Home Colunas In Loco #10 | CCXP 2019: Dia 1 – Batman 80 Anos & Aves de Rapina

In Loco #10 | CCXP 2019: Dia 1 – Batman 80 Anos & Aves de Rapina

por Gabriel Carvalho
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O “segundo” dia da Comic Con começou muito errado para mim e para o meu amigo, Volney Tolentino, do Cebola Verde: perdidos em Sampa. Entramos num carro que, por algum motivo ainda desconhecido, decidiu se encaminhar à Diadema, no seu caminho para a São Paulo Expo. Dadas as vielas que o motorista entrou, a preocupação se emergiu. “Será que ele está nos levando para uma roubada ao saber que somos cariocas?”, perguntei mentalmente. Enquanto isso, o cidadão contava o quão perigoso está sendo para os Ubers em Diadema, narrando, em detalhes, o que aconteceu com alguns deles que ousaram estar onde não deveriam. Volney rezou, e eu mandei a minha localização no grupo de família, já esperando a necessidade por um resgate. Mas tudo deu certo, mesmo que, no fim, tivesse que desembolsar mais 20 reais do que o esperado inicialmente. No entanto, essa quinta não poderia ter terminado melhor, especialmente pela sua homenagem ao Batman e ao que o personagem representa, num painel exclusivo a ele, em estandes e noutro que expressou a promessa que é Aves de Rapina, o futuro filme da DC, no primeiro dia da CCXP 2019.

O Cavaleiro das Trevas e sua atemporalidade

Como ano passado comemorou os 80 anos do Homem de Aço, nesse a Comic Con Experience reservou sua festa para o Batman, reunindo inúmeros nomes que já passaram pela revista do personagem. Quando o painel dedicado ao octagésimo aniversário do popular Homem-Morcego começou, a discussão rapidamente enfocou-se em um aspecto importante de sua história: o seu legado. Ora, artistas mais novos, como o brasileiro Rafael Grampá, que atualmente colabora com Frank Miller na mais nova sequência de O Cavaleiro das Trevas, estava sentado ao lado de Neal Adams – junto com Miller e outros um dos nomes mais importantes para a definição do Batman como ele é hoje. Mas quem é realmente o Batman? Tanto essa pergunta quanto demais ajudaram a contribuir para um painel recheado de divagações acerca do potencial do personagem, o que ele representa e se é complicado escrever sobre. De certa forma, porém, a resposta foi surpreendente. O Batman, para todos esses artistas, é um molde, a ser manuseado ao bem entender de cada um deles, que ressignificam o personagem, às vezes de modo cômico e outras de modo mais sombrio.

De longe, porém, o destaque foi a presença de Neal Adams, que, sem papas na língua, roubou a moderação de Marcelo Hessel e construiu o caminho por onde a conversa andaria, sempre mais empolgante mediante a sua participação. Num dos momentos, por exemplo, o quadrinista levantou a voz para tecer críticas ácidas ao atual presidente norte-americano. Enquanto isso, o restante da CCXP 2019 podia aproveitar o estande da Oi, que conta com um espaço dedicado ao personagem, no qual vários automóveis memoráveis da sua história, como o modelo do Batmóvel de Tim Burton e a Batmoto de Christopher Nolan, despontam. Tais nomes, no caso, foram dois dos comentados pelos artistas, que expressaram as suas opiniões acerca dos seus mundos e dos seus próprios Batmans. Frank QuitelyMikel Janin e Eduardo Risso, ao mesmo tempo, procuravam dar seus pitacos acerca da composição do personagem, chegando na abordagem de Gotham por Nolan e Burton. Num mini-consenso, a cidade foi tida como uma contraparte do Cruzado Encapuzado, que precisa seguir a maneira como o herói é retratado – e, no painel seguinte, mais dela foi comentado.

Neal também decretou: “O Batman é um personagem fácil de escrever”. O ponto argumentado é que o Homem-Morcego pode se adaptar a inúmeras visões dos seus criadores, como, reiterando sua perspectiva, uma massinha de modelar. “Eu sou o Batman, e você é o Batman”, continuou, em uma analogia à icônica frase do personagem, que garantiu risadas da plateia. O Cavaleiro das Trevas, como notado por Adams, foi sendo verdadeiramente criado ao longo dos anos, tanto o seu lado mais pitoresco, proveniente da série dos anos 60, quanto seu lado mais sisudo. E ambas as versões, mesmo que teoricamente antagônicas, funcionaram bem. Nesse ponto, a contribuição do artista para a conversa vai além, porque ele possui responsabilidades pela ascensão do caráter detetivesco do personagem, em boas histórias que criou com Dennis O’Neil. Nos quadrinhos que colocavam o Batman contra Ra’s Al Ghul, a necessidade era por um vilão menos “palhaço” e mais desafiador intelectualmente. Adams descreveu sua co-criação como uma espécie de Moriarty para seu Sherlock Holmes – numa dentre as inúmeras atribuições que o Homem-Morcego pode receber.

