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Entenda Melhor | Proto-Slasher

Os filmes, livros e momentos históricos que fundaram o subgênero slasher.

por Leonardo Campos
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Antes de Michael Myers, antagonista de Halloween: A Noite do Terror, filme definido como uma espécie de marco zero do slasher, atingir as suas vítimas com uma faca afiada, diversas produções cinematográficas apresentaram uma estrutura narrativa que se apresentam como germinações para a composição mais definitiva deste subgênero do terror que nos trouxe, numerosas vezes, assassinatos violentos em sequência, psicopatas mascarados, motivados por traumas e situações de um passado que é trazido à tona próximo ao desfecho de suas trajetórias sanguinolentas, bem como intensos momentos de perseguição e mortes que bailam como uma dança macabra na tela. Em linhas gerais, o mote do filme slasher traz o encadeamento de algo que a memória individual ou coletiva tentou sublimar, mas é resgatado quando comemorações ou aniversários, tais como Natal, Ano Novo, Dia dos Namorados, feriados como o 4 de julho, uma sexta-feira 13 qualquer ou o já mencionado Dia das Bruxas está próximo. Não foi em todas as ocasiões que uma data comemorativa serviu como a base para uma narrativa deste segmento, mas as produções mais famosas apostaram nestas fases do calendário anual para criar as suas histórias. Nestes filmes, quando não há continuação com o retorno do “monstro”, a ordem geralmente é reestabelecida, culminando na salvação dos mais puros e na eliminação da figura antagonista que geralmente faz parte de um subtexto social e política da época.  

Aqui, analisaremos as narrativas que podem ser apontadas como antecedentes do que a crítica, o público e os realizadores resolveram chamar de slasher. Antes de Jason atacar jovens incautos pelas imediações de Crystal Lake e bem antes de Freddy Krueger aterrorizar o mundo onírico dos adolescentes da icônica Elm Street, sabemos que os italianos foram os responsáveis por estabelecer uma fórmula que ajudou o slasher na composição de suas histórias. Cineastas como Mario Bava, Dario Argento, Lucio Fulci, Aldo Lado, Sergio Martino, Pupi Avati e Umberto Lenzi são alguns dos representantes do estilo cinematográfico italiano que deu gás aos psicopatas mascarados estadunidenses entre os anos 1970 e 1980. No Giallo, analisado anteriormente num artigo repleto de detalhes sobre as suas questões estéticas e históricas, tínhamos a figura de um assassino violento, acometido por traumas do passado, trajado com capas, luvas e até mesmo máscaras em alguns casos, responsáveis por estabelecer um reinado de morte, sangue e muita violência, tendo na figura feminina uma de suas mais desejadas vítimas. Muito além destas importantes contribuições, no entanto, a história cultural anterior trouxe modelos narrativos que já trabalhavam com a ideia de mortes sangrentas em sequência, com a indefinição do assassino até os momentos finais do enredo, o ato mais esperado, cheio de revelações.  

É o que contemplaremos neste passeio pelas bases cinematográficas e literárias que anteciparam a estrutura narrativa do slasher, subgênero que evoluiu e ainda na contemporaneidade, continua sendo reformulado para as novas plateias. É um interessante painel de desdobramentos comportamentais da humanidade que nos remetem aos tempos mais remotos, desde as sanguinárias lutas travadas pelos antigos romanos, povo que via no embate entre gladiadores um espetáculo de morte e violência que alimentavam as suas ânsias por entretenimento. Cineastas como John Carpenter e Wes Craven destacaram, numerosas vezes em documentários retrospectivos sobre slasher e outros subgêneros, a relação dos seres humanos com construções ficcionais que apresentaram violência explícita como elemento básico de suas composições, como por exemplo, o Grand Guignol, peças de terror naturalistas do século XIX, conhecidas pelo uso do horror gráfico desde as suas primeiras exibições parisienses, em 1897, até os últimos suspiros em meados da década de 1960. Responsáveis por solidificar o horror, eram demonstrações teatrais com decapitações, esfaqueamentos, tudo em prol do máximo de emoção diante de suas plateias estarrecidas, mas satisfeitas pelas imagens que alimentavam a sede de violência como expurgo para a realidade talvez mais aterradora.  

