Ao longo de muitos textos com lançamentos, catálogos, séries e obras literárias, dissecamos para os leitores um percurso crítico bastante pormenorizado da história do profícuo subgênero horror ecológico. São materiais oriundos de uma pesquisa que busca demonstrar como determinados segmentos da indústria cinematográfica modificam as suas estruturas ao longo da história, encontram o desgaste pelo meio do caminho, mas conseguem manter certo grau de interesse do público e adaptação para as novas gerações. Ajustam-se os contextos históricos, mas os núcleos dramáticos parecem permanecer firmes. É assim desde Os Pássaros, passando pelo ponto alto do subgênero dos anos 1970, isto é, o clássico moderno Tubarão, numa travessia que nos apresenta serpentes, ursos, piranhas, ratos, felinos, dentre tantos outros animais, até mesmo narrativas que buscaram reimaginar dinossauros, o ousado projeto de Jurassic Park, influenciador de muitos filmes do estilo realizados após os anos 1990. Esse texto panorâmico é dedicado aos interessados não apenas em consumir tais filmes, mas também compreender os mecanismos de produção por detrás de obras pontuais do segmento, elucidadas em pormenores por aqui, na análise de alguns featurettes que explicitam como e por que algumas produções foram realizadas.
Este é um convite para você, leitor, embarcar no fechamento de um ciclo de reflexões sobre o tema que nos acompanha há algum tempo. Vamos nessa?
Os Pássaros: O Filme de Monstro de Hitchcock
Uma grandiosa aula de cinema em apenas 13 minutos. Eis a estrutura do featurette em questão, uma breve, mas elucidativa exposição do legado de Os Pássaros, o filme de monstro de Alfred Hitchcock, cineasta que navegava numa corrente favorável após o estrondoso sucesso comercial e crítico de Psicose. Interessante observar que nestes materiais, editados com cenas de filme de Universal Pictures, as entrevistas e a narração não leva em consideração pontos de partida literários, isto é, por mais que Spielberg tenha se inspirado em Hitchcock para fazer Tubarão, não há menções ao romance de Peter Benchley, assim como não há referências ao conto e ao romance de Daphne du Maurier e Frank Baker, respectivamente, materiais que de alguma forma encontraram ressonâncias na história sobre a ameaça da natureza concebida cinematograficamente pelo “mestre do suspense”. Com depoimentos dos cineastas Joe Dante, John Carpenter e Ron Underwood, juntamente com colocações bem interessantes de David J. Skal, autor de The Monster Show, dentre outros especialistas em Hitchcock e História do Cinema, o featurette intercala cenas de O Ataque dos Vermes Malditos, Tubarão e A Múmia, demonstrando os paralelos metalinguísticos destes filmes mais atuais, em comparação aos trechos “originais” de Os Pássaros. Segundo os relatos, naquela época, nunca havíamos visto algo tão delicado se transformar numa ameaça. Se fossem condores, falcões e abutres, tudo bem, mas ali eram pardais e outras aves de nosso convívio, no papel de algozes.
A agitação cultural de períodos tensos da história, como a Grande Depressão oriunda da Crise de 1929 deram origem ao constante aparecimento de Drácula, Frankenstein, etc. As crises do pós-guerra, o advento desastroso os acontecimentos em Hiroshima e as tensões políticas que se aproximavam na década de 1960 permitiram que esses filmes ganhassem base contextual bastante crítica, indo além do mero entretenimento massivo, ponto de vista industrial que deve ser visto por outros vieses também. Os monstros do horror ecológico agora eram criaturas da natureza, não mais bestas criadas exclusivamente pela intervenção humana em laboratório. Baseado na ideia de “vingança da natureza”, mas subvertendo a linguagem destes filmes, Hitchcock entregou em Os Pássaros uma leitura sobre a desarmonia humana. A atração por algo atípico, os pássaros benignos representando uma ameaça terrível, cenas diurnas em vez de passagens soturnas na calada da noite e madrugada e a falta de explicação para os mistérios em torno dos ataques dão ao filme o tom de horror ideal para causar ainda mais impacto e importância histórica. Para John Carpenter, as tensões entre as mulheres e a complexidade das relações entre os personagens, elementos internos, é o que fazem de Os Pássaros um horror sobre a falta de harmonização dos humanos sendo exalada para as criaturas da natureza.
