Home QuadrinhosOne-Shot Críticas | Elfos – Livro 2: A Honra dos Elfos Silvestres

Críticas | Elfos – Livro 2: A Honra dos Elfos Silvestres

por Luiz Santiago
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O segundo volume da série Elfos, sensação da editora francesa Soleil Productions (a mesma de Western Valley), está um degrau acima da sua já muito interessante estreia, O Cristal dos Elfos Azuis (2013). Focada nos Elfos da Floresta, um dos cincos povos élficos que povoam este Universo, A Honra… também mostra um um cenário de guerra, mostra a criação de uma aliança improvável e a revelação de valores e segredos (envolvendo os Druidas) que os representantes humanos e elfos jamais esperariam neste momento de suas civilizações.

De certa forma, o roteiro de Nicolas Jarry se aproxima do de Jean-Luc Istin na história dos elfos da água. Estão aqui uma relação fraterna e um tanto complicada entre dois indivíduos de diferentes espécies, um momento de guerra, uma grande batalha na reta final e a promessa de que as coisas podem ficar ainda piores, apesar da sensação não tão convincente de estabilidade. A diferença é que em A Honra dos Elfos Silvestres o texto é mais cuidadoso na introdução dos personagens, em seu desenvolvimento, na criação de uma mitologia própria para o povo protagonista e, principalmente, na exploração do mundo, poderes, cultura e conceitos de vida e morte desses Elfos Verdes, tratamento problemático na estreia da série e que foi a minha principal reclamação para o texto de Istin. Nesta trama, uma Cidade-Estado do Oeste, Eysine, passa por um momento difícil. Ela está cercada por Orks mercenários, contratados pelas Cidades dos Arquipélagos. As muitas batalhas aí travadas têm enfraquecido o rei e tornado a situação cada vez mais ameaçadora para todos.

Se dominada, Eysine, que fica próxima à Floresta de Duhann, será mais um entreposto comercial das Cidades dos Arquipélagos, que só pensam em comércio e farão muitíssimo bom proveito da madeira ali em abundância. Essa postura é exatamente oposta à dos eysinenses, que têm respeitado a Grande Floresta há séculos, não fazendo nenhum tipo de exploração no local. Diante desse cenário, o leitor percebe que há um “fator Avatar” em jogo. Mas o roteiro de Jarry não se contenta apenas com isso. Na verdade, o cerne da história nem é o elemento político-comercial ou de exploração de riquezas naturais de maneira descontrolada. Essa crítica é uma das muitas camadas da trama e, mesmo se não tivesse posta literalmente, o público iria vê-la, pois a relação dos Silvestres com a Natureza é tão bonita e tão bem explorada pelo texto e pela arte que fica difícil não fazer alusões a esse contexto.

Elves #2 - The Wood Elves' Honor (2013_5) - plano critico elfos a honra dos elfos da floresta

Um dos muitos momentos de beleza dessa história, onde um corpo se conecta com a Natureza em plenitude.

Como existe uma guerra em andamento, paira um grande medo sobre a humana (ou “felj” na denominação dos Elfos) Llali; um medo que progressivamente também toma o Silvestre Yfass. Então o roteiro mergulha na tradição desses povos e ergue a história a partir de um instigante ponto de vista de desconfiança, traição e honra. A arte de Gianluca Maconi é um outro grande presente. Ele e o colorista Diogo Saito criam um Universo funcional do começo ao fim. Os lugares da floresta que recebem destaque nos desenhos, os poderes que os Elfos Silvestres manipulam, a participação de um certo povo que dá um gostinho para o leitor do que está por vir, e a incrível sequência de batalha final são momentos de contemplação, beleza e horror, que a arte dessa história nos traz. E por falar na cena final, a última sequência traz uma ação de uma Elfa que, dependendo de como o leitor entender a Natureza e se relacionar com ela, poderá arrancar algumas lágrimas.

Um pequeno clique no final de A Honra dos Elfos Silvestres poderia ser mais aberto, para não dar a impressão de “falha conceitual” na aventura, como pode ficar parecendo para os leitores menos atentos. Todavia, chegamos ao término da história felizes com a qualidade de exploração deste mundo de fantasias e como a promessa aqui feita deverá ser cobrada no futuro. Porque uma coisa fica clara para nós ao fim dessa one-shot: com os Elfos da Floresta não se brinca.

Elfes – Tome 2: L’Honneur des Elfes Sylvains — França, 2013
Editora original: Soleil Productions
No Brasil: Mythos, 2018 (Elfos – Volume 1: encadernado contendo esta primeira e a segunda história da série)
Roteiro: Nicolas Jarry
Arte: Gianluca Maconi
Cores: Diogo Saito
60 páginas

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