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Entenda Melhor | Os Embalos Natalinos de Mariah Carey

O legado e o impacto cultural de All I Want For Christmas Is You, a balada clássica natalina de Mariah Carey.

por Leonardo Campos
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Junto aos símbolos decorativos espalhados ao nosso redor, a música também é um recurso de destaque quando somos anunciados sobre a proximidade dos festejos natalinos. Além das árvores decoradas, dos presépios, da iluminação grandiosa e dos filmes e séries ofertadas pelos streamings e exibidos na televisão aberta, nós ouvimos comerciais, postagens em redes sociais e faixas na programação da rádio que trazem os clássicos do álbum natalino de Simone, bem como os hits internacionais de George Michael, Irvin Berlin, o dueto entre Elton John e Ed Sheeran, sem deixar, é claro, de ter a magia natalina reforçada com a épica All I Want For Christmas, na voz icônica de Mariah Carey, a música que talvez seja mais a cara do Natal nos últimos anos e, provavelmente, em muitas comemorações vindouras deste período de nosso calendário anual. E será sobre esta canção que pavimentaremos o nosso percurso por aqui. Vamos nessa?

Como mencionado na abertura, ao adentramos em qualquer shopping, no mês de dezembro, teremos a certeza de que escutaremos alguma loja a tocar a canção. O tom firme de Mariah Carey é reconhecido a distância. Vou usar essa referência para continuar a reflexão com vocês, caros leitores, combinado? Sigamos: antes de ir para casa, depois desta empreitada, ou chamamos um Uber e, enquanto aguardamos, vamos dar aquela breve olhada nas redes sociais. Pode ser o Instagram, Tik Tok ou até mesmo o já morno Facebook. É certo encontrarmos uma postagem de alguém sobre o período, tendo na canção de Mariah Carey a trilha sonora para o que ilustra. Pode ser uma foto na decoração natalina de algum lugar, ou como num divertido caso recente, um meme sobre a retrospectiva do ano, com uma série de confusões que entra em contraste, para tom de deboche e ironia, aquilo que é visualmente contemplado com a letra edificante da música cantada com bastante emoção pela cantora.

Rainha do Natal, Mariah Carey e sua arrebatadora canção All I Want For Christmas Is You marcaram para sempre a musicalidade natalina. Para melhor compreender o ponto alto da trilha sonora desta época marcante, vamos excursionar pela breve história da composição e produção da faixa, bem como os seus desdobramentos culturais.

Preparados para esta magia?

A História de Uma Canção

Artistas com gravações natalinas é o que não falta nos streamings musicais. Agora ter o alcance que Mariah Carey conquistou com All I Want For Christmas Is You é outra coisa. Ame ou odeie, a canção está sempre no topo quando o assunto é trilha sonora para o Natal, tanto as criadas por nós seres humanos quanto as listas automáticas gerenciadas por inteligência artificial. Historicamente, as canções natalinas ficaram marcadas com maior impacto na cultura depois do advento da destrutiva Segunda Grande Guerra Mundial. Músicos eram convidados para gravar alguns natalinos e se consolidavam como grandes nomes populares. Frank Sinatra, Bing Cosby, Dean Martin, Nat King Cole, dentre outros, estão neste panteão de clássicos de Natal. Adentrar para este “clube” seleto, por sua vez, não é uma tarefa das mais fáceis. Nos anos 1990, em especial, em 1994, Mariah Carey ainda era uma cantora recente, com poucos álbuns. Talvez tenha sido a sua associação com Tommy Mottola, marido na época, o empurrão necessário para que a cantora de voz peculiar conseguisse ter um álbum exclusivamente natalino, mesmo com a pouca experiência de mercado. O resultado, inicialmente tímido, foi um sucesso posterior.

 

Apaixonada pelo Natal, Mariah é chamada por alguns amigos de “Mariah Claus”. A mitologia em torno deste álbum, que inclui o nosso foco aqui, All I Want For Christmas Is You, é tão interessante quanto a própria canção em si. Gravada no verão, para alcançar a atmosfera desejada, os produtores investiram em resfriar ao máximo os ambientes por onde passaram todos os que estavam envolvidos no processo. A decoração natalina cumpriu o papel de mergulhar todos nesta magia natalina, para que os resultados fossem os melhores que pudessem alcançar. Para compor a letra, juntamente com seu produtor Walter Afanasieff, Mariah Carey se inspirou um clássico do cinema e ainda decorou a sua casa da mesma maneira que supostamente o estúdio se dedicou, num método muito comum no teatro e no cinema, a imersão das mais puras, objetivando alcançar o potencial máximo na realização de sua arte. O resultado, como sabemos, é dos melhores. Sinos, backing vocals inspirados e sintetizadores equilibrados estruturam esta canção de amor uptempo lançada em 29 de outubro de 1994, com tempo médio de 04 minutos.

