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Entenda Melhor | Uma Nova Era Davis em Doctor Who

Tentando reajustar a série.

por Rafael Lima
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Quando Chris Chibnall, o terceiro Showrunner da Nova Série anunciou que deixaria o show em 2022, muitos se perguntaram qual produtor teria a coragem de assumir a série. Afinal, a era Chibnall, protagonizada pela 13ª Doutora (Jodie Whitaker) tomou uma série de decisões criativas extremamente polêmicas, tornando-se bastante divisiva, tanto entre o público quanto entre a crítica, o que gerou uma crise na audiência, que viu a Nova Série obter alguns de seus números mais baixos. Além disso, embora muitas das críticas feitas a era da 13ª Doutora sejam justas, é inegável que uma parcela do fandom se tornou bastante tóxica nos últimos anos, provocando ataques pessoais a membros da equipe na internet totalmente injustificados. Para tornar as coisas ainda mais complicadas, o novo Showrunner teria que lidar logo de cara com o especial de aniversário de 60 anos da série. Resumindo, qualquer um que aceitasse a tarefa de substituir Chibnall estaria sob uma pressão gigantesca.

Mas eis então que a BBC surpreendeu á todos ao anunciar o retorno de Russell T. Davies para comandar as próximas temporadas de Doctor Who, em um movimento inédito na trajetória da série, que nunca viu um antigo showrunner retomar a sua função após deixar o programa. Ainda que inesperado, esse retorno de Davies ao programa é uma manobra inteligente da BBC, pois ao trazer de volta o responsável por um dos períodos mais populares da história da série, o show transmite para o público uma sensação de confiança e segurança que a era Chibnall, ame ou odeie, falhou em proporcionar.

Sabemos pouco sobre como será a 2ª Era Davies. Sabemos que o 15º Doutor será interpretado por Ncuti Gatwa, tornando-se o primeiro ator negro a interpretar o personagem (descontando Jo Martin, que viveu uma versão do Doctor, mas não era de fato a protagonista). O 15º Doutor terá como Companion uma jovem britânica chamada Ruby Sunday (Millie Gibson), e a sua temporada de estreia contará com o retorno de rostos conhecidos, como Kate Stewart (Jemma Redgrave) e a Companion da Série Clássica Mel Bush (Bonnie Langford).

O 15º Doutor (Ncuti Gawa).

A grande questão, entretanto, é como o showrunner planeja renovar a sua própria visão sobre Doctor Who. Afinal, o contexto que Davies está encontrando agora é bastante diferente daquele de quando ele assumiu a série pela primeira vez. No passado, Davies acertadamente deu a série um caráter introdutório aos ethos do universo do programa que pautou a maior parte da era do 9º e do 10º Doutor, mas que agora são desnecessários, uma vez que a Nova Série já está a 18 anos no ar, ao longo de 13 temporadas. O produtor não vai ter que apresentar Doctor Who para uma nova geração, pois esse trabalho já foi feito em seu primeiro mandato. A Guerra Do Tempo, que foi a grande base dramática do programa nos anos 2000 foi compreensivelmente sendo abandonada aos poucos pela Era Moffat, e foi tornada totalmente irrelevante pela Era Chibnall. Dessa forma, está 2ª Era Davies também precisará de um eixo dramático completamente diferente daquele que baseou a primeira passagem de Davies no Show 

Além disso, a Nova Série agora tem a sua própria história da qual o próprio Davies faz parte. Isso faz com que a necessidade do showrunner de reinventar a sua própria visão sobre esse universo seja ainda mais importante, especialmente tendo em vista que Chibnall reutilizou muitos dos conceitos de Davies em sua era, ainda que adaptados a sua própria proposta e identidade. É preciso reconhecer que Russell T. Davies tem certa tendência à autoindulgência, o que ficou claro na fase final de sua primeira era, onde ele se permitiu uma série de auto homenagens, ainda que verdade seja dita, foram merecidas. Mas é intrigante olhar para o pouco que se sabe sobre o especial de 60 anos para perceber que todas as chamadas nostálgicas, como o retorno de David Tennant (agora interpretando o 14º Doutor) e da Donna Noble de Catherine Tate, são pertencentes à própria era Davies.

O 15º Doutor e sua companheira, Ruby Sunday.

É compreensível que a Era Chibnall dispense homenagens agora, afinal, ela acabou de terminar, e em seu episódio final prestou diversas homenagens para a Série Clássica que talvez não precisem ser repetidas no Especial de 60 anos. Mas acredito que já temos distância o suficiente da Era Moffat para que ela receba as suas próprias homenagens, e espero que Davies esteja guardando algumas surpresas nesse sentido. Espera-se que ao se relacionar com o passado do Show (algo que se tornou inevitável em Doctor Who), Davies entenda e se orgulhe de seu primeiro mandato, mas que não fique excessivamente fascinado por ele, para que assim possa criar uma segunda era tão única quanto a primeira.

Russell T. Davies, entretanto, já provou inúmeras vezes ser um produtor e roteirista extremamente competente e talentoso, e tenho quase certeza que pensou em todas as diferenças de contexto e possíveis ciladas que citei acima. Catorze anos depois de deixar Doctor Who, Davies está de volta mais maduro para revitalizar o icônico programa que ele ajudou a trazer de volta quase vinte anos atrás. Não sei quais são os planos do Showrunner para a era do 15º Doutor, mas eu acredito firmemente que será cheio de paixão pelo universo da série e com personagens cativantes, em um programa ao qual será impossível ficar indiferente. Pelo menos foi isso que Davies nos ensinou a esperar de seu Doctor Who.

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