Desta forma, os monstros do filme fazem uma ponte entre as bestas das décadas de 1930 e 1940 com o novo terror oriundo dos períodos seguintes. Outro ponto interessante do featurette é a menção ao significado dicionarizado de monstro, apresentado pelo narrador. Eles apontam que a palavra do latim vem de “demonstrar” e também designa “presságio”, “algo que chegará”, etc. Representantes do lado obscuro da humanidade, Os Pássaros é um filme de monstros que fala muito dos seres humanos, pessoas que na narrativa lutam contra um inimigo em comum, mas também se digladiam uns com os outros. Tensos, estão constantemente envoltos na ameaça e com foco na destruição do mal para o reestabelecimento da ordem, algo que Hitchcock não faz acontecer em sua produção que até ousa em deixar o final aberto e não inserir “fim” como letreiro de encerramento. A ambiguidade do encerramento, com a coesão entre os humanos a permitir que os personagens consigam escapar da ameaça, reforça a tese de John Carpenter, mencionada anteriormente. Por fim, a cena do ataque do tubarão ao mergulhador na jaula submersa faz referência ao trecho do clássico em que a protagonista é atacada na cabine telefônica. As crianças desesperadas na praia de Amity em Tubarão referenciam a cena do ataque das aves na escola em Os Pássaros, dentre outras tantas menções ao clássico realizadas por diversos filmes do segmento horror ecológico, produzidos posteriormente, um subgênero ainda muito relevante na atualidade.
De Volta ao Jurassic Park: Achando O Mundo Perdido
Extenso e cheio de pormenores, esse featurette explica os processos de bastidores em todas as etapas de produção de O Mundo Perdido – Jurassic Park, dirigido por Steven Spielberg. O cineasta conta que o seu foco era a lata de desodorante que disfarçava o DNA de oito espécies de dinossauros, levada pelo sabotador do projeto no primeiro filme. Para quem lembra, ao sofrer o incidente com o carro e ser atacado pelo dinossauro que expele veneno antes do ataque, o personagem deixou cair a lata que rolou e ficou perdida lá pelo solo da densa floresta, filmada em destaque por Spielberg, realizador que deixou essa cena como algo especial caso fosse criar uma sequência para o seu filme no futuro. Depois de levar algum tempo nos bastidores de A Lista de Schindler, ele achou melhor ter um descanso, antes de adentrar no processo de realização desta continuação que acabou sendo uma adaptação do romance homônimo de Michael Crichton, uma reintrodução dos dinossauros em relação com os humanos, mas tudo agora dentro de uma proposta filosófica diferente. Com elenco de muita classe e ponto de partida literário que tomou de empréstimo traços de King Kong e A Ilha Misteriosa, a sequência de Jurassic Park combinou o avanço dos efeitos visuais com os truques dos efeitos especiais e seus animatrônicos e jogos com sobreposição de imagens. Para a criação de animais verossímeis, o consultor Jack Horner, especialista em paleontologia, foi chamado para dar assistência e supervisionar as escolhas e empregar aos bichos a ideia de peso, gravidade e movimento calculados para deixar o filme com o máximo de proximidade com a “realidade” em torno destas criaturas. Desta vez, com a presença do temido T-Rex em dose dupla, os animais são apresentados em seus espaços naturais e também trazidos para uma fatídica tentativa de manipulação para sobrevivência num parque no interior do continente, um episódio com dimensões catastróficas e recheado de emoção e adrenalina.
