstancial nunca admite maniqueísmo sobre os outros lados.

. Impeachment

1º Lugar: Do You Hear What I Hear?
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Antes, temos a descoberta de Tripp de que gravações dos telefonemas, sem consentimento no Estado, é considerado crime. Isso torna sua união com FBI inevitável, partindo do pressuposto que só eles poderiam oferecer imunidade a ela, por estarem desesperados por uma liminar que justificasse a abertura do processo de impeachment. No olhar de Monica, essa conversa já seria para Tripp dar o veredito sobre seu pedido, visto que ela insistiu algumas vezes antes desse almoço acontecer – inclusive no Natal. Só que Tripp não poderia se expor pela questão da gravação. Desse modo, essas premissas dão o valor da conversa como ainda mais derradeira. Durante, há muita liberdade criativa para situações que valorizam  ainda mais o suspense. O microfone caindo e Tripp tentando ajeitar, sendo forçada a ir ao banheiro para isso, logo, fazendo Monica suspeitar, olhando paranoicamente nos arredores nas mesas e vasculhando a bolsa de Linda torna-se um exemplo disso. É uma cena para ficar vidrado, pelas circunstâncias e atuações.

Do You Hear What I Hear?

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