Por outro lado, Neal Adams terminou criando uma boa contradição em sua própria análise do personagem. Enquanto, num primeiro momento, o Batman seria uma ideia definida pela gente, pela maneira como enxergamos o mundo e como escrevemos nossa luta contra a criminalidade, num segundo o quadrinista optou por dar limites ao herói. “O Batman é um herói”, exclamou de maneira objetiva, certamente algo que entraria em contra-argumento com recentes declarações de Robert Pattinson, afirmando que, para ele, o personagem não seria um real herói. Mesmo assim, a contradição de Adams mais enriqueceu o debate que o tornou confuso, porque, de certa maneira, escapar das raízes do personagem é um impasse. A exemplo, Janin explicou, ao associar ao seu trabalho, que o Batman não poderia ser feliz e ser o Batman em paralelo. Ao meu ver, mesmo os autores que procuram a iconoclastia precisam pensar antes nos ícones. Logo, o Batman irá ter de ser um herói de alguma maneira, mesmo que o ponto do artista seja se opor a essa ideia. Ela vai necessariamente existir, antes, como uma matéria-prima, para depois ser, do modelo, reconstruída.

  • Nota: Um outro painel em homenagem ao personagem está programado para acontecer no Auditório Ultra, no sábado, com a presença do próprio Frank Miller.

O empoderamento feminino em Aves de Rapina

E a Arlequina, por outro lado? Quem ela deve ser? Margot Robbie, em carne e osso na CCXP, comentou um pouco acerca de sua personagem, antes de apresentar material inédito do filme que estrela, exclusivo para o público do Auditório Cinemark XD. Fora o trailer, mostrado quase no fim do painel, a Warner Bros. também surpreendeu a audiência com os primeiros minutos do longa-metragem, que lança 7 de fevereiro de 2020. Neles, a vilã tem seu coração partido pelo Coringa e busca superar o relacionamento tóxico em que estava antes, o que, no fim, a leva a explodir as Químicas Ace – um lugar marcante da mitologia dos dois personagens. Por sinal, algumas cenas mostradas, as quais tinham Harleen Quinzell antes de se tornar Arlequina, eram parte do conteúdo deletado de Esquadrão Suicida – não o que vai estrear, dirigido por James Gunn e que Robbie relembrou, mas aquela bomba de 2016. Do que fora exibido, sendo sincero, todo um esquema narrativo pode ser montado: simples, mas não ineficiente. Uma cena do trailer mostrou Arlequina nomeando a sua hiena de Bruce, por conta, como chamou, “daquele gostosão da Mansão Wayne”.

Em uma conversa indireta e inesperada com o painel imediatamente anterior, no mais, um dos pontos trazidos pela diretora de Aves de Rapina, Cathy Yan, foi a recriação de Gotham City pela perspectiva da Arlequina. Nesse ponto, é interessante que a obra abrace toda uma apropriação do universo pertencido originalmente pelo Homem-Morcego para transformá-lo em algo arlequinesco e emancipatório. Pelo que as atrizes comentaram acerca do filme, por sinal, a temática se expande para todas as personagens do longa-metragem, como é o caso da Canário Negro. Jurnee Smollett-Bell comentou um pouco do arco de sua super-heroína, inclusive entregando que Dinah realmente possui super-poderes na obra, como nos quadrinhos. O Grito da Canário, portanto, terá possivelmente um papel na jornada da personagem, que, em um primeiro momento, como exposto em paralelo pela artista, não mostrará a sua verdadeira voz. De qualquer forma, o público em si não escondia a sua, gritando de maneira tão ensurdecedora e apaixonante que alguns pedaços do material exibido eram inaudíveis. Gritos aumentaram pela aparição da máscara do Máscara Negra.

Um mar de emoções definiu esses tantos momentos. O clima no Auditório Cinemark já começou espirituoso e energético, pela presença de dançarinas e uma DJ, que segurou a ansiedade pelo tempo que separou o painel do Batman desse. Mas, mais tarde, os relatos das atrizes e a carga que transmitiam do trabalho que tinham executado já davam um coração concreto ao palco da CCXP. Foi Rosie Perez, intérprete de Renee Montoya, quem decretou o clima necessário para que, quando o trailer saísse, todo mundo se arrepiasse, pelo poder inerente da narrativa que está sendo contada, sobre mulheres crescendo, se emancipando, mas também se unindo, e, principalmente, chutando bundas. Contando as cinco atrizes, a diretora e também a mediadora, MariMoon, com uma presença carismática, as sete mostraram visível emoção pelas suas conquistas. Perez, por exemplo, citou a necessidade de aprender a lutar, o que a encaminhou a refletir sobre o orgulho que é poder ter feito o que fez. O trailer nem era tão bom, mas, pelo painel que foi, pelas trocas no palco entre as convidadas e o público, tornou-se impossível ficar indiferente pelo que foi mostrado.

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