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Entenda Melhor | G.I. Joe (Comandos em Ação): 40 Anos de Quadrinhos

Dos bonequinhos aos quadrinhos.

por Ritter Fan
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Com os direitos de publicação dos quadrinhos de G.I. Joe (Comandos em Ação), brinquedos criados por e de propriedade da empresa Hasbro, sendo passados em 2023 para a Skybound Entertainment, empresa de Robert Kirkman ligada à Image Comics, e, considerando as decisões editoriais tomadas, achei por bem contar brevemente a história dos referidos quadrinhos para servir de contexto às futuras críticas dos arcos das HQs, tanto das novas (um projeto mais imediato) quanto das antigas (um projeto de longo prazo). Vamos lá?

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G.I. Joe, termo que genericamente designa “soldado” (especificamente das Forças Armadas dos EUA) e que passou a ser mais comumente usado como tal na Segunda Guerra Mundial (a sigla G.I. tem diversos significados que vão de galvanized iron até general infantry passando por general issue e o nome Joe é gíria para “pessoa comum”), tem sido usado como título de tiras de jornal e de quadrinhos sobre guerra nos Estados Unidos desde pelo menos 1942, primeiro pela King Features Syndicate e, depois, pela Ziff-Davis, que tinha o hábito de começar suas publicação com a edição #10, e, em um punhado de ocasiões, pela DC Comics. A expressão G.I. Joe, nessas publicações, era usada unicamente em seu significado original, de soldado, com histórias não estruturadas, ou seja, que não gozavam necessariamente de continuidade ou personagens que de alguma forma lembrem a versão que se tornaria famosa nos quadrinhos a partir de 1982.

(1) G.I. Joe #10 da Ziff-Davis e (2) Showcase #53 da DC Comics.

G.I. Joe, como efetivo título de quadrinhos de propriedades licenciadas da Hasbro, foi usado em relação à duas linhas de brinquedos:

(a) G.I. Joe: America’s Movable Fighting Man, depois G.I. Joe: Adventure Team: Bonecos articulados de guerra de 30 cm lançados em 1964 que inicialmene representavam somente as Forças Armadas dos EUA, mas que, depois, foram diversificados e que eram anunciados para meninos como action figures (ou figuras de ação, em português), para evitar associação com “bonecas”, criando o termo que até hoje é usado e que, no Brasil, foi lançado como Comandos em Ação: Falcon e apenas Falcon. As HQs dessa linha foram batizadas de The Adventures of G. I. Joe e eram normalmente vendidas em conjunto com os brinquedos. Algumas dessas edições – muito poucas, na verdade – foram publicadas no Brasil.

Parte da linha Comandos em Ação: Falcon lançada no Brasil.

(b) G.I. Joe: A Real American Hero: Com o gigantesco sucesso das “figuras de ação” de Guerra nas Estrelas lançadas no começo de 1978 e que foram fabricadas no tamanho incomum (para a época) de 9,5 cm, a Hasbro criou, em 1982, uma nova linha de bonecos de guerra de tamanho reduzido batizada de G.I. Joe: A Real American Hero, usando desenhos animados e quadrinhos com o mesmo nome como estratégia de marketing de forma a “criar demanda”, como era regra nos anos 80 e tornou-se padrão da indústria e como Box Brown explica em detalhes em O Efeito He-Man. Algumas edições dessa HQ foram publicadas no Brasil sob o título Comandos em Ação.

A primeira geração dos brinquedos G.I. Joe (Comandos em Ação) em tamanho reduzido, conforme lançada nos EUA.

A HQ G.I. Joe: A Real American Hero, também conhecida como G.I. Joe ARAH e G.I. Joe RAH, foi originalmente publicada pela Marvel Comics, com roteiros de Larry Hama, coincidentemente trabalhando, à época, com conceitos para a HQ Fury Force sobre uma tropa miliar futurista que ele, então, transportou para G.I. Joe. Com isso, Hama ajudou a expandir exponencialmente a linha de brinquedos da Hasbro, inclusive com a criação de diversos personagens e do principal grupo inimigo, o Comando Cobra, da mesma forma que a Hydra era a inimiga recorrente de Nick Fury.

O sucesso dos quadrinhos foi inicialmente tímido, mas, em seguida, tornou-se tão relevante que eles passaram a ter vida independente dos brinquedos e da animação, com as edições mensais sendo publicadas de junho de 1982 até dezembro de 1994, chegando a 155 números do título principal e diversas outras do títulos paralelos G.I. Joe: Yearbook, que teve quatro edições publicadas em 1985 e 1989, G.I. Joe: Special Missions, spin-off do título principal a partir de seu 50º número e que teve 28 edições e, finalmente, duas minisséries de quatro edições cada, G.I. Joe: Order of Battle (1986-1987) e G.I. Joe and the Transformers (1987). Apenas a título de curiosidade, entre 1988 e 1989, a Blackthorne Publishing lançou sete edições 3D de G.I. Joe que não são consideradas canônicas e que precisam ser lidas com aqueles irritantes óculos de lentes coloridas.

Capas de (1) G.I. Joe #1; (2) G.I. Joe #21, a icônica “edição silenciosa”; (3) G.I. Joe: Special Missions #1 e (4) G.I. Joe: Order of Battle #1, todas da Marvel.

Depois do fim da licença para a Marvel Comics, a coisa fica BEM complicada e a linha temporal de editoras pode ser resumida da seguinte forma:

(a) Dark Horse Comics (de 1995 a 1996): A editora lançou uma minissérie em quatro edições com base na linha de brinquedos G.I. Joe Extreme e, depois, uma publicação mensal que, porém, só durou quatro edições. Depois disso, a propriedade ficou sem HQs por cinco anos. Normalmente entende-se que essas publicações não são canônicas.

As capas das quatro edições da minissérie original da Dark Horse Comics.

(b) Devil’s Due Publishing (de 2001 a 2007): A editora lançou, por intermédio da Image Comics, uma minissérie em quatro edições que foi um grande sucesso e tornou-se uma publicação mensal sem a distribuição da Image e que continuou as histórias da Marvel Comics sete anos depois dos eventos da edição #155 em dois títulos sucessivos. Depois disso, a propriedade ficou sem HQs por três anos. Na época em que foi publicada, entendia-se que essas publicações eram canônicas (no entanto, vide IDW logo abaixo).

As capas das quatro edições da minissérie original da Devil’s Due.

(c) IDW Publishing (de 2010 a 2022): Com o fim da licença da Devil’s Due, a IDW passou a publicar as HQs da propriedade fazendo um completo reboot da franquia nos quadrinhos por meio de diversos títulos diferentes, entre minisséries e publicações mensais. No entanto, a editora também continuou a linha narrativa da Marvel Comics por meio da publicação da edição #155 ½ de G.I. Joe: A Real American Hero, que foi distribuída gratuitamente e que foi seguida pela edição #156, seguindo até a edição #300, em 2022. Todas essas edições foram escritas por Larry Hama, o roteirista original, e elas ignoraram os eventos dos quadrinhos da Devil’s Due, na prática “descanonizando-os”, pelo menos até informação em contrário.

A capa dupla comemorativa da edição #300 – a última – da IDW.

E, com isso, chegamos ao presente, com a licença da IDW expirada em 2022 (tanto para G.I. Joe quanto para Transformers) e a Skybound, então, adquirindo os direitos de publicar as duas propriedades em 2023, algo que foi e continua sendo feito de DUAS maneiras diferentes e simultâneas no que diz respeito à G.I. Joe:

(a) Universo Energon: Recomeços tanto de Transformers (por meio dos títulos mensais Void Rivals e Transformers) quanto de G.I. Joe (por meio de quatro minisséries de quatro edições cada – Duke, Cobra Commander, Scarlett e Destro – que servem de introduções ao título G.I. Joe que será lançado em novembro de 2024) em um universo compartilhado (as minisséries Scarlett e Destro não haviam acabado na data de publicação do presente artigo, pelo que ainda não há críticas).

(b) G.I. Joe: A Real American Hero: Continuação da história iniciada pela Marvel Comics conforme continuada pela IDW Publishing novamente como Larry Hama como roteirista a partir da edição #301, que começa diretamente do ponto em que a edição #300 parou, o que é outra indicação de que as publicações da Devil’s Due foram descanonizadas.

O lendário Larry Hama e a capa de G.I. Joe: A Real American Hero #301, da Skybound.

Dessa maneira, a Skybound joga nas duas pontas, ou seja, recomeça G.I. Joe para novos leitores com um história de origem interligada com os Transformers e continua a longeva “história única” iniciada em 1982 para leitores de longa data. Trata-se de uma estratégia que pode levar a alguma confusão, mas que não é tão complexa assim, até porque a própria IDW já fizera algo semelhante, mantendo o novo andando em paralelo, mas sem conexão, com o “velho”. Resta só saber por quanto tempo mais Larry Hama continuará à frente do título que escreve – ainda que com interrupções – há mais de 40 anos.

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