Influenciada pela mixagem dos estilos pop, gospel, R&B e soul, a faixa do álbum natalino ganhou sua projeção e, como já mencionado, é parte intrínseca da musicalidade natalina em escala global. A abertura traz um arranjo que emula elementos de uma caixinha de música. A construção musical é gradual, nos cria uma sensação crescente de excitação. O ritmo logo se acelera, juntamente com todo o gás da voz de Mariah Carey, galopante como as emoções daqueles que vibram com a perspectiva festiva do período natalino. Além da presença da cantora, a camada de teclados e a parede de som proposta pelos produtores inserem os vocais de fundo robustos, criando uma tensão emotiva intensa. Nos quesitos líricos, a canção versa sobre o abandono ao apego materialista do Natal, sendo mais importante estar rodeado de amor nesta época de celebração. Árvores decoradas, guirlandas, Papai Noel, dentre outros elementos simbólicos marcantes podem ornamentar a comemoração, mas o que importa é dividir os sentimentos com quem realmente importa. Tudo isso é incorporado ainda pela inserção das sonoridades das flautas, bateria, violinos e efeitos de baixo.

Mariah Carey e a Representatividade Natalina Clássica

O escritor e músico Daniel Levitin, professor emérito de Psicologia e Neurociência da Universidade McGill, em Montreal, desenvolveu uma pesquisa muito interessante sobre as ressonâncias da musicalidade natalina em nosso cotidiano. Em suas análises, ele reforça que a cultura ocidental utiliza bastante a música como recurso para se acalmar. Para o especialista, as canções de Natal passam algo de confiável para muitas pessoas, afinal, há tempos se estuda os desdobramentos da música como efeito curativo, haja vista a sua capacidade de estimular o sistema imunológico e reduzir o estresse. É uma arte que permite as pessoas retornarem no tempo e evocar memórias. Com essas memórias, então, temos emoções diversas, que podem ser positivas, como a nostalgia, mas também podem ser a raiva ou a frustração, a depender da experiência do indivíduo com o que ouve. A parte positiva permite que a música natalina aumente os níveis de serotonina e libere prolactina, um hormônio conhecido por ser calmante e tranquilizante. Noutros casos, na perspectiva negativa, pode haver liberação de cortisol, o hormônio do estresse que aumenta a frequência cardíaca, caso a experiência com a canção seja traumática, evocadora de memórias ruins.

De todas as formas, a música de Natal é poderosa, assim como os poemas, os contos, as crônicas, os romances, os filmes, as séries e os documentários sobre o tema. É peculiar. Cada um vai ter o seu envolvimento, conforme a estrutura do caminho pavimentado em sua jornada de vida. Conheço gente que detesta a canção de Mariah Carey, pois acha um clichê todo mundo fazer postagens a utilizando como base nas redes sociais. Eu era uma destas pessoas, mas com o passar do tempo, em especial, depois de uma série de memes que acompanhei tendo All I Want For Christmas Is You na trilha sonora, me apaixonei pela música. Importante ressaltar a minha ignorância em relação aos conteúdos natalinos da cantora, lançados desde 1994. Só conheci recentemente. Mariah sempre esteve em minhas listas de reprodução, mas nunca foi a predileta. Só alguns clássicos pontuais, nunca álbuns inteiros. Mas a relação com a canção em questão se intensificou depois de acompanhar um de seus videoclipes, o mais recente, narrativa com excelente desempenho da artista diante da direção de fotografia e do design de produção inspirados. É o poder do videoclipe, magnetizar o espectador diante da imagem e fazer o seu conteúdo em áudio nos acompanhar mesmo depois de encerrada a sessão. Fora isso, temos os filmes embalados pelo sucesso da canção, desde um drama ao animado Desejo de Natal.

Numa entrevista recente, Mariah Carey alegou que é apaixonada pelo Natal. “Quando você cresce com uma vida toda bagunçada, quando pequena, e é capaz de ter essa transformação mudando a sua vida, o que mais pode desejar?”, afirmou interrogativamente a cantora, complementando que “isso é alegria pra mim”. Assim é a visão da artista sobre o período natalino, uma época de composição de novos projetos, novos ciclos, revisão daquilo que foi feito e do que será reajustado mais adiante. É a convenção acerca do Natal, uma época que se transformou, obviamente, num apelo comercial lógico, afinal, vivemos a perspectiva capitalista. Se a própria canção versa sobre outras formas de se estar presente e fazer a magia natalina se estabelecer, os seus desdobramentos culturais dialogam profundamente com a dinâmica do produto, isto é, o tom valioso de uma mercadoria: All I Want For Christmas Is You é um dos itens mais cobiçados do mercado natalino. E todos nós amamos tudo isso. Paradoxal? Sim, mas quem se importa quando Mariah estabelece a sua voz firme e nos embala com o excelente arranjo desta que é uma das mais envolventes baladas natalinas dos últimos tempos?

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