A Warner e a DC Comics não estavam para brincadeiras na San Diego Comic-Con de 2016. Não só liberaram mais um trailer de Esquadrão Suicida, o terceiro filme do Universo Cinematográfico DC, com lançamento previso para 04 de agosto de 2016, como trouxeram o aguardadíssimo primeiro trailer do filme solo da Mulher Maravilha e uma surpresa, o sizzle reel de Liga da Justiça, o primeiro com lançamento para 1º de junho e o segundo para 16 de novembro de 2017.
Ficamos na dúvida de como fazer nossa costumeira análise e, então, decidimos colocar tudo em uma longa e única postagem. Espero que gostem do formato.
Mas, antes, claro, que tal conferir novamente os dois trailers?
Primeiro o da Mulher Maravilha:
Agora o da Liga da Justiça:
Viram e reviram tudo? Vamos lá então!
Mulher Maravilha
Você é um homem.
Com essa frase, dita com um misto de certeza, dúvida e curiosidade, o trailer começa já com o pé direito. Logo vemos Gal Gadot como a Mulher Maravilha e Chris Pine como Steve Trevor eu seu uniforme de piloto, provavelmente logo depois de ser salva por ela. O primeiro aspecto que precisa ser dito com todas as letras é: Gal Gadot É a Mulher Maravilha. Leram direitinho? Só para ter certeza que leram, aí vai de novo:
GAL GADOT É A MULHER MARAVILHA
Olha, meu primeiro amor platônico de infância foi Linda Carter, a Mulher Maravilha nas três temporadas da série icônica que durou entre 1975 e 1979. Com isso, sempre tive dificuldade de ver qualquer outra atriz como a Mulher Maravilha. Além disso, não gostei de Batman vs Superman, mas a presença da Mulher Maravilha lá, apesar de completamente deslocada do resto do filme todo (foi um dos problemas que tive com a obra), foi, se vista isoladamente, um dos poucos pontos altos. Seja Gadot vestida como civil ou pronta para a guerra com seu uniforme, ela mostrou que consegue sim segurar muito bem a onda como a mais famosa heroína dos quadrinhos e não faz feio mesmo diante da imbatível beleza de Linda Carter.
Então, não me encham a paciência com “mimimi, ela é magra demais”, “mimimi, ela é pequena”, “mimimi não tem peito e bunda”, “mimimi, prefiro a fulana de tal”. Não tenho dúvidas que Gadot vai arrebentar no filme, mas, claro, ele precisa ser bom de verdade para que a presença dela não se torne vazia.
Mas eu divago. Voltemos ao trailer.
Repararam outra coisa nesse início? Luz. Muita luz. Claridade para todos os lados. Belas tomadas em plano geral de Temiscira (ou pelo menos da costa da Ilha Paraíso) que já impõem o ar imponente do local, com grandes desfiladeiros dando em água de azul caribenho.
Reparam mais uma coisa nesse início? Atmosfera leve. Sim, a Warner e DC enfiaram os pés pelas mãos carregando no lado sombrio de seus heróis, heróis esses que sempre foram muito coloridos e maiores do que a vida. Afundar Superman e Mulher Maravilha no lodaçal de sombras do Batman não faz muito sentido e, mesmo considerando o Homem de Aço como um caso perdido, pelo menos não forçarão a barra, pelo que parece, com Diana Prince.
Uma bela e fantasmagórica música começa quando somos apresentados a um pouco mais de Temiscira, um conselho de Amazonas onde provavelmente o destino de Trevor e/ou de Diana será decidido. Ou pode ser uma cena mais para frente no filme, talvez um conselho de guerra para decidir o que fazer em relação ao “mundo dos homens”, já que muito provavelmente a existência do Paraíso será revelada em algum momento.
Acho particularmente interessante a mescla muito simbiótica entre tecnologia, mitologia e natureza. Essa é uma tomada que nos deixa curioso para ver a cidade em si e quase torcer para que o filme todo se passe por lá, mas sabemos que não será assim.
Agora vemos a Rainha Hipólita, vivida por Connie Nielsen, aparentemente dando adeus para sua amada filha e fica um aviso singelo: “Tenha cuidado, Diana. Eles não te merecem.”, já como narração em cima das tomadas seguintes. A música amplifica essa atmosfera incerta sobre o futuro da heroína.
Aqui, aparentemente, vemos a chegada de Diana, com Steve, ao “mundo real”, durante a 1ª Guerra Mundial. O que é de nota é o design de produção absolutamente fantástico, com figurinos de época variados e aparentemente exatos refletindo a Europa em ebulição durante seu primeiro grande conflito.