Proto, prefixo para formação de palavras que exprimem a ideia de primeiro, anterior ou ancestral, se liga aqui ao slasher para explicar, sem interesse de exaurir o panorama histórico de narrativas do tipo, a travessia de produções que ao longo do século XX, formularam as bases para os filmes sobre assassinatos em série perpetrados por uma figura (ou mais) misteriosa, responsável por resgatar situações do passado para o estabelecimento de uma vingança no presente. Nem sempre foi assim, tampouco continuou sendo, mas nestas narrativas, as trevas visuais, o isolamento perigoso, o temperamento hostil do clima, a inexplicável violência e a vantajosa posição do assassino diante de suas vítimas são as principais características deste tipo de conteúdo ficcional que também teve na nudez um ponto crucial de suas histórias, seja explícita como as garotas aniquiladas por Jason, em Sexta-Feira 13, ou na nudez mais discreta, disfarçada pela câmera sutil de realizadores, como por exemplo, John Carpenter. E agora, diante da breve exposição preambular, vamos acompanhar as raízes rizomáticas deste subgênero profícuo, muito polêmico e responsável por gerar ainda muitas discussões na atualidade.  

Literatura Como Ponto de Partida: Seria o Slasher Tributário de Agatha Christie?  

A famosa e renomada rainha das histórias de suspense e enigmas não foi a única a descrever histórias com atmosfera próxima ao que se tornou o subgênero slasher, mas talvez seja a mais conhecida do mapeamento selecionado para a reflexão em questão. E Não Sobrou Nenhum, publicado pela escritora em 1939, romance considerado o mais difícil de escrever em sua carreira, traz a história de oito personagens que não se conhecem, convidados para passar uma estadia numa ilha enigmática, sob falsos pretextos. Neste local isolado, adquirido por um misterioso milionário chamado Mr. Brown, uma a uma, as figuras ficcionais são expostas num megafone que relatam os seus atos constrangedores, leia-se, criminosos, culminando numa série de assassinatos. Desde o primeiro, o clima de pavor se estabelece. Quem está por detrás das mortes? Esta é a pergunta basilar, elemento fundamental do slasher futuramente, pergunta geralmente respondida depois que a costumeira máscara do assassino cai e verdades são reveladas, de maneira convincente ou não, para o espectador e os supostos protagonistas.  

Ainda no campo da literatura, temos A Escadaria Circular, de Mary Roberts Rinehart, novela de mistério publicada em 1907. Basicamente, a história é sobre a estadia de convidados numa mansão situada numa região remota, personagens que precisam sobreviver ao horror estabelecido por uma figura que utiliza uma máscara grotesca durante os assassinatos. O protagonismo aqui é da viúva Rachel Innes, uma mulher que vivencia situações horripilantes numa trama com fortes traços da tradição gótica. O romance, tal como o best-seller de Agatha Christie, foi levado ao cinema e ao teatro, sendo Silêncio nas Trevas, de 1945, uma de suas traduções mais conhecidas. Dirigido por Robert Siodmak, o filme apresenta um jogo de gato e rato travado entre a protagonista, uma mulher acometida por diversos traumas, e a figura responsável pelos assassinatos misteriosos. O grande mistério da história é a morte semelhante de três mulheres, todas com uma característica peculiar, isto é, apresentam algum tipo de deficiência. Aqui, tal como nos filmes apresentados no tópico seguinte, temos tenebrosos assassinatos mapeados, com evocações do passado para justificar a violência do presente.   

Mapeando Assassinatos: Crimes Cinematográficos  

Já em 1928, um maníaco buscava vingança em The Terror, produção de Roy Del Ruth, baseada numa peça de Edgar Wallace. Um ano antes, no clássico O Inquilino, uma das primeiras incursões de Hitchcock no cinema, um assassino em série inicia uma onda de crimes em Londres, tendo como elemento comum o fato de todas as vítimas apresentarem uma característica específica: são loiras, por isso, as prediletas do psicopata. Ainda em 1927, o cineasta Paul Leni assumiu o comando de O Gato e o Canário, narrativa sobre uma herança maldita. Dez anos após a morte de um homem rico, o seu testamento é aberto e traz delineado que a condição da herdeira é receber a quantia destinada apenas se comprovar a sua sanidade mental. Coisas estranhas começam a acontecer logo após a revelação, da morte do advogado responsável aos eventos misteriosos em torno dos personagens, alguns, ceifados no processo.  