No featurette Volta ao Jurassic Park – Algo Sobreviveu, temos informações adicionais e uma olhada retrospectiva para o filme, com visão para seu lançamento em novas mídias mais atuais. É um exercício de observação dos realizadores, contemplado anos depois de sua produção e lançamento. No decorrer do material, Stan Winston conta que desta vez, o número de cenas com aparições dos dinossauros é vertiginosamente maior que o ocorrido em Jurassic Park. Com a evolução da indústria dos efeitos visuais, tornou-se possível ampliar as possibilidades de representação dos bichos em tela, dando maior nível de intensidade para a aventura que mescla momentos de puro horror ecológico. Com algumas referências ao monstro Godzilla, tantas vezes levados ao cinema, O Mundo Perdido – Jurassic Park retrata a corrupção humana em torno do interesse de capitalizar em torno dos dinossauros. O interesse inicial de Steven Spielberg era estabelecer uma batalha aérea com pterodátilos, mas de última hora, resolveram levar a mais temível espécie de dinossauro para uma cidade portuária e estabelecer o caos absoluto no último ato da narrativa. O design de som foi um dos setores mais elaborados desta vez, com maior ênfase na captação de sons que pudessem fornecer aos dinossauros a adequada variação no bojo das espécies. Para o T-Rex, por exemplo, os supervisores do setor utilizaram sons de vacas atravessador por tubulações, porcos, morsas e filhotes de elefantes, sonoridades justapostas para criar a densidade do monstro. O filhote de um camelo serviu de som para embasar a representação do filhote de T-Rex, ferido em determinado trecho da aventura. Para os filhotes de velociraptores, os realizadores utilizaram os sons de aves. John Williams, parceiro constante de Spielberg, trouxe o tom primitivo de King Kong como inspiração para a trilha que segundo o cineasta, é sua predileta, quando comparada ao material do antecessor, conteúdo que por sinal, não fica de fora, sendo constantemente referenciado na nostálgica composição desta continuação.
Aracnofobia: Especial de Produção e Uma Conversa com Frank Marshall
Além de contar com os envolvidos nos bastidores da produção, isto é, o diretor Frank Marshall, os roteiristas Al Williams e Don Jakoby, o supervisor de efeitos especiais Chris Walas e alguns membros do elenco, os featurettes de Aracnofobia também contam com a presença de especialistas sobre fobias e natureza (psicanalistas e biólogos). Para Neil Malanuth, a produção é uma obra de entretenimento que fala sobre como atingimos emoções fisiológicas e emocionais quando estamos diante daquilo que mais nos apavora. O medo usa uma parte do cérebro que não é racional, mas emotiva. E assim, filmes como Aracnofobia brincam com essas tensões que na vida real causam verdadeiros transtornos para algumas pessoas. Ele reitera algumas questões sobre o assunto, tendo como painel ilustrativo, algumas cenas do filme, trechos que geralmente envolvem humor e horror em doses generosas. Para Frank Marshall, a inserção de momentos humorados foi uma alternativa de alívio cômico para não deixar a narrativa muito pesada. O diretor é dominante nos comentários, apesar de outros integrantes falarem sobre os efeitos visuais e especiais, as tomadas que unificam o elenco e as aranhas no mesmo enquadramento, estratégia narrativa que buscava demonstrar maior aproximação dos personagens com os seus próprios medos, numa jornada que os envolvidos chamam de um parque de diversões de engrenagens aterrorizantes.
