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Entenda Melhor | Pensar o Cinema: Símbolos e Metáforas Visuais

por Leonardo Campos
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As metáforas, alegorias, símbolos e outros recursos semânticos são elementos que transformam as obras artísticas que consumimos. Ciente do quão são importantes, o teórico Marcel Martin dedicou um capítulo robusto do clássico A Linguagem Cinematográfica, para abordar a inserção de tais recursos no desenvolvimento de narrativas que hoje são referências para novos realizadores, bem como estudantes ou entusiastas do campo da sétima arte. Alguns contemporâneos acham que as considerações de Martin estão ultrapassadas para pensarmos o cinema atual, algo que devo dizer, em partes, tem pertinência, no entanto, não devemos recorrer ao descarte, ao contrário, precisamos emular e atualizar para os leitores mais recentes, pois ainda há muitos tópicos abordados pelo autor que explicam adequadamente a produção audiovisual do século XXI.

Os filmes do universo criado por Thomas Harris na literatura e levados ao cinema são as ilustrações selecionadas para compor o feixe de análise proposto por aqui, voltado ao processo de compreensão das metáforas e símbolos presentes em O Silêncio dos Inocentes, Hannibal e Dragão Vermelho. Hannibal – A Origem do Mal, ficou de fora, assim como a série de televisão criada por Bryan Fuller. O primeiro por causa de sua insalubridade artística e o segundo, por ser um universo amplo demais, algo que requer uma análise com pormenores, feita exclusivamente para as suas três temporadas. Por questões editoriais, fiquemos então com a Trilogia de Anthony Hopkins.

E, aos interessados em compreender mais sobre o livro de A Linguagem Cinematográfica, de Marcel Martin, deixo como sugestão a leitura do oportuno texto escrito pelo crítico e historiador Luiz Santiago, uma reflexão bem direta e objetiva sobre a importância e os pormenores desta publicação que tal como mencionei na abertura, ainda é norteadora para quem faz, consome e interpreta o cinema. Leia o texto aqui.

Metáforas, Símbolos e A Linguagem Cinematográfica

Para o autor, a imagem possui uma relação dialética com o espectador, pois em seu complexo dispositivo de informações, depende da atividade intelectual do receptor para o entendimento das propostas empreendidas do texto dramático ao filme em si, exposto para contemplação do nosso olhar. Marcel Martin traz considerações que podem soar óbvias, mas que é preciso lembrar constantemente: tudo que nos é mostrado na tela possui sentido calculado, por isso, toda imagem “implica” mais do que “explicita”. Para exemplificação, o teórico comenta trechos de A Noite de São Silvestre, de Lupu Pick, e A Mãe, de Vsevolod Pudovkin, o primeiro com uma cena do mar que em seu ponto de vista, simboliza a plenitude das paixões dos personagens e o segundo, uma breve passagem com um punhado de terra, representativo do enraizamento de uma figura ficcional da trama em relação à sua terra natal. No cinema mais recente também encontramos constantemente esse referencial metafórico e esta é a proposta da reflexão em questão. Delinear os conceitos de Marcel Martin, tendo como direcionamento, os filmes de Jonathan Demme, Ridley Scott e Brett Ratner, bem como a virtuosa série criada por Bryan Fuller, desenvolvida em três temporadas.

Como didaticamente expõe Martin, o símbolo no cinema consiste na produção de conteúdo que seja capaz de sugerir ao espectador mais do que a simples percepção da imagem aparentemente básica, sem elementos para maior interpretação. No caso da metáfora, o autor explica que o recurso montado na intencional busca por assimilação de ideias por parte do espectador é um enriquecedor meio de confrontar a mente do público que consomem o espetáculo de imagens justapostas, transformadas em narrativa (grifo meu). Disto isto, na metáfora, uma imagem é o termo da comparação e a outra é o objeto da comparação, a “coisa” comparada. Em sua construção teórica, ele divide em metáforas plásticas, dramáticas e ideológicas. O que é plástico, em sua concepção, está conectado com a imagem em si, o dramático é um elemento de maior desempenho na ação, pois proporciona uma explicação útil para a condução e compreensão do enredo e o que é ideológico, por sua vez, tem como finalidade fazer brotar na consciência do espectador uma ideia que ultrapasse o limite do quadro e tenha uma representação mais abrangente.

Para explicar os seus conceitos, Martin traz uma cena de Assim é A Vida, com uma mulher a atravessar a ponte Karl, em Praga, tendo destaque para os seus pés fatigados, contrapostos com uma imagem de uma estátua de Cristo, em especial, nos pés da escultura. No caso da metáfora dramática, o autor explica uma cena do soviético Greve, no momento onde um grupo de operários é metralhado por soldados, cena justaposta a um matadouro com animais decapitados. Para a ilustração da metáfora ideológica, temos exposta a famosa cena de Tempos Modernos, com os operários saindo de uma estação montada num fade que traz um rebanho de carneiros refletindo a condição humana, animalizada no contexto histórico em questão. Diferente da metáfora que carrega em si a justaposição de imagens, o símbolo é considerado pelo ator como algo mais complexo pelo fato de a significação não se originar de um choque, mas de residir na imagem enquanto tal. Pode ser um personagem diante de um cenário, o personagem com um objeto, duas ações simultâneas, uma ação visual combinada com um elemento sonoro, inserção de algo que imprima sentido para o que está em cena ou virá adiante ou a inclusão de um elemento exterior ao próprio quadro, tal como a metáfora ideológica.

Em sua teoria, Marcel Martin divide os símbolos em três categorias: plásticos, dramáticos e ideológicos. No desfecho de Hannibal, logo após a polêmica cena do jantar na casa de campo de Paul Krendler, fogos de artifício parecem delinear o fim de uma jornada, com o Dr. Lecter mais uma vez fugitivo, mesmo após a cuidadosa caminhada de Clarice Starling em busca de sua captura. Isso é o que podemos chamar de símbolo plástico. Se uma chaleira apitando reflete o clima de tensão ou um candelabro apagado representa a morte de um personagem, temos o estabelecimento de um símbolo dramático. Os símbolos ideológicos, conforme a concepção teórica de Martin, sugerem ideias que ultrapassam os limites da história que o insere, sendo algo da análise contextual, parte do campo da interpretação, realizada com base em algo apresentado no filme, em diálogo com o trabalho intelectual do espectador em seu momento de ilação. Os símbolos, como bem define o autor, é um conteúdo latente na imagem, em suas palavras, “a forma mais pura e interessante”, pois consiste em algo aparentemente aleatório, mas que na verdade é carregado de significação e permite um entendimento mais abrangente do que é consumido pelo público.

O Universo de Thomas Harris Numa Perspectiva Cinematográfica 

O filme dirigido por Jonathan Demme, como sabemos, não é a primeira incursão cinematográfica pelo universo literário de Thomas Harris. Em 1986, Michael Mann escreveu e orquestrou o romance Dragão Vermelho, narrativa que tinha delineou muito panoramicamente Hannibal Lecter, personagem que seria mais trabalhado em O Silêncio dos Inocentes. Compreender os símbolos e metáforas presentes na produção requer um entendimento geral da obra. Leia a crítica aqui. Feito isso, vamos aos destaques. Observe as imagens selecionadas. São excertos do filme, alguns dos diversos pontos carregados de simbologia, representados por meio das cenas concebidas com esmero pela ótima equipe de Jonathan Demme.

1 – As placas afixadas numa das árvores do bosque que Clarice Starling se exercita na abertura do filme trazem lemas estoicos que integram a filosofia de Marco Aurélio, citado por Hannibal Lecter num dos momentos mais intensos do filme, próximo ao desfecho, diálogo repleto de pistas definitivas que fornecerão a pavimentação necessária para a resolução do caso.

2 – Os policiais em vermelho, destacados dos tons utilizados por Clarice direcionam o olhar para uma das intenções da equipe de Jonathan Demme, isto é, salientar o quão a personagem é vista constantemente pelo olhar masculino, geralmente desaprovador, haja vista a sua condição de mulher num ambiente de cultuado pela presença, majoritariamente, de homens. O papel criador da câmera trata de deixa-la centralizada, envolta em figuras mais altas e aparentemente dominantes.

3 – Observe a pintura na sala de Dr. Chilton. Tal como os personagens que gravitam em torno de Clarice, as figuras pintadas parecem observá-la também. É um elemento da direção de arte que não integra a cena aleatoriamente.

4 – O poder simbólico do vermelho. Aqui, a vibrante cor metaforiza o perigo, isto é, a “descida aos infernos” de Clarice Starling em seu primeiro encontro com o Dr. Lecter.

5 – Nos dois excertos, o gato aparece em destaque. Esta é a cena de início e desfecho do trecho que Buffalo Bill captura Catherine, a filha da senadora Ruth Martin. Quem conhece a simbologia dos gatos na cultura egípcia e noutras representações sabe que o felino representa a morte.

6 – O gato, mais uma vez. Ele reaparecerá adiante.

7 – Aqui, a mariposa da morte é encontrada num dos cadáveres analisados por Jack Crawford e Clarice Starling. É o inseto que estampa o pôster do filme, material de marketing que também utiliza uma fotografia de Salvador Dali. No geral, temos aqui a simbologia central da narrativa, isto é, a transformação da criatura que também é alvo da cobiça de Buffalo Bill.

8 – O toque de Hannibal Lecter em Clarice Starling, faz uma referência, proposital ou não, ao que Michelangelo pintou no teto da Capela Sistina. O Mito de Adão, a transferência de sabedoria, representada de maneira deslumbrante neste trecho do filme.

9 – Os desenhos de Hannibal Lecter em seu cárcere significam bastante para a compreensão do filme. Aqui, temos Clarice Starling retratada com o seu cordeiro, menção ao que foi revelado sobre a personagem em seu momento de troca de informações com o psiquiatra canibal momentos antes.

10 – Hannibal Lecter, em um dos poucos momentos de luxo, recebe como jantar um cordeiro mal passado, prato ironizado pelos policiais que logo adiante, serão vítimas do canibal em sua fuga que deixa para trás, um considerável rastro de sangue.

11 – Aqui, Hannibal Lecter já fugiu, mas sem antes deixar a sua assinatura. Em sua trajetória mitológica, ele transforma a morte em algo tenebrosamente artístico. Kristi Zea, designer de produção, contou ter se inspirado em esboços do pintor Francis Bacon para a construção dos aspectos visuais desta aterrorizante.

12 – Neste trecho, mais uma vez, o gato aparece como felino a rondar uma cena de representação da morte. Aqui, Clarice Starling investiga o quarto de uma das vítimas de Buffalo Bill, tendo em vista encontrar respostas para o enigma deste assassino.

13 – Será Preciosa, a cadela de Buffalo Bill, uma representação irônica dos cordeiros do título do filme? Branca, com pelos volumosos, o canino lembra bastante a iconicidade de um carneiro.

14 – Após abater Buffalo Bill no assustador e tenso desfecho, a câmera capta um dos enfeites da casa que gira vertiginosamente e traz em suas duas faces, a figura da borboleta, representação da metamorfose hedionda ansiada pelo assassino e também a transformação da agente Clarice Starling em sua trajetória de heroína.

Agora, caro leitor, vamos fazer um avanço e observar as significações deste universo uma década após os acontecimentos descritos neste primeiro bloco de análises. Com vocês, Hannibal.

Dez anos após o lançamento de O Silêncio dos Inocentes, Dino de Laurentiis resolveu assumir a produção da sequência. Controverso, Hannibal trouxe novamente Anthony Hopkins como o sofisticado canibal manipulador. Jodie Foster não topou reinterpretar Clarice Sterling e o papel foi para Julianne Moore, atriz versátil que entregou um desempenho dramático igualmente qualificado. Procurado durante as filmagens de Gladiador, o cineasta Ridley Scott assumiu o posto de diretor após a recusa de Jonathan Demme. O antecessor ainda é o melhor filme do universo, mas a trajetória do Dr. Lecter entre a Itália e os Estados Unidos, uma década depois, também possui peculiaridades que o transforma numa narrativa brilhante. A compreensão de seus símbolos e metáforas se faz mais completa com a leitura da crítica do file em si, tendo em vista recapitular o passo a passo de sua estrutura para o devido entendimento das interpretações destacadas adiante. Para isso, leia a crítica de Hannibal aqui.

1 – Um plano curtíssimo destaca a moreia que habita o aquário de Mason Verger. Para quem conhece o romance, sabe que o diretor Ridley Scott e roteirista Steve Zaillian optaram por modificar o destino do personagem. No livro, o animal representa a sordidez do vingativo Verger. Thomas Harris opta por fazer a irmã do personagem sufoca-lo com a criatura enfiada em sua garganta, uma escolha que na via cinematográfica, deixaria o filme com um aspecto muito exagerado. Aqui, a moreia aparece brevemente no aquário e, como animal de estimação do personagem, dialoga bem com o seu comportamento e atitudes. 

2 – Barney, desde O Silêncio dos Inocentes, é um dos agentes penitenciários que sempre tratou o Dr. Lecter com alguma cordialidade, tendo o respeito do canibal. Após o desfecho do filme antecessor, ficamos sabendo que alguns itens do antagonista integram a lista de interesses de pessoas que consomem esses materiais como relíquia. Ridley Scott conta, inclusive, que ficou surpreso ao saber que a geladeira de Jeffrey Dahmer, um dos mais hediondos psicopatas dos anos 1990, recebeu quatro lances em um leilão feito na internet. Há, como sabemos, uma “subcultura” que valoriza este tipo de material e logo na abertura de Hannibal, observamos Barney vendendo a famosa máscara do canibal para Mason. O plano selecionado destaca uma espécie de “bom caráter” de Barney ao salvar o pombo dos carros na pista em movimento. É uma forma do filme mostrar outro lado do personagem que age de maneira “corrupta”, mas que o faz sem ser mal ou leviano com o “outro”.

3 – Ao passar por um xamã em Florença, Hannibal Lecter deixa a atmosfera do espaço exalar a sua sordidez e maldade, algo destacado pela direção de fotografia que capta o olhar do personagem que parece sentir o rastro deixado pelo canibal na breve passagem diante de alguém que, digamos, tem a sensibilidade espiritual aflorada.

4 – O porco do mato apresentado nesta estátua é uma antecipação do animal que aparecerá mais adiante e será parte do plano hediondo de vingança que Mason Verger elaborou para Hannibal Lecter.  

5 – Na ópera inspirada num soneto de Dante, Hannibal Lecter conversa com o Inspetor Pazzi e flerta com a sua esposa, dando-lhe um trecho do material literário e fazendo menções interpretativas que reforçam a sua “paixão” por Clarice Starling. Ao trazer indagações sobre o conteúdo do soneto, ele fala indiretamente da agente que é alvo de seu interesse, em suas palavras, “alguém que torna o mundo mais interessante”.

6 – Aqui, um interessante e simbólico jogo de palavras. Enquanto o Inspetor Pazzi conversa com Clarice Starling, agente que o questiona sobre os perigos ao caçar Lecter, ele comenta algo do tipo “estou indo numa palestra”. Antes, no entanto, se atrapalha e quase diz “Lecter”. O jogo aqui está na formação das palavras, pois palestra em inglês é “lecture”, vocábulo com sonoridade muito próxima ao sobrenome do canibal que nomeia o filme.

7 – Neste trecho, as fotografias de Hannibal afixadas no mural de Clarice Starling simbolizam a sua presença na vida investigativa da agente. Foi uma estratégia dos realizadores de aproximar o máximo os dois, numa dinâmica que diferente do antecessor, trouxe o contato físico apenas para os minutos finais.

8 – Aqui, Hannibal Lecter lembra bastante Nosferatu, personagem do cinema expressionista, figura ficcional com características tangenciais ao canibal, isto é, alguém que gravita em torno do medo, do numinoso, da morte, etc. 

9 – Excerto dos trechos finais, antes do polêmico e grotesco jantar onde Hannibal Lecter faz justiça e coloca Paul Krendler para se alimentar de seu próprio cérebro. Ao levantar-se da cama onde esteve dopada, Clarice Starling tem logo acima um animal decorativo que faz menção aos cordeiros, ao abate, símbolo máximo do primeiro filme.

10 – Um ponto de vista deflagra Clarice a olhar, ainda desestabilizada por conta da medicação, o “cordeiro” que é uma representação simbólica de sua trajetória no mencionado filme anterior.

Agora, vamos fechar a nossa reflexão com o terceiro filme selecionado: Dragão Vermelho.