Em 1932, A Casa Sinistra, de James Whale, deixou os seus espectadores temerosos com a saga de um grupo de personagens acometidos por uma tempestade, tendo que se hospedar numa velha casa, local habitado por um mordomo mudo e um misterioso senhor de 102 anos. Lá, encontram outras duas pessoas também em busca de abrigo. Quando as luzes se apagam, momentos genuínos de terror tomam conta da estadia, num saldo de mortes considerável para as produções cinematográficas da época. Neste mesmo ano, Treze Mulheres, dirigido por George Archainbaud e produzido por David O. Selznick, apresentou ao público uma irmandade onde os ex-membros são colocados uns contra os outros, algo que culmina numa série de mortes oriundas das ações de alguém que decide riscar as fotos de um anuário e transformar a simbólica anulação de imagens em assassinatos reais, tais como fazem os antagonistas de Dia de Graduação e A Morte Convida Para Dançar, slashers dos anos 1980.  

De acordo com alguns apontamentos da historiografia do cinema no século XX, anos antes, um dos principais filmes de Fritz Lang, M: O Vampiro de Dusseldorf, clássico do expressionismo alemão lançado em 1931, trouxe ao público alguns elementos variados que se mantiveram presentes em tramas com assassinatos em série, em especial, a presença misteriosa do responsável pelas mortes aterrorizantes em cena. Outro exemplar da época é A Garra Escarlate, de 1944, comandado por Roy William Neill, trouxe Sherlock Holmes para uma investigação em torno de assassinatos cometidos com uma capina de jardim de cinco pontas, arma que a misteriosa figura criminosa levanta no ar antes de acertar em cheio as suas vítimas aterrorizadas. No ano anterior, o cineasta Jacques Tourneur dirigiu o memorável O Homem Leopardo, uma história estilizada de puro horror sobre um felino utilizado num espetáculo, criatura que foge e dias depois de seu sumiço, corpos mutilados aparecem em diversos cantos da cidade que sedia tal evento. Seria o animal o responsável? Em sua conclusão morna, somos informados sobre o verdadeiro autor dos crimes, numa proposta curiosa e interessante deste clássico do cinema.  

Para versar sobre o proto-slasher, não podemos deixar de fora duas produções importantes da década de 1950: Museu de Cera, de Andre de Toth, e O Mensageiro do Diabo, de Charles Laughton. No primeiro, de 1953, acompanhamos o sofrimento de um artista que produz esculturas, homem que tem a sua obra queimada por um sócio e quase morre durante o incêndio. Ele retorna, tempos depois, com uma sede de vingança sanguinária, tendo em vista restaurar as suas criações em cera e, claro, expurgar os seus demônios contra aqueles que atravessaram de maneira traiçoeira o seu caminho. Já na produção de 1955, temos uma macabra narrativa sobre um assassino de mulheres, todas elas, viúvas ricas. Na prisão, ele descobre que possui uma herança do lado de fora, deixado por seu pai, figura que, pasmem, está no mesmo local de encarceramento. Ao sair, ele inicia uma perseguição frenética contra uma família, criando um dos antagonistas mais sagazes do cinema estadunidense do século XX.  

Para finalizar este tópico, temos também a estreia de Francis Ford Coppola em 1963: Demência 13, uma horripilante história de violência, traz para os espectadores a história de um casal que todo ano, realiza um ritual estranho, a celebração da memória de sua filha morta. Situada num castelo irlandês, familiares se reúnem para o evento, sem saber que serão assassinados, um a um, numa narrativa que mescla uma criança afogada num lago, um machado como arma para a execução de crimes, além da proposta de entrega de informações para o público que os personagens desconhecem. Outras produções, anteriores e posteriores ao filme em questão, trouxeram em suas estruturas elementos para a composição do slasher, mas por questões editorais, o panorama aqui é parte de uma seleção que não pretende dar conta de todos as produções que tenham tais características, tarefa no mínimo exaustiva e demasiadamente pretensiosa. Antes de passearmos pela década de 1970, auge do proto-slasher, flertaremos com dois clássicos considerados pais do slasher, um de Alfred Hitchcock, o outro de Michael Powell.  

A Tortura do Medo e Psicose: Michael Powell e Alfred Hitchcock Antecedem o Slasher  

Dois clássicos do cinema apontados como representantes da definição de proto-slasher. Um foi ovacionado e transformado num fenômeno cultural em sua época de lançamento. É Psicose, de Alfred Hitchcock. O outro, tratado como produção cinematográfica maldita, ficou relegado ao ostracismo por bastante tempo, até receber o reconhecimento tardio, muito tempo depois de ser centrifugado pela crítica moralista de sua época. É o caso de A Tortura do Medo, de Michael Powell, resgatado por cineastas renomados, dentre eles, Martin Scorsese. Ambas as produções são contemporâneas, marcadas por traços fundamentais na constituição futura do slasher como subgênero do terror. São filmes que trazem assassinatos em série, situações do passado se desdobrando de maneira macabra no tempo presente de suas narrativas e psicopatas com motivações de ordem psíquica como explicação para o reinado de horror apresentado por suas histórias mais recatadas na sanguinolência explícita que seria a marca deste rentável subgênero. 

No audacioso Psicose, tradução do romance de Robert Bloch para o cinema, Alfred Hitchcock foi subsidiado por uma cuidadosa equipe de produção. Marcou a história dos filmes com a icônica cena de assassinato no chuveiro, além de criar uma atmosfera horripilante situada num local relativamente distante dos grandes centros urbanos. No enredo, Norman Bates (Anthony Perkins) é um homem desajustado, estranho, responsável por cuidar do Motel Bates, local que deveria ser aconchegante para os seus hóspedes, mas que diferente do esperado pelos personagens que passam por lá, é um território para o encontro com a morte. A principal vítima é Marion Crane (Janet Leigh), uma secretária que foge com uma quantia considerável, solicitado para depósito por seu chefe. Em sua jornada, ele decide fazer uma parada para descanso e acaba sendo morta impiedosamente enquanto toma banho. Na cena já mencionada, acompanhamos a sua vida sendo exaurida ao som da trilha de Bernard Hermann, numa das montagens mais criativas da história da edição no cinema. Com o seu desaparecimento, outras figuras se deslocam em direção ao local e assim, em seus desdobramentos, mais mortes e a terrível revelação final envolvendo a mãe de Norman Bates e um curioso caso de desordem psiquiátrica.  

No alijado A Tortura do Medo, acompanhamos a caminhada desequilibrada de Mark Lewis (Carl Bohm), um homem que traz traumas consideráveis de sua infância, vitimado pelas experiências insanas de seu pai, figura que estudava a relação das pessoas com os seus maiores medos. Diante de tanta degradação psicológica, o jovem cresce fascinado pela morte, tendo nas pontas do tripé de sua câmera a sua ferramenta para a morte de mulheres incautas. Ao se posicionar com as suas lentes diante das vítimas em potencial, ele capta o exato instante de suas mortes, imagens que promovem neste cidadão calmo e carismático, acima de qualquer suspeita, o gozo oriundo da sensação de horror alheia. Ele atua como fotógrafo de uma agência de notícias e não promove desconfiança de ninguém que gravita em torno de sua solitária existência. É uma espécie de Ed Gein, salvaguardadas as devidas proporções. Tendo o uso do ponto de vista como um recurso da direção de fotografia para exaltar o clima de horror das poucas mortes estabelecidas na história, o filme é um dos contribuintes para o subgênero, mencionado próximo ao desfecho de Pânico 4, quando Ghostface questiona uma das personagens sobre a história dos filmes de terror e o primeiro assassinato do cinema pelo ponto de observação do assassino.  

