Há quem diga que o rock morreu, ou pelo menos que ele anda internado. Mas ele ainda vive, mesmo que de maneira tímida no mainstream. E se houve uma banda que influenciou e permitiu a manutenção deste nesse segundo milênio, com certeza ela é o The White Stripes. O duo formado por Jack White (guitarra, vocal) e sua primeira esposa, Meg White (bateria), em 1997 saiu de Detroit para alcançar um sucesso musical internacional. Os dois, que inicialmente se apresentavam como irmãos, decidiram o nome da banda através do sobrenome de Meg (que Jack pegou para si após o matrimônio) e da paixão da baterista por doces de menta, o que geraria as cores vermelho e branco da dupla. Ah, e o som? Um blues rock disfarçado de um rock de garagem extremamente enérgico.
Grande parte da fama alcançada pela banda vem da visão do vocalista. Como dito pelo mesmo no ótimo documentário A Todo Volume, sua ideia de estética infantil e rebelde para a dupla caiu como uma luva em tempos pós MTV. Na superfície o que podia ser visto era uma banda com design de peppermint candy, doce vermelho e branco tipicamente americano, mas no interior o que rolava era uma forte influência de blues ecoando da guitarra suja e gritante de White. Suas habilidades extraordinárias com a guitarra e seu jeito despojado, técnico e característico de tocar viria a ser tomado como modelo para as futuras gerações.
Até Meg White, constantemente criticada por sua fraquíssima execução frente a bateria, querendo ou não, criou influência com seu jeito totalmente desajeitado de tocar. E criou fãs de alto escalão, como o próprio Dave Grohl disse:
“É bom ouvir bateristas como Meg White, uma das minhas bateristas de banda favorita de todos os tempos. (…) Essas pessoas jamais seriam aceitas na Berklee School of Music porque não seriam consideradas tecnicamente competentes. Mas sua música mudou o mundo.”
Mas provavelmente quem melhor resumiu a forma de Meg tocar foi o próprio Jack, afirmando que “ela inspira as pessoas a saírem batucando em pratos e panelas. Ela era a antítese de um baterista moderno. Tão infantil, incrível e inspiradora.” E realmente sua aleatoriedade e isenção de técnica parecia cair prefeito para o estilo garageiro do White Stripes, quase como um espírito punk. A grande verdade é que a bateria de Meg – simples e barulhenta – só servia de background para o show a parte de Jack White na guitarra.
“I’m gonna fight ‘em off
A seven nation army couldn’t hold me back”
Um dos traços mais notáveis da influência do The White Stripes é na popularização do formato “duo” no rock n’ roll. Esse tipo de formação nunca foi tão popular quanto nesse segundo milênio, veja que desde então muitos grupos adotaram tal configuração e atingiram sucesso, como The Black Keys, Royal Blood, The Kills e até mesmo no Brasil com o The Baggios, que figura no lineup do Lollapalloza desse ano. Além disso tudo, Jack White – com sua obsessão pelo retrô – foi fundamental no movimento de revival e modernização de muitos estilos, principalmente do blues rock. E essa influência é tão descarada nos dias de hoje que chega a ser ridículo: The Black Keys, Alabama Shakes, Gary Clark Jr, Blues Pills e uma avalanche de bandas indie-moderninhas que vem figurando na sua playlist.
Veja bem, olhando sob uma ótica específica, o The White Stripes pode inclusive ser considerado um dos últimos grupos de rock a possuir uma canção com status de “hino”. Afinal, qual foi a última vez que ouviu uma canção do gênero alcançar o maior status de hit possível, ser considerado um verdadeiro hino? Seven Nation Arms, do elogiado álbum Elephant, possivelmente foi a última, ou no mínimo uma das últimas. O single ganhador de Grammy de Melhor Canção de Rock viria a ser considerado posteriormente uma das músicas da década, com suas notas iniciais reconhecíveis a qualquer pessoa, hoje frequentemente associada a esportes, sempre clichê de campeonatos de futebol europeu, basquete, baseball e até WWE. Isso sem contar outros hits implacados pela banda e suas aparições no audiovisual, como Fell In Love With A Girl, Hardest Button To Button e I Just Don’t Know What To Do With Myself, sempre presentes em filmes e séries.
Claro, não se deve esquecer também dos geniais e influentes videoclipes da dupla feitos com o diretor francês Michel Gondry. A parceria começou com o emblemático clipe de Fell In Love With A Girl – que levou vários prêmios no VMA 2002 – onde uma versão lego da dupla apresenta a canção. Depois foi a vez do também ótimo Dead Leaves And The Dirty Ground e, por último, provavelmente o mais impressionante videoclipe de Gondry: The Hardest Button To Button. Seu espetáculo de direção feito com centenas de baterias e amplificadores filmados frame por frame fazem um resultado impressionante que resultou até em piada nos Simpsons. Se você nunca assistiu tais clipes, precisa conferir imediatamente. Seguem abaixo os três videoclipes:
E por último, mas não menos importante…
Uma curiosidade engraçada: é deles o título de show mais curto da história. Durante a turnê canadense da dupla em 2007 (que inclusive gerou o documentário Under Great White Northern Lights), eles tocaram em todas as províncias do país, como haviam prometido. E em algumas houve também um show prévio avisado apenas algumas horas antes, o que resultou no show em questão, também conhecido como o “show de uma nota só”, realizado na cidade de St. John, Newfoundland. Veja o resultado logo abaixo: