Desapontado.
É assim que me sinto depois de acabar o quarto número de Homem de Ferro, parte do projeto Marvel NOW! A fórmula estabelecida por Kieron Gillen a partir do segundo número dessa publicação é simplesmente repetida nos dois seguintes: (a) Tony tem um diálogo “esperto” com Pepper Potts que invariavelmente envolve mulheres e um pouco sobre os arrematadores da tecnologia Extremis que precisa ser recuperada; (b) Tony veste uma armadura diferente, talhada para a missão; e (c) ele cumpre a missão com a maior facilidade do mundo.
Se Gillen pelo menos escrevesse algo realmente interessante, até seria possível perdoar sua estrutura repetitiva e, em ultima análise, chata. Acontece que nem isso ele consegue e as histórias são burocráticas, previsíveis e tolas, meio que voltando para a Era de Ouro dos quadrinhos, com vilões coloridos, muitas explosões, atos inequivocamente heróicos e sempre a vitória dos “bonzinhos”.
Sinceramente, eu sei lá o que o escritor planeja. Considerando que esse arco tem apenas cinco números, ou teremos um último número bombástico e arrebatador ou será apenas o fechamento da menos memorável linha narrativa que vi nos últimos anos.
No terceiro número, Tony, vestindo uma armadura stealth, em tons pretos e prateados, parte para recuperar o Extremis de um barão das drogas na Colômbia. Ele chega lá, luta com seus vilões padrão (Laser Vivo, Vibro e Firebrand são os bobalhões da vez) e recupera a tecnologia. No meio disso tudo, ainda testemunhamos um exemplo da bondade do coração de Tony, apesar de toda sua canastrice. Haja paciência!
No quarto número, que começa “um ano atrás” que nem o terceiro (até nisso Gillen consegue ser pouco original), Tony, depois de, claro, conversar com Pepper Potts, veste uma armadura pesadona, tipo tanque de guerra, e sai na pancadaria nas catacumbas de Paris contra um grupo de malucos que resolvem usar a tecnologia para criar uns clones lovecraftianos. Não sei se eu ria ou se eu chorava com o texto de Gilroy e com sua capacidade de tratar seus leitores como idiotas, ao repetir as referências literárias a todo o tempo.
Das duas uma: ou Gilroy planeja desenvolver cada um dos novos inimigos que foram apresentados nesse arco ou ele pretende abordar a questão da nova inteligência artificial que controla o arsenal do herói e que apresenta traços rebeldes no quarto número. Aliás, um parênteses: não só o roteirista cria diálogos de adolescente para o computador de Tony como faz questão de fazer com que seu personagem diga isso para nós um milhão de vezes, por meio de diálogos com Potts e de discussões dentro da armadura.
E o que eu achava que poderia ser a salvação da lavoura, mostrou-se igualmente aborrecido e repetitivo: os desenhos de Greg Land. Não sei se o desenhista foi instruído pela Marvel a não fugir muito das armaduras da franquia cinematográfica do herói ou se ele simplesmente ficou com preguiça. Mas o fato é que, por mais que as armaduras mudem número a número, elas parecem as mesmas. Mesmo a tal armadura “tanque de guerra” não é realmente muito diferente das demais em termos de estrutura e cores. Sim, são definitivamente bonitas, mas a impressão que dá é que Land as acha geniais…
Bom, devo dizer que, apesar de desapontado, sou perseverante e acompanharei o arco até o final, já que falta apenas um número. Vai que Gilroy tira um coelho de armadura interessante de sua manga?
A nota acima é uma média.