Filmes de época com super-heróis são raros e temos que tirar o chapéu para eles somente pela coragem de colocá-los nas telonas. Tivemos apenas três ou quatro (de grande orçamento e com heróis mainstream) antes deste, com apenas um realmente comparável: Capitão América: O Primeiro Vingador. Estou falando de uma comparação estrutural, claro. Em outras palavras, ambos se passam durante grandes conflitos mundiais.
Ver Diana vestida em roupas civis nos faz imediatamente lembrar das sequências em que ela aparece pela primeira vez em Batman vs Superman, esbarrando com Bruce Wayne na festa de Lex Luthor. No segundo quadro, vemos Danny Huston com uniforme de um oficial alemão. O papel exato dele não foi ainda revelado, mas há rumores de que ele viverá Erich Ludendorff, o general alemão que existiu de verdade e foi líder geral dos esforços de guerra de seu país. Diana pare caminhar a seu encontro (mas pode ser apenas a montagem esperta) para transformá-lo em picadinho com sua espada escondida a olhos vistos, em uma excelente jogada de figurino. Imagino que essa espada aí, nesse lugar deva incomodar um tantinho, especialmente se ela tiver que sentar à mesa, mas…
Logos da Warner e da DC customizados para o filme e…
uma tomada em plongée da diretora Patty Jenkins do que parece ser algum outro tipo de conselho ou reunião.
E então vemos Elena Anaya com uma perturbadora máscara de “Fantasma da Ópera invertido”. Que papel ela fará? Sinceramente, não tenho a mais remota ideia! Aguardo sugestões e palpites de vocês!
Steve Trevor antes ou depois de achar Temiscira?
Aqui o diálogo entre Steve e Diana volta. A pegada também é leve, com Pine novamente soltando uma leve brincadeira depois que Diana diz que ela foi trazida à vida por Zeus. Trazida à vida por Zeus? Hummm, há um desvio na história dos quadrinhos aqui, não? Hoje em dia, depois que Brian Azzarello escreveu a Mulher Maravilha dos Novo 52, ela tornou-se filha de Hipólita com Zeus, sendo que a origem clássica é que ela teria nascido de uma escultura de barro feita por Hipólita, graças à magia dos deuses, não necessariamente Zeus.
Essa tomada na caverna parece mostrar Euboea, vivida por Samantha Jo, cuidando de Diana, mas, muito sinceramente, é difícil de identificar com algum grau de certeza.
E o “mundo dos homens” invade a Ilha Paraíso. Confesso que preferiria ver um filme ou completamente em Temiscira, lidando com problemas mitológicos ou completamente no “mundo dos homens” em plena 1ª Guerra Mundial. Mas, claro, as cartas estão na mesa e ninguém sabe o que vai. Patty Jenkins foi uma ótima diretora em Monster: Desejo Assassino, mas seu currículo não é lá tão extenso para dizer muito mais do que isso. O que vemos aqui é espetacular, mas espero que não seja história demais para contar em tempo de menos.
De toda forma, nada como ver Robin Wright como a General Antíope, tia de Diana, chutando e flechando bundas. Épico é pouco!
Algumas tomadas rápidas que apontam para o já clássico romance entre Diana e Steve. Nada muito especial, porém, para se ver.
Já tínhamos visto a espada (ou pelo menos, parte dela. Agora é vez do detalhe do escudo (e reparem como esse não é o mesmo escudo usado em Batman vs Superman, já que lá ele não tinha esses detalhes todos) e do laço da verdade, marca registrada da Mulher Maravilha, criada por William Moulton Marston que, não coincidentemente, foi o inventor do detector de mentiras.
Aplausos, aplausos, aplausos! Essa sequência, com Diana lutando na “terra de ninguém” entre trincheiras em plena 1ª Guerra é absolutamente espetacular. Ela joga morteiro para longe, segura tiro de metralhadora (ok, ela segurou aquele raio devastador do Apocalypse, mas vê-la lutando contra algo mais real é muito mais interessante) na sequência seguinte e assim por diante. Novamente o design de produção impressiona pelos detalhes dos figurinos e dos interiores das trincheiras.
E, então, vemos uma sucessão bem montada de sequências que parecem ser de três momentos diferentes. Uma em um bar ou restaurante com Diana com uniforme do exército, outra em um vilarejo e a terceira no que parece ser a mesma terra de ninguém da sequência anterior. A montagem é frenética, mas clara e nos mostra a heroína usando seu laço brilhante pela primeira vez e também a espada, além de deixar evidente o quão poderosa fisicamente ela é, com seu corpo capaz de quebrar um rifle em pedacinhos. A coreografia de luta é outro ponto de destaque, notadamente o momento em que ela usa o escudo para deslizar no chão.
E, então, com um trilha sonora já bem alta entra o excelente logotipo do filme. Mas calma que não acabou!
Somos apresentados a Etta Candy, que por sua vez se apresenta para Diana como a secretária de Steve Trevor. A Mulher Maravilha não faz ideia o que é uma secretária e a definição de Etta – eu vou onde ele me manda ir e faço o que ele me manda fazer – não ajuda muito na compreensão da Amazona, que logo diz que “de onde eu venho, isso é escravidão”. Uma excelente forma de acabar com um trailer digno da super-heroína.
Ah, a gordinha Etta Candy, para quem não sabe, é uma das mais tradicionais personagens da mitologia da Mulher Maravilha, tendo aparecido pela primeira vez em Sensation Comics #2, de fevereiro de 1942 como a primeira amiga de Diana.
Liga da Justiça
Primeiro, um esclarecimento: o que foi apresentado na Comic-Con não foi exatamente um trailer, mas sim um sizzle reel. O que é um sizzle reel? Bem, ele tem a mesma função de um trailer de filme, ou seja promover a obra em si, mas ele é menos, digamos, formal, normalmente, no caso de cinema, formado por sequências temática montadas de determinada maneira. Não há logos das produtoras ou créditos. E é o que vemos aqui: são 2’45” de uma muito bem costurada montagem de sequências que dão o tom de Liga da Justiça, tanto a pegada mais leve (sim, mais cômica, e isso é bom!), como também a temática de formação da Liga em si.
Claro que ainda é MUITO cedo para dizer qualquer coisa, mas Zack Snyder parece ter aprendido uma lição com a receptividade truncada de Batman vs Superman (e antes que venham com paus e pedras, notem que TAMBÉM o público deu nota CinemaScore mais baixa que o normal para filmes desse tipo e isso antes dos críticos limarem a fita) e pelo menos o que ele apresenta aqui é bem diferente daquela coisa pesada e bagunçada que vimos esse ano.
Bruce Wayne (Ben Affleck) é o narrador e o, digamos, protagonista do que vemos. Ele é o motor que aparentemente juntará a Liga depois de ter sua visão de mundo renovada pelo sacrifício do Superman e pelo sonho doido que teve e pela visão do Flash chegando do futuro. Usando os convenientes arquivos de Lex Luthor (com direito a logotipos e tudo mais) que a Mulher Maravilha e Wayne fizeram o favor de abrir um a um em BvS, ele vai atrás de Aquaman, Flash e Ciborgue.
O primeiro, pelo menos no trailer, é Khal Dro… digo, Aquaman (Jason Momoa), o cara que é loiro, tem roupa laranja, fala com peixes e anda em um cavalo marinho rosa…
Mas, sem brincadeira agora, o Arthur Curry que vemos é beeeeeeeeeeeem diferente do Aquaman a que estamos acostumados. O mais próximo que já vimos disso em quadrinhos é o Aquaman dos anos 90, com barba, sem mão e normalmente fulo da vida o tempo todo. Mas esse Curry aí de Momoa é um ogro do mar, pelo visto, um cara que parece ter coração de ouro (ele ajuda o vilarejo no inverno, com Wayne explica), mas que não está com a menor vontade de se juntar ao mundo da superfície em uma luta para salvar a Terra das mãos de Steppenwolf e Darkseid a pedido de um sujeito que se veste de morcego.
A narração de Wayne – que, na verdade, parece ter sido extraída e deslocada de um diálogo direto com Curry – fala de uma ameaça incerta e não sabia que “está vindo. As imagens que vemos parece nos jogar para o passado (para a Idade Média?) quando uma Caixa Materna é encontrada (ou enterrada). Não sabe o que é a Caixa Materna. Bem, note que ela aparece rapidamente no clipe do Ciborque em BvS, ou seja, não é a primeira vez que a vemos. Mas uma explicação rápida e mega-simplificada é que ela é uma caixa super-poderosa vinda de Apokolips, planeta governado pela supervilão Darkseid. É como o Cubo Cósmico ou Tesseract da Marvel (calma DCNautas, estou só tornando as coisas bem mastigadinhas, não tenham uma síncope!), só que menos brilhosa.
Na medida em que vemos Diana, Arthur, Victor Stone (Ray Fisher) e Barry Allen (Ezra Miller), o voiceover de Wayne deixa claro o que ele está procurando: guerreiros poderosos para formar uma aliança para “nos defender”. Onde é que já ouvi isso antes? Ahh, um tal de Fury falando na “iniciativa Vingadores”… (calma, foi só para provocar vocês, DCNautas fanáticos…). Corta para Wayne novamente, que diz que é por isso que é tão importante que ele “veja esse homem”, falando de Aquaman para o próprio Aquaman.
Wayne: Barry Allen! Bruce Wayne.
