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Crítica | Yellowstone – 5ª Temporada

Saindo pela porta dos fundos.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.

A última temporada de Yellowstone precisa ser analisada separadamente antes de olharmos o quadro geral, não apenas porque foi dividida em duas partes – algo até comum nos dias atuais -, mas sim porque a saída de Kevin Costner muda completamente a reta final da série, com Taylor Sheridan e sua equipe criativa precisando encontrar saídas e tampar buracos para finalizar a história de uma maneira minimamente satisfatória. De certa forma, até penso que a morte de John Dutton era algo esperado e necessário para a conclusão da série, mas não da maneira abrupta que ocorre, sendo influenciada por questões de bastidores, que, confesso, não me importei muito em procurar entender melhor. Com isso em mente, vamos por partes.

A primeira parte da temporada, comprimida de oito episódios, é uma sequência natural para os eventos da quarta temporada. Em linhas gerais, acompanhamos John usando sua posição de governador para manter seu rancho. É um início com elementos políticos que me agradaram bastante, dando um tom diferente para a temporada e colocando John em um espaço desconfortável e diferente, sem falar dos seus conflitos de interesses, já que o protagonista não se importa com ninguém além do Yellowstone (em uma cutucada interessante do texto para os diversos paralelos reais dentro do universo político). A batalha jurídica suja com a multinacional que quer tomar as terras para o turismo geram alguns dos melhores embates da temporada, incluindo ótima participação de Beth nadando como um tubarão branco por meio da burocracia e dos estratagemas empresariais.

Nesse início, o restante das linhas narrativas ficam mais escanteadas, o que é compreensível, mas temos alguns bons momentos com os outros personagens. Com Rip, temos uma subtrama estressante sobre a morte de alguns lobos da reserva, enquanto Kayce e Monica seguem protagonizando situações que envolvem o cenário nativo-americano da série. Nada aqui de grande destaque, mas a produção mantém os núcleos desgarrados da trama principal bem coesos e a contento, com minha principal crítica negativa sendo a falta daquele olhar elegíaco para a vida caubói. À medida que avançamos no clímax da batalha entre o velho (Duttons) e o novo (a multinacional e o “progresso”), a narrativa ganha contornos cada vez mais interessantes sobre a destruição do meio ambiente, a ambição de grandes corporações, a corrupção política e a luta por um meio de vida quase inexistente no cenário moderno, principalmente nos EUA. Tudo que temos nesses oito episódios está em linha com as ideias e conceitos da série, gradualmente se encaminhando para a última guerra por Yellowstone e o conflito final de sucessão dos Dutton, com Beth e Jaime – cada vez mais insanos – no palco central.

E então, Kevin Costner decide deixar o seriado. A saída do personagem impacta gravemente a história, com a segunda parte da temporada, composta por seis episódios, iniciando com o assassinato do patriarca, encenado para parecer um suicídio, focando quase que integralmente nas repercussões da sua morte e menos no conflito central da série. Diferente de algo como Sucession, em que a morte inesperada de Logan Roy serve para engrandecer a narrativa, vemos o oposto acontecer aqui, com a trama política sendo jogada pela janela nos episódios seguintes, apenas com pinceladas aqui e ali com Jaime, mas nada realmente esperto como vinha sendo construído antes, e um novo encaminhamento narrativo, com Kayce tomando a frente do rancho, enquanto Beth parte para sua luta pessoal com seu irmão adotado. Grande parte da narrativa circula personagens tentando acobertar o assassinato, enquanto outros tentam descobrir o que aconteceu, na mudança de tom de Sheridan, movendo a trama para algo mais investigativo, tático e com linhas até de ação.

Não é algo necessariamente ruim. Sheridan não é estranho aos thrillers e, aqui, o roteirista sabe desenvolver tensão e reorganiza a narrativa dentro do possível com alguns flashbacks, moldando o drama em torno do luto por John Dutton, em especial com Beth, Rip e Kayce, que se tornam os catalisadores das ações, muitas das vezes movidos por raiva, dor e ressentimento. Mas é perceptível como a produção muda completamente o rumo, tomando caminhos melodramáticos e exagerados com as mortes de alguns personagens e com o papel cada vez mais diminuto da multinacional (personificada aqui em monstros que contratam assassinos e coisas do tipo) em face da trama que se torna mais e mais uma história de vingança, incluindo um desfecho novelesco com casamento e finais felizes para os mocinhos, enquanto os antagonistas perdem. Um detalhe positivo é a sacada de Kayce com a venda do rancho para Rainwater e a reserva, no que é a realização de um sonho impossível e muito bonito, em linha com alguns temas da série sobre a beleza desse modo de vida e uma espécie de reparação histórica para os nativo-americanos nos instantes finais da produção (completamente irreal, mas quase lírico e comovente). É um final razoável que, em face das adversidades, chega a ser um pequeno milagre, mas é difícil não ficar decepcionado com a fragmentação narrativa de uma série tão boa logo nos últimos instantes. Fica a expectativa para os derivados, que espero que não voltem a abordar os personagens e o cenário dessa série, e o adeus para a família Dutton.

Yellowstone – 5ª Temporada — EUA, 2022-2024
Criação: Taylor Sheridan, John Linson
Direção: Stephen Kay, Christina Voros, Guy Ferland, Taylor Sheridan
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Kevin Costner, Luke Grimes, Kelly Reilly, Wes Bentley, Cole Hauser, Kelsey Asbille, Brecken Merrill, Jefferson White, Danny Huston, Gil Birmingham, Forrie J. Smith, Denim Richards, Ian Bohen, Finn Little, Ryan Bingham, Josh Holloway, Will Patton, Jacki Weaver, Piper Perabo
Duração: 14 episódios de aprox. 60 min.

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