Originalmente publicada em 2003, esta história foi o 15º álbum especial de Zagor na Itália, contando uma história que, sem sombra de dúvida, bebe em fontes de fora e de dentro da Bonelli. Tramas como Odisseia Americana, de 1972 e A Ameaça Verde, de 1977, já haviam colocado o Espírito da Machadinha em apuros, numa típica saga amedrontadora de “vegetal que ataca“, cada trama com o seu princípio — e desculpa para o desarranjo da natureza — e lição de moral ao final.
Aqui em Palude Mortale estamos em Darkwood, no sagrado Pântano de Sha-Ka-Ree, local cheio de mitos e ameaças. Como já falei em outra ocasião aqui no Plano Crítico (na crítica do conto It!, de Theodore Sturgeon), lugares alagadiços são espaços perfeitos, por diversos motivos, para a criação de lendas que dão conta de monstruosas criaturas verdes saindo das águas represadas. Na presente aventura, essa questão é inicialmente tratada como um mito (o grande erro dos céticos), mas à medida que começa a matar uma boa quantidade de homens brancos, Zagor, Chico e companhia percebem que estão com um grande problema em mãos.
No início do volume, alguns homens discutem qual é o melhor local para se explodir a região do pântano. O objetivo dos homens é drenar a água do local para então poder cavar e arrancar a turfa daquele solo. O problema é que essa intervenção — aliada a um breve e sangrento conflito com os Sauks ainda nas primeiras páginas — acorda um Espírito que vivia naquelas águas; um espírito cujo despertar parece trazer apenas uma coisa: vontade de matar. Há quase um tipo inteiramente selvagem de O Dia das Trífides (John Wyndham, 1951) nessa narrativa, e o roteiro de Moreno Burattini tenta ao máximo mesclar o ataque das plantas a algo palpável, racional, pelo menos para que Zagor e seus companheiros consigam pensar em alternativas que não fossem místicas, a fim de se livrarem dos ataques. A questão é que chega uma hora que essa mescla não se completa mais.
A fantástica arte de Alessandro Chiarolla nos faz olhar para a ameaça das plantas de modo mais sério que o próprio roteiro o faz, e isso se dá porque o texto parece mais interessado em focar na exploração de Zagor do que desenvolver de verdade o mistério em torno da ameaça verde. Então o texto vai pouco a pouco se estreitando e fundindo esses caminhos, colocando os problemas locais (como a tentativa de Um-Olho em tomar o lugar de seu líder ou o fato desse líder estar viciado em água de fogo) e aqui e ali esquecendo-se que existe algo misterioso no ar, algo que enfim ganha seu tratamento final na maior correria possível.
É por isso que o início da edição tem um nível de divertimento bem maior para o leitor. Nesse momento, o mistério é bem guiado e a exploração do território selvagem (típica de um eastern como este) é o principal foco do roteiro. Ainda com esses problemas, Pântano da Morte é uma história intrigante e que pelo menos mantém em nós um certo receio diante do próximo ataque das plantas e um certo desejo de vingança — especialmente em relação ao engenheiro da cidade grande — para os que foram àquela região apenas com a intenção de destruir a natureza local: a grande sina do processo de dominação e exploração, mais uma vez mostrando seu modus operandi e, pelo meno nesse caso, pagando um alto preço pela tentativa indiscriminada de lucrar.
Speciale Zagor #15: Palude Mortale (Itália, abril de 2003)
Publicação original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Zagor Especial n°10 (Mythos, 2007)
Roteiro: Moreno Burattini
Arte: Alessandro Chiarolla
Capa: Gallieno Ferri
164 páginas