Foi a minha professora de Educação Artística quem me apresentou a Alain Resnais.
Eu estava na 8ª série (atual 9º ano) e meu grupo tinha que fazer um trabalho sobre a vida dos artistas fora das artes plásticas. Ou pelo menos algo que falasse das obras desses artistas mas que não fosse apenas os seus quadros… Lembro-me muito bem (e tenho fotos disso, mas minha vergonha impediu que eu as escaneasse e anexasse a essa postagem) que parte da exposição que organizamos mostrava Salvador Dalí e suas várias aparições públicas, algumas entrevistas conseguidas a muito custo e revistas com indicações de exposições no MAM e no MASP.
Só que faltava alguma coisa.
Após uma conversa com a professora, recebemos uma sugestão tão óbvia que até hoje me espanto como eu não tinha pensado naquilo: exibir algum filme sobre a vida de um artista durante a exposição. Era perfeito. Só que tinha um problema: nem eu nem meus colegas conhecíamos nenhum filme sobre nenhum artista. E o impasse é que não podia ser um filme muito longo, senão perdia a graça… Foi aí que eu ouvi o nome de Alain Resnais pela primeira vez.
A nossa mestra tinha uma VHS com entrevistas e curtas-metragens sobre vários artistas e ela escolheu três filmes para nos mostrar, os três dirigidos por Resnais: Van Gogh (1948), Guernica (1950) e Gauguin (1950). Nós escolhemos os dois primeiros para mostrar durante a exposição de uma aula, o que foi um aparente sucesso, mesmo a maior parte não tendo ideia do que o narrador realmente falava porque ninguém entendia francês e o nosso inglês fraquinho não permitia ler as legendas amarelas com a velocidade necessária…
Quase 10 anos depois, durante o meu curso de História e já em avançada cinefilia, escolhi o curta As Estátuas Também Morrem (1953), de Resnais e Marker, como base de um trabalho sobre História e Cultura Africanas. Nesse momento da minha vida, Resnais já fazia parte do meu vocabulário de espectador e eu já tinha visto e me encantando com Noite e Neblina, Hiroshima Meu Amor, O Ano Passado em Marienbad e Muriel.
Ontem, dia 02/03/2014, quando soube da morte do diretor (que morreu, na verdade, no dia 1º), eu estava no Facebook postando gracinhas sobre a noite do Oscar, falando sobre favoritos e provocando os haters de A Grande Beleza e Gravidade. Foi um grande golpe receber a notícia. Mesmo que por um lado fiquemos “conformados” pelo fato do diretor ter partido aos 91 anos, portanto, em avançada idade e com uma longa vida de arte vivida intensamente (e aqui estou parafraseando uma fala do meu caríssimo Ritter Fan), é impossível negar a tristeza que sentimos e a falta que um artista como esse irá fazer para o cinema.
O ano de 2014 tem sido impiedoso. Estamos no início de março e já partiram artistas de peso. Neste último dia 1º, foi a vez de Alain Resnais. Um dos maiores diretores do cinema. E um dos primeiros grandes cineastas que eu tive a oportunidade de conhecer, ainda na adolescência. Consola-me o fato de que sua obra e seu legado permanecem, e que podemos nos maravilhar quantas vezes quisermos ao rever seus filmes. Infelizmente, o artista não está mais entre nós. Deve estar fazendo grandes panorâmicas da França a partir de um ângulo privilegiado nesse momento. Deve estar…
Descanse em paz, Alain Resnais.