Allen: Você diz isso como se isso explicasse porque há um estranho completo sentado no escuro em minha segunda cadeira favorita.
O diálogo acima – genial, por sinal – que é falado em um “intervalo” de Icky Thump, do The White Stripes, estabelece a personalidade de Barry Allen, o Flash, logo de cara. Ele é o engraçadinho do grupo, o nerd isolado que solta piada mesmo diante de um cara que nunca viu na vida. O próprio Wayne parece estar mais relaxado aqui, mais jovial.
Aliás, o cafofo de Allen é uma mini-batcaverna, não? Wayne deve ter se sentido em casa. E uma coisa? Aquela caveira azul com fundo rosa em um dos monitores tem alguma relação com o Esquadrão Suicida?
A sequência Wayne/Allen é interrompida para a resolução da sequência Curry/Wayne, em que aprendemos que o Aquaman não gostou muito da proposta do Morcegão. Mais uma vez, o tom é leve, com diálogo cheio de gracinhas entre Bruce e Diana. Viu, Snyder? Não precisa encher seu filme de coisas tristes e sombrias. Pode relaxar um pouco, deixar as raízes dos quadrinhos de uma época menos cínica permear seus filmes. Não é pecado. Só fã chato que acha que “seu herói é sério” é que vai dar piti histérico.
E, em uma sequência fortemente inspirada nas do Mercúrio em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido e X-Men: Apocalipse, logo depois de Allen dizer que “quem quer que você seja, seja quem você procura…”, Wayne arremessa um batarangue que tem função dupla: revelar quem ele é e verificar a extensão dos poderes de Flash. A cara de Allen percebendo quem é o sujeito de meia-idade de terno em seu esconderijo é sensacional. Tudo funciona muito bem, inclusive a revelação da existência da Iniciativa Vinga…, digo, da formação da Liga e o “sim” mais do que rápido de Flash. Boas tiradas do começo ao fim, inclusive Allen pedindo para ficar com o batarangue, pois, afinal, quem em sã consciência não pediria isso?
Em seguida, vemos uma sucessão de imagens dos heróis. Batman pulando, Mulher Maravilha cruzando os braceletes, o Ciborgue “contemplando”, o Flash de uniforme fazendo o que ele faz de melhor e, finalmente, Aquaman na neve. De destaque mesmo, só a versão robótica do Ciborgue e o uniforme do Flash.
Sobre Ciborgue, o que vemos é pouco demais para julgar agora de maneira definitiva. O que posso dizer é que gostei por ele se parecer bastante com sua versão dos quadrinhos, ainda que ele seja mais cibernético do que eu gostaria. Achei-o, porém, muito “iluminado” demais. Luzinha azul na testa. Vermelho no olho e no peito. Parece uma árvore de Natal. Mas suspendo meu julgamento até ver mais dele em ação.
Sobre Flash, o uniforme é mais em forma de “armadura” do que esperava, mas faz sentido e respeita bastante o clássico. Aqui, o desafio era grande. Não só Grant Gustin, o Flash da TV, consolidou-se no gosto popular como uma ótima versão de Barry Allen (estou apenas repetindo o que dizem, não necessariamente o que acho…), como o uniforme da série é muito, mas muito parecido com o dos quadrinhos. Assim, era importante afastar o personagem de sua contrapartida televisiva. Se Miller naqueles segundos em BvS não me convenceu, agora ele parece ser realmente uma boa escolha, ainda que ele em tese se pareça espiritualmente com Gustin. Mas o uniforme do Flash é bem diferente do da série sem ser completamente ridículo. Não é, pelo pouco que dá para ver, algo que me agrade completamente, mas, em linhas gerais, passou no teste.
Não faço ideia que lugar é esse, mas a tomada é “quase” épica, por mostrar os quatro juntos. Só faltou o Conan dos mares, já que o Azulão, até segunda ordem, está mortinho da silva…
Ciborgue: Ouvi falar de você. Não achei que fosse real.
Batman: Sou real quando é útil.
Diálogo final novamente no lado mais jocoso, mas com tom sério. Só faltava Batman mandar um “eu sou o Batman”…
Vou logo dizer: já tinha visto esse logo e não achei nada demais… Sei lá… Simples demais… Mas que se dane o logo, não é? O importante é o filme!
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Bom, galera, é isso aí! Espero que tenham gostado, mas comentem aqui embaixo o que mais viram nesses trailers e o que eu porventura tenha dito de besteira. Contribuam e quem sabem eu não faço uma versão 2.0 dessa postagem com todas as contribuições – com créditos – de vocês?
*Fica um especial agradecimento ao Luiz Santiago por ter catado as imagens e por tê-las organizado na postagem.