Ratos: Amigos e Inimigos, Um Elucidativo Featurette de A Vingança de Willard
Os ratos são criaturas aterrorizantes, nojentas e perigosas, haja vista o seu alto grau de possibilidade de transmissão de doenças. A murofobia, também conhecida por surofobia, é o medo patológico destes bichos, criaturas que no segmento cinematográfico do horror ecológico, funcionam muito bem sem precisa de qualquer efeito visual digital para transformar a sua presença em momentos de pavor. No featurette da versão moderna do clássico Calafrios, isto é, A Vingança de Willard, lançado em 2003, um documentário de 17 minutos mescla opinião de especialistas na seara da biologia com pontos de partida do cinema, tendo imagens do filme justapostas para ilustração das opiniões abordas. Discute-se, por meio da narração de Bruce Davidson, uma menção ao trecho do conto O Flautista de Hamelin, dos Irmãos Grimm, breve menção asquerosa aos ratos, para depois nos apresentar pessoas que amam e pessoas que odeiam as criaturas em questão, seres que destroem 10 vezes mais tudo que comem, acasalam rápido e podem se tornar uma perigosa peste num ritmo mais veloz que a ação para detenção realizada por humanos. Com a trilha sonora do filme a entrecortar passagens históricas da relação da humanidade com os ratos, o featurette explica que os ratos só atacam pessoas quando se sentem acuados, além de canibalizarem quando preciso e até mesmo capazes de devorar uma parte do próprio corpo se ficarem presos e necessitarem escapar de uma armadilha. Num paralelo com o protagonista Willard e sua relação com os ratos como vetores de um projeto de vingança, o material apresenta uma leitura curiosa sobre estes bichos, monstros protagonistas do filme que retoma a produção clássica da década de 1970 e seu ponto de partida, o romance Vingança Diabólica, de Stephen Gilbert.
Efeitos Especiais: Criando Anacondas
Com participação do diretor Dwight H. Little, do supervisor de efeitos visuais Dale Duguid e de alguns membros do elenco a falar sobre a experiência divertida ao filme Anaconda 2 – Caçada Pela Orquídea Sangrenta, o featurette em questão foca na criação das serpentes gigantescas que deslocadas da ação amazônica do primeiro filme, agora atacam o grupo numa selva do outro lado do mundo, enquanto a tripulação embarca numa viagem em busca da orquídea raríssima, provável substância para a indústria dos cosméticos. O diretor abre os comentários e expõe os aparatos técnicos disponíveis para dar conta da aventura: gruas, steadicam, câmeras subaquáticas, próteses e animatrônicos. A fonte de pesquisa foram as anacondas, mas os produtores também trouxeram alguns elementos das cascavéis, as serpentes mais cotadas no cinema. Com sonoridade especificas desses repteis nas transições dos depoimentos do featurette, os realizadores dizem que as anacondas do filme são personagens, tais como os humanos. Na era do split screen, isto é, recurso gráfico que divide a tela em outras partes e, neste caso, permite a inserção de imagem sobre imagem, a produção ficou menos dependente de animatrônicos. Cheio de inferências, tais como galhos que trepidam, grama e folhas que balançam e outras sugestões da onipresença das anacondas, somos informados que a embarcação do filme foi inspirada em Uma Aventura na África, clássica aventura com Katherine Hepburn, dirigida por John Huston em 1951.
Veneno Puro: O Making-Of de Serpentes a Bordo
Samuel L. Jackson, Julianna Margulies, Lin Shaye e outros atores renomados enfrentaram serpentes diversas no desenvolvimento de Serpentes a Bordo, produção repleta de documentários e demais especiais de bastidores para expor ao público os seus mecanismos de realização. Conheça os répteis começa com foco na relação da humanidade e o contato com as serpentes, algo que nos remete ao mito do Jardim de Éden, dentre outras passagens folclóricas da história evolutiva dos humanos no planeta. O featurette expõe que a produção não dependeu exclusivamente do CGI, pois os efeitos visuais adentraram no processo de finalização para dar mais ritmo aos répteis, uma média de 450 cobras adestradas pelo assessor da produção, o especialista em serpentes Jules Sylvester, responsável por colocar atores e animais em cena, sem ferir, segundo os relatos, as criaturas trazidas para os bastidores de produção. O profissional que trabalha há 37 anos neste segmento deixa bem delineados nos depoimentos: “eu cuido das minhas cobras, independentemente de qualquer coisa”, ou seja, não houve desrespeito com as forças da natureza nesta aventura cheia de momentos de adrenalina, turbulência e horror. No design de som, mecanismos hidráulicos foram utilizados para ampliar o tom de ameaça do chacoalhar das cobras, além de permitir que os cenários construídos em estúdio, um esquema de dois andares, balançasse vertiginosamente como se tudo aquilo em cena fosse um parque de diversões macabro, numa história que conforme os realizadores, focou no medo de avião e no pavor em torno das serpentes, duas grandes fobias da humanidade. Samuel L. Jackson dá as boas-vindas aos espectadores do featurette logo na abertura e apresenta os personagens, fala das críticas sociais e das paródias em cena, com o narrador a destacar as várias referências ao eixo burlesco da atual cultura pop. Grande destaque é dado para a assustadora, mas tranquila, Kitty, a serpente de 160 quilos e mais de cinco metros de comprimento, jiboia utilizada para algumas cenas de maior tensão e medo.
Featurettes de Pânico no Lago
Entrecortando depoimentos da atriz Bridget Fonda e diálogos pontuais do filme sobre o gigantesco crocodilo assassino que ataca uma região interiorana dos Estados Unidos, o featurette de Pânico no Lago expõe, por meio das entrevistas com o diretor Steve Miner e alguns membros do elenco, a definição da produção: “Tubarão com neurose”, isto é, uma versão turbinada do clássico moderno que deu origem ao processo de reconstrução da estrutura das narrativas do subgênero horror ecológico. A veterana Betty White narra com humor a sua relação com o filme, assim como os demais personagens que explicam a sua participação na história, arquétipos necessários para que o roteiro funcione sem apresentar desajustes. Há também a presença do técnico de efeitos especiais, Stan Winston, ganhador do Oscar em produções do passado, responsável por dar vida ao animal grandioso que habita o lago, mas também ataca na água e utiliza bastante o ponto de vista como recurso da direção de fotografia, tendo em vista emular a já tradicional onipresença da criatura na água, sem deixa-la tão explícita em cena. Antes do desfecho, somos informados que o diretor Steve Miner, conhecido por seus trabalhos em duas famosas produções de terror, Halloween H20 – Vinte Anos Depois e Sexta-Feira 13 Parte 2, pretendia usar crocodilos de verdade em algumas cenas, proposta recusada pelo estúdio, haja vista o risco diante de tal possibilidade.
Featurettes de Predadores Assassinos
Os featurettes da aventura Predadores Assassinos, um dos três filmes prediletos de 2019 para “gente como” Quentin Tarantino, traz depoimentos de Kaya Scodelario, interprete da protagonista do filme, além do cineasta Alexandre Aja e do produtor Sam Raimi, todos encantados com o grau de horror proporcionado pela história que também flerta com muitos aspectos dos filmes de drama. Em The Silence, o cineasta comenta que o filme é uma oportunidade interessante de se brincar com momentos de silêncio, em especial, na cena do ninho, trecho em que a protagonista descobre que os répteis alojados na parte interna da casa encontram-se ali há algum tempo, haja vista a falta de manutenção do espaço. É uma passagem de muito suspense, com alternância de jumpscare com o silêncio que reina quase que absoluto em rápidos, mas angustiantes trechos. O featurette expõe a importância do design de som para filmes do segmento horror ecológico. A importância da junção entre efeitos especiais e visuais ganha ecos no depoimento de Scodelario, atriz que expõe como foi difícil realizar muitas cenas desta narrativa que tal como fizeram com Blake Lively em Águas Rasas, expõe a necessidade de mesclar muita força física e elementos psicológicos na composição da personagem colocada para enfrentar uma ameaça da natureza dotada de muita força e sagacidade. Muita água e vento sacolejaram a atriz que integram o centro nervoso do drama que para Sam Raimi, foi um elemento primordial para permitir ao filme um diferencial. O relacionamento rompido entre pai e filha ganha destaque nesta história que mescla diversos momentos de busca pela sobrevivência, não exatamente pela ameaça dos répteis perigosos.
Não Grite, Apenas Nade: Featurettes de Piranha 3D
Exibido na televisão e disponível nas mídias físicas do filme, os featurettes de Piranha 3D são voltados ao processo de análise dos setores que permitiram o resgate bem-sucedido do clássico de 1978 para as plateias de 2010, em 3D. Entre depoimentos do elenco e da equipe técnica, tendo as observações do cineasta Alexandre Aja como material dominante, temos diversos trechos de críticas favoráveis e publicadas nos principais meios de comunicação, exibidos em sequência, junto ao conteúdo dos entrevistados. Cada um dá uma opinião sobre o que acha e o que foi de fato a experiência em participar da refilmagem, mas o que de fato é mais interessante não é exatamente o conteúdo da história e a dimensão dos personagens, mas os efeitos especiais e visuais que permitiram ao filme transformar em “realidade cinematográfica” algumas passagens bem complexas de filmar. Matt Kutcher, supervisor dos efeitos especiais, explica procedimentos, erros e acertos, em detalhes que vão além dos efeitos visuais computadorizados, o famoso setor responsável pelo CGI e pela versatilidade das piranhas, também em animatrônicos aqui. O palco que vira na água durante a cena final do massacre destes monstros aquáticos que escaparam de um bolsão de água abaixo da crosta, foi manipulado por uma bomba hidráulica, haja vista o peso e os riscos de acidentes. Um tanque artificial teve de ser construído para algumas cenas, pois Alexandre Aja conta que as autorizações para filmar em ambiente natural foram embargadas, tendo como foco das instituições, a preservação ambiental, algo que ele inclusive diz que entende, mas acha exagerado demais. Sempre atento aos cuidados com a segurança de todos os envolvidos, Matt Kutcher ainda nos apresenta a filmagem da cena do pequeno iate de um personagem, prestes a afundar no lago Victoria e entregar os seus tripulantes ao sedento banquete das piranhas. Foram necessárias três embarcações para a realização deste segmento do filme: um para as cenas internas, outro para as externas e um terceiro para afundar. Uma megaprodução, não é mesmo?
Quando Os Tubarões Atacam: Um Elucidativo Featurette de Águas Rasas
Com uso de vários trechos da trilha sonora de Marco Beltrami, o featurette da aventura Águas Rasas retrata histórias reais de ataques de tubarão com montagens relacionadas aos trechos mais impactantes do filme. Territorialistas, os tubarões são explicados pelos depoimentos de Steven Robbs, homem que carrega enormes cicatrizes de um incidente que por sorte, não se tornou fatal. Tanto ele quanto Blake Lively, atriz que interpreta a protagonista do filme, demonstram compreensão acerca dos animais e da consciência humana em torno destas criaturas habitarem os seus respectivos ambientes e nós, humanos, sermos de fato os intrusos. Chris Lowe, um especialista nos estudos sobre estes animais, fala sobre a construção do mito em torno dos tubarões como monstros, sem sequer mencionar Spielberg e seu filme, algo que não é preciso, pois já sabemos as referências diretas com base em dados do imaginário social posteriores ao clássico moderno de 1975. Ele explica a lógica da mordida, a possibilidade dos tubarões confundirem humanos em pranchas com animais de sua cadeia, dentre outros fatores que explicam os ataques, mencionados costumeiramente com sensacionalismo na mídia. São criaturas que atacam quando se sentem ameaçadas. Lively, no desejo de sentir melhor a entrega ao seu personagem, mergulhou com tubarões e conservacionistas na época da pré-produção de Águas Rasas, aventura que no featurette Filmando Águas Rasas, é analisada e tem trechos bem interessantes, tais como a ajuda de mergulhadores australianos para as cenas concebidas no mar, trechos tratados como complexos pelos realizadores, além do roteiro que nos traz um tubarão com “biografia”. Machucado, com um anzol preso e outros detalhes, este bicho possui uma história e complexidade, tal como a jornada da heroína que segura 90% do filme basicamente sozinha.