Este Entenda Melhor propõe tecer algumas linhas informativas sobre dois filmes muito antigos do cinema brasileiro. O primeiro deles pode ser visto, mas o segundo, infelizmente, é considerado um filme perdido. Boa leitura!
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Cerimônias e Festa da Igreja em
S. Maria Estado do R. G. do S. (1910)
é um documentário dirigido por Eduardo Hirtz, registrado em 5 de dezembro de 1909 e lançado no ano seguinte, em 1910. A produção retrata as celebrações de consagração e inauguração da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, localizada em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Entre os momentos destacados estão as cenas da multidão deixando a igreja durante as festividades, a quermesse e a procissão. Também são apresentadas imagens da estação ferroviária, com a plataforma de embarque, os vagões de serviço, os passageiros e a partida da locomotiva. É o filme documental mais antigo no acervo da Cinemateca Brasileira.
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Paz e Amor (1910)
Apresentava uma crítica ácida e bem-humorada aos acontecimentos da campanha civilista e aos costumes políticos e sociais do Rio de Janeiro da época. Com aproximadamente uma hora de projeção, foi exibido com sessões “de hora em hora“, conforme noticiado pelo Jornal do Brasil em 27 de abril de 1910. Infelizmente, o filme é considerado perdido. A narrativa seguia Tibúrcio da Anunciação, uma figura literária da revista Careta, que, semanalmente, comentava os principais eventos através das Cartas de um Matuto. Na história, Tibúrcio é recebido no reino de Olin I (uma referência satírica ao presidente Nilo Peçanha) e, rejeitando a Imprensa como cicerone, é acompanhado por Mussiú Baboseira (representação do poeta Múcio Teixeira) em uma excursão pela cidade. A partir daí, a trama retrata diversos cenários e personagens alegóricos, como Fifi (o cronista Figueiredo Pimentel), o correio santificado (Inácio Costa, diretor dos Correios), e figuras políticas como Rui Barbosa e Marechal Hermes, além de críticas à banda alemã, ao teatro, ao cinema de gênero leve, e até à famosa receita musical do vatapá. O título Paz e Amor fazia alusão à frase atribuída a Nilo Peçanha ao assumir a presidência. A apoteose final homenageava o encouraçado Minas Gerais, destacando-se pela grandiosidade visual. Dentre os quadros, destacam-se:
- Avenida em frente à Casa Americana: Tibúrcio observa a vida cotidiana, desde consumidores em cafés até figuras emblemáticas como Fifi cercado por admiradoras.
- Praça da Aclamação: Uma sátira aos políticos e instituições da época, com menções ao jardim deserto, ao jogo do bicho e à guarda civil.
- Largo de São Francisco: O ponto culminante, com um discurso popular interrompido pela chegada de candidatos e a interação de personagens simbólicos, como Zé-Povo e Chícaras.
O filme tinha direção de Alberto Moreira, coreografia de Teresinha Chierini, roteiro de Antonio Simples, e trazia canções encenadas (era um filme mudo) de Chiquinha Gonzaga (Ó Abre Alas) e Melo Morais (À Sombra de Enorme e Frondosa Mangueira).