A Década de 1970 e As Diretrizes do Proto-Slasher: Estabelecimento de Definições   

Em 1978, John Carpenter e Debra Hill lançaram Halloween: A Noite do Terror, filme considerado a quintessência do slasher, obra que ganhou desdobramentos na década seguinte e reforçou a presença de assassinos mascarados, segredos do passado, vingança e paranoia, bem como outros elementos que compõem o subgênero em questão. Alguns anos antes, por sua vez, filmes como O Massacre da Serra Elétrica e Noite do Terror já tinham pavimentado parte do caminho trilhado por Michael Myers e seus sucessores. Inspirado em Ed Gein, o maníaco Leatherface e seu clã de canibais aterrorizaram um grupo de jovens que atravessavam o Texas e pararam, brevemente, para conseguir gasolina e continuar a viagem. Sequências de perseguição, mortes violentas e um antagonista mascarado munido de uma motosserra são alguns dos elementos que cristalizaram padrões seguidos na posteridade. Este é o mote do filme dirigido por Tobe Hooper, um clássico do terror bastante representativo para a década, produção que ganhou continuações irregulares até a chegada da refilmagem de 2003, na era do Slasher Refilmado. A agonia das vítimas e o destaque ao sofrimento excessivo do corpo feminino também são destaques desta narrativa, estratégia repetida nos filmes subsequentes deste estilo.  

Outro ponto de partida fundamental é Noite de Terror, de Bob Clark, produção de terror que evocou a questão das datas no segmento slasher, quatro anos antes do Dia das Bruxas de John Carpenter. Na trama, Billy é um maníaco que durante o período natalino, ameaça estudantes universitárias de uma fraternidade, inicialmente com trotes obscenos, ação seguida de perseguições e mortes sangrentas. Enigmática, a figura do assassino cria a atmosfera ideal de tensão, numa narrativa estilizada, com direção de fotografia que investe no uso do ponto de vista (POV) para deixar o assassino em posição vantajosa e, nós, aterrorizados como espectadores desta história com humor ácido, críticas (ou reforço) ao conservadorismo da época, debates sobre o lugar das mulheres em determinados espaços da sociedade, dentre outros tópicos temáticos. A polícia, geralmente inútil neste tipo de filme, faz pouco caso da angústia das moças diante dos telefonemas ameaçadores, numa trama que revela as paranoias de uma época singular na história estadunidense, mergulhada em escândalos e conflitos bélicos constantes e desastrosos. Aborto, a negação do casamento e outras posturas liberais são elementos que perpassam Noite do Terror, um filme misterioso e instigante, contribuinte para o slasher.  

O polêmico Comunhão, a estreia de Brooke Shields nas telas, é um dos pontos principais desta fase de modelagem de formatos que culminaram no slasher dos anos 1980 aos tempos atuais. Dirigido por Alfred Sole, a trama trouxe debates consideráveis sobre pedofilia e podridão no âmbito das famílias aparentemente imaculadas pelos padrões de uma sociedade que insistia na contemplação da realidade como uma pintura de Norman Rockwell. Considerado avesso ao catolicismo por seus críticos, o filme nos apresenta uma figura sinistra que usa uma capa de chuva e uma máscara de plástico macabra, guardada num baú da sacristia de uma igreja de New Jersey, em 1961. Quando um cadáver é encontrado, revelador da morte de uma menina, outra garota, chamada Alice, trajada com a tal indumentária, torna-se a principal suspeita do crime, pois além deste fator preponderante para acreditarmos em sua autoria, ela é a única que não estava presente no momento que comprova quem esteve ou não no local do tenebroso assassinato. Situados num lar disfuncional, visualmente angustiante, os personagens desta narrativa descobrem da pior forma os horrores que habitam o espaço cênico desta produção que traz elementos preponderantes para a massificação do slasher na posteridade, subgênero que na contemporaneidade, passa por uma fase de resgate de clássicos e retorno dos chamados personagens-legado, constante processo de transformações que ainda vai gerar uma série de discussões futuras, haja vista o avanço dos interesses da indústria diante das demandas do público que almeja a volta dos grandes medalhões, reconfigurados para as novas plateias.

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