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Crítica | Yara (2021)

Law & Order faria muito melhor...

por Ritter Fan
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Baseado em fatos reais que chocaram duplamente a Itália em razão do brutal assassinato da adolescente de 13 anos Yara Gambirasio (Chiara Bono) e da inclemente investigação com estratégias inovadoras pela promotora Letizia Ruggeri (Isabella Ragonese) que durou anos, o longa-metragem de Marco Tullio Giordana é uma decepcionante oportunidade perdida, não mais do que um episódio qualquer – e nem particularmente bom – de uma série policial como Law & Order. Mesmo com um passo relativamente rápido, especialmente se considerarmos o período de tempo coberto, o que resulta é um filme que não engaja o espectador em nenhum nível mais profundo do que um passatempo genérico, cansado e raso como o proverbial pires.

O roteiro de Graziano Diana, com colaboração de Giacomo Martelli, tem apenas uma aparente preocupação: apresentar os fatos – ou melhor, alguns fatos – como eles aconteceram, basicamente na ordem em que eles aconteceram. Muita gente pode achar que é justamente isso que um filme com esta proposta deve fazer, mas quando eu digo que os roteiristas seguiram os fatos à risca (ou pelo menos em tese à risca, já que não acompanhei o caso real e pouco me lembrava dele), quero afirmar que o que eles fizeram está muito mais afeito a um documentário do que a um longa de ficção. Para começar, somos apresentados a personagens monolíticos, sem nuanças, com quem não conseguimos verdadeiramente nos conectar para além do horrível crime em questão. Yara é a vítima indefesa. Letizia é a investigadora e promotora que nunca desiste. Pronto, isso é tudo de construção de personagens que existe no longa, com Letizia em particular não ganhando qualquer desenvolvimento que não seja uma repetição do que ela é no primeiro quadro do filme, apesar dos esforços hercúleos de Isabella Ragonese para mostrar que é uma atriz e não uma leitora de teleprompter, que é muito claramente o que o diretor queria de todo seu elenco.

Todas as mais importantes características do caso, a morte brutal, a investigação inovadora, cara e polêmica de Letizia são abordadas de maneira extremamente burocrática, só faltando uma narração em off. Todas as oportunidades de aprofundamentos temáticos que o caso permitia, o que inclui a colaboração entre polícias de competências concorrentes, preconceito em relação a imigrantes, o machismo sistêmico italiano que sempre relega Letizia a uma mulher que precisar fazer muito mais esforço do que os homens ao seu redor para provar-se, os procedimentos policiais peculiares do país, a intrusividade das técnicas da promotora que potencialmente afetaram direitos fundamentais e assim por diante são tratados como uma sucessão de esquetes dramáticos – se é que posso chamar assim – que tem um ou dois minutos de atenção e destaque