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Entenda Melhor | Expressionismo Alemão

por Luiz Santiago
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Surgido no cinema no início dos anos 1910 e finalizado no início dos anos 1930 (com seu auge na década de 20), o Expressionismo Alemão foi um estilo que incorporou na Sétima Arte um movimento artístico que já vinha orientando produções na poesia e nas artes plásticas, posteriormente deixando sua marca também no teatro, na arquitetura, na dança e na escultura.

A marca estética e mesmo temática do Expressionismo no cinema é bastante conhecida, não apenas por ser simples, mas por ter sido amplamente reproduzida, estudada e referenciada ao longo dos anos. E assim como no caso do noir (que tem aqui suas raízes) é bastante fácil olhar para a tela e reconhecer a marca de uma obra dentro desse estilo. Os enredos expressionistas trazem histórias sombrias, urbanas, que muitas vezes classificam-se como um mistério de ordem policial. Os personagens são visual e dramaticamente bizarros ou no mínimo incomuns, cheios de maneirismos ou claramente marcados por uma teatralidade exagerada.

A maquiagem pesada, os ângulos e os cenários distorcidos e inclinados indicam perturbação, fantasia, simbolismos e inquietações angustiantes do inconsciente, elementos às vezes não só representados como um fator mental/comportamental nos filmes, mas também fortalecido por acontecimentos ou influências sociais. Aí também podemos adicionar o enorme papel da direção de fotografia, inteiramente marcada por contrastes entre luz e sombras (chiaroscuro) e por uma grande interação com a direção de arte. Quanto mais “cubistas”, inclinados, distorcidos, claustrofóbicos fossem os cenários, mais peculiares, em termos de iluminação, esses ambientes se tornavam.

Os bastidores de uma das cenas icônicas de Metrópolis (1927).

Com o início da 1ª Guerra Mundial, em 28 de julho de 1914, a Alemanha passou por um isolamento muito forte de seu cinema, tanto na distribuição, quanto na exibição de filmes estrangeiros em seu território. O resultado disso não poderia ser outro: houve um grande salto na produção cinematográfica nacional. E foi na verdade a primeira Grande Guerra que delineou o que a escola expressionista já vinha fazendo desde o filme que normalmente é aceito como a legítima semente do movimento, O Estudante de Praga (1913). O pessimismo causado pela guerra foi o tom dominante desse cinema durante e principalmente depois do conflito. Ao longo da República de Weimar, onde mazelas jurídicas, governamentais, econômicas, partidárias, ideológicas, éticas, segregacionistas e fascistas se acumulavam por todo o país, o cinema desse período também espelhava os dissabores sociais no Universo Expressionista desesperançado e condenado de seus personagens.

Há alguma controvérsia, mas o último filme do movimento a de fato estrear nos cinemas alemães foi Kuhle Wampe ou Quem é o Dono do Mundo?, em 30 de maio de 1932. Já com quase nenhuma controvérsia aceita-se O Testamento do Dr. Mabuse (1933), de Fritz Lang, como o filme de encerramento do movimento. O longa foi oficialmente lançado em 1933 na França, Áustria, Hungria, Dinamarca e Portugal, mas não na Alemanha, pois foi banido pelo já absoluto Partido Nazista, cuja escalada foi rápida e, como todos sabemos, assustadoramente “legal”, como deixo claro na sequência a seguir (todos os eventos ocorridos em 1933): nomeação de Hitler como Chanceler (30 de janeiro), Decreto do Incêndio do Reichstag, cancelando a maior parte das liberdades civis e políticas estabelecidas pela Constituição (28 de fevereiro), Eleições Federais, onde os nazistas chegaram com força ao Congresso (5 de março) e por fim, a tenebrosa Lei de Concessão de Plenos Poderes, onde Hitler conseguiu de fato estabelecer sua ditadura (23 de março). A propósito desta lei: ela só passou pelo Parlamento com apoio do Partido do Centro Católico (Zentrum), já que o Partido Nazista e a sua marionete, o Partido Popular Nacional Alemão, formavam “apenas” 52% do Parlamento e esse tipo de lei para transferência de poderes precisaria de no mínimo 67% dos votos para obter aprovação. Com os católicos negociando com os nazistas, a lei foi aprovada.

F.W. Murnau filmando A Última Gargalhada (1924).

Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler, assistiu a O Testamento do Dr. Mabuse em 23 de março, e adiou a estreia programada para o dia seguinte, alegando “motivos técnicos“. Por volta de 30 de março, o filme foi definitivamente banido porque, segundo o Ministério, a Nova Alemanha não poderia aceitar uma obra que “mostrava como um grupo extremamente dedicado de pessoas é perfeitamente capaz de derrubar um governo através da violência“. O filme foi, portanto, classificado como anti-nazista. Isso colocou Lang em estado de atenção, dada a sua ascendência judaica, e em 31 de julho daquele mesmo ano (ou seja, quatro meses depois do banimento de Mabuse, data confirmada em seu passaporte), o diretor deixou definitivamente a Alemanha, refugiando-se na França e depois nos Estados Unidos. O banimento de Mabuse representa não só o fim do Expressionismo, mas também o início de um novo estilo de se fazer cinema na Alemanha (confira O Cinema Nazista: Breve Panorama), além de um dos períodos mais sombrios da História Contemporânea.

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O Estudante de Praga

Der Student von Prag

Paul Wegener, Stellan Rye

1913

As Aranhas – Parte 1: O Lago Dourado

Die Spinnen, 1. Teil – Der Goldene See

Fritz Lang

1919

O Gabinete do Dr. Caligari

Das Cabinet Des Dr. Caligari

Robert Wiene

1920

O Golem – Como Veio ao Mundo

Der Golem – Wie Er In Welt Kam

Paul Wegener, Karl Boese

1920

Da Manhã à Meia-Noite

Von Morgens Bis Mitternacht

Karl Heinz Martin

1920

A Morte Cansada

Der Mude Tod

Fritz Lang

1921

Nosferatu

Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens

F.W. Murnau

1922

Dr. Mabuse, o Jogador

Dr. Mabuse, der Spieler – Ein Bild der Zeit

Fritz Lang

1922

As Mãos de Orlac

Orlacs Hände

Robert Wiene

1924

Tartufo

Herr Tarüffe

F.W. Murnau

1925

Fausto

Faust – Eine Deutsche Volkssage

F.W. Murnau

1926

Metrópolis

Metropolis

Fritz Lang

1927

A Mulher na Lua

Frau im Mond

Fritz Lang

1929

A Mulher na Lua

M, o Vampiro de Dusseldorf

M – Eine Stadt sucht einen Mörder

Fritz Lang

1931

O Testamento do Dr. Mabuse

Das Testament des Dr. Mabuse

Fritz Lang

1933

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