Brett Ratner é um cineasta competente e no radar de Dino de Laurentiis e equipe, acabou contratado para assumir a segunda tradução do romance Dragão Vermelho, de Thomas Harris, para a linguagem cinematográfica. Os resultados, mais uma vez, são satisfatórios e demonstram toda a beleza artística por detrás do universo criado na literatura. Para melhor compreensão dos símbolos e metáforas destacados nesta reflexão, creio ser importante a leitura da crítica do filme em si, algo que lhe permitirá uma observação mais ampla de análise. Como sabemos, na trama, temos expostos os acontecimentos que antecedem O Silêncio dos Inocentes, desta vez, com a trajetória de Will Graham em busca de respostas para a captura do assassino em série Francis Dollarhyde. Em sua jornada de investigação, o personagem contará com a colaboração maligna de Hannibal Lecter, interpretado com eficiência pelo sempre ótimo Anthony Hopkins. Acesse o texto aqui. Feito isso, vamos aos destaques. Observe as imagens selecionadas.

1 – Sofisticação é o que define Hannibal. Para compreender o seu grau de intelectualidade, os realizadores de Dragão Vermelho buscaram inspiração no escritório de Freud, em Viena, para conceber o cenário de abertura, quando Will Graham digladia com o canibal ao descobrir que ele é um criminoso a ser encarcerado, afinal, o Dr. Lecter fere os códigos civilizatórios que mantém a sociedade longe do “mal-estar” proposto pelo pai da psicanálise em um de seus textos mais interessantes. É um local de aconchego, conforto e aparente segurança, contrário ao que o policial imagina do homem por detrás de atos criminosos hediondos. Por isso, a surpresa ao ser atacado é implacável.

2 – No escritório de Hannibal Lecter temos uma referência ao inseto que domina a simbologia de O Silêncio dos Inocentes, a mariposa da morte, conteúdo incluso no filme que cronologicamente é posterior aos acontecimentos de Dragão Vermelho

3 – A sofisticação de Hannibal também é exaltada nesta mesa de jantar, realizado após um concerto com pessoas da elite econômica de seu meio cultural. Os pratos, a comida em si e os diálogos são cheios de referências ao canibalismo exercido pelo antagonista.

4 – Nos créditos de abertura, as imagens do livro de Francis Dollarhyde emulam situações pontuais do filme e estabelecem informações que não necessitam de explicitação posteriormente. É um símbolo importante, conectado com a ideia de adaptação do material que contemplamos e recurso que antecipa os registros do assassino ao longo do filme.

5 – O uso do espelho trincado ou quebrado como sinal de mau agouro é uma metáfora clássica do cinema e das artes em geral. Aqui, além de observar as vítimas diante de espelhos que servem como parte do ritual criminoso de Francis Dollarhyde, do mesmo jeito que a mariposa da morte servia de referência para os atos de Buffalo Bill em O Silêncio dos Inocentes.

6 – Um pouco adiante, Will Graham observa a sua imagem refletida no espelho deformado. É um sinal pontual para a montanha-russa de emoções que acometerá não apenas o policial, mas aos familiares e pessoas próximas.

7 – Após a sua “descida aos infernos” para encontrar Hannibal Lecter, o canibal que ele prendeu numa quase trágica situação do passado, exposta na abertura, Will Graham sai da “masmorra” entorpecido pelo medo e mal-estar, tendo na sua camisa suada, em especial, na região das axilas, a representação do horror que acabará se se submeter.

8 – Francis Dollarhyde tripudia dos investigadores ao deixar o seu símbolo numa das cenas do crime. Esse é um dos pontos essenciais para a caçada de Will Graham. 

9 – A luz azul surge como uma representação da noite. Ou de um sonho? São duas as opções, somadas ao aproximar de Hannibal Lecter, realizado pela câmera que fecha o quadro e nos faz achar que o canibal está solto, em direção ao policial Will Graham, quando na verdade, estamos diante de um truque de linguagem que depois revela o antagonista devidamente preso e vigiado por uma equipe do presídio ao se encontrar para fornecer informações importantes da investigação de Graham.

10 – Proposital ou não, após Will levar a sua família para ter a devida proteção policial em tempo integral, observamos ele e a esposa a conversar sobre o destino de toda aquela situação. Dentre os animais que aparecem na região do diálogo, temos os “cordeiros” que desde O Silêncio dos Inocentes, simbolizam as vítimas que os protagonistas tentam resgatar dos psicopatas que tocam o terror ao longo do desenvolvimento das narrativas deste universo psicologicamente complexo e visualmente deslumbrante.

E com isso, chegamos ao desfecho. Aos leitores que conhecem o universo e conseguiram identificar outra metáfora ou símbolo nos filmes, deixem os seus comentários, combinado?

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