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Crítica | Yossi (2012)

Dez anos depois...

por Luiz Santiago
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Yossi (2012), sequência de Delicada Relação: Yossi e Jagger (2002), retoma a jornada do protagonista uma década após a perda de seu grande amor no campo de batalha. Sob a direção de Eytan Fox, acompanhamos Yossi, agora um cardiologista solitário em Tel Aviv, em uma busca silenciosa por renovação. O filme explora encontros e interações que, embora nem sempre bem-sucedidos, funcionam como tentativas de chacoalhar a vida estagnada do personagem, agora com 34 anos. Em meio a essa trajetória, ele embarca numa viagem ao sul de Israel (em direção ao Sinai), uma fuga necessária para aliviar a mente e o coração. No entanto, apesar do esforço em oferecer uma narrativa de resgate emocional, o diretor se depara com dificuldades em criar uma unidade fílmica coesa. A evolução de Yossi ao longo da história parece tímida, o que culmina em um desfecho relativamente súbito, como uma decisão tomada às pressas. Isso enfraquece o final, mesmo com o filme almejando transmitir uma sensação de esperança.

O filme busca explorar a superação do luto e a busca por uma nova chance de felicidade, mas acaba se perdendo em subtramas pouco inspiradas. Yossi, uma década após a tragédia, ainda parece vagar em busca de algo que preencha seu vazio, agindo como uma sombra de si mesmo. Momentos como a visita aos pais de Lior, por exemplo, deixam o espectador intrigado quanto às intenções do diretor, pois é uma sequência praticamente despropositada, considerando que acontece dez anos depois da morte do jovem soldado. É verdade que o longa também traz cenas tocantes, onde a vida do protagonista é colocada sob uma lente reflexiva, questionando suas conquistas, percebendo sua solidão e falta de perspectiva, elementos que, por si só, já dariam margem a uma narrativa profundamente psicológica. A jornada emocional do cardiologista poderia ter sido mais ricamente explorada, pavimentando o caminho para uma transformação convincente. No entanto, essa introspecção é diluída por sequências superficiais, como o humilhante encontro marcado por aplicativo ou a cena no bar, que não acrescentam à complexidade do personagem e acabam enfraquecendo o impacto emocional da história.

A impressão é de que o roteirista Itay Segal, cujo trabalho foi mais coeso em Sublet (2020), não consegue definir com clareza qual história deseja contar, e isso afeta diretamente a harmonia do filme. A narrativa parece hesitar entre múltiplas abordagens, caindo numa desconexão frustrante. O reencontro com o passado, a exaustão profissional (Yossi trabalha incansavelmente para ocupar a mente), o impasse com a enfermeira — uma década após a tragédia e ele ainda é incapaz de falar sobre sua sexualidade no trabalho? — e a viagem com os soldados, todos esses momentos parecem funcionar como pequenos curtas independentes, sem uma costura orgânica. A transição entre essas partes soa abrupta. Embora o desfecho traga uma nota positiva e ofereça um vislumbre de felicidade para Yossi, ainda carece de evolução natural. Faltam à narrativa a cadência e o cuidado nas escolhas e nos diálogos que poderiam ter proporcionado um encerramento mais verossímil. A rapidez com que Yossi se entrega a uma nova paixão, após anos de reclusão emocional, soa forçada e artificial. A sensação é de que o diretor, ao tentar garantir um final feliz a qualquer custo, apressou o processo de redescoberta, privando o público de uma conclusão mais autêntica. Mesmo a atuação de Ohad Knoller, que deveria ancorar esse arco emocional, decepciona, marcada por uma expressão apática que se mantém do início ao fim.

É elogiável a intenção de retratar as dificuldades de um homem gay em busca de aceitação e amor em uma sociedade ainda permeada por preconceitos. No entanto, considerando os dez anos de sofrimento que marcaram a vida do protagonista, era de se esperar um tratamento mais maduro e cuidadoso para a chegada de um novo amor. Infelizmente, isso não se concretiza. O filme ganha um novo fôlego com a entrada dos soldados, e a estadia de Yossi no retiro de férias, onde ele se aproxima de Tom (interpretado por Oz Zehavi, que entrega uma atuação interessante), marca uma fase mais leve e promissora. Ainda assim, a relação entre os dois não se desenvolve de forma fluída, e os diálogos deixam a desejar em profundidade. Por outro lado, a cena de nudez entre eles se destaca por sua beleza — mais terna do que erótica — e a conversa que a antecede, em que ambos abordam questões reais de suas vidas, oferece um breve respiro ao filme, salvando-o temporariamente de sua tendência à mediocridade. Yossi encontra sua felicidade. Mas, embora a intenção seja a de oferecer a ele e Tom uma parceria para a vida, a construção do desfecho não é convincente. O contexto e a preparação para esse final feliz parecem apressados, afetando a credibilidade da escolha em um momento onde tudo deveria inspirar confiança.

Yossi (Israel, 2012)
Direção: Eytan Fox
Roteiro: Itay Segal
Elenco: Ohad Knoller, Oz Zehavi, Lior Ashkenazi, Orly Silbersatz, Ola Schur Selektar, Meir Golan, Shlomi Ben Attar, Amir Jerassi, Raffi Tavor, Shlomo Sadan, Gil Desiano, Bobbi Jene Smith, Keren Ann, Nuria Lusinzky, Elias Abboud, Gal Yaari
Duração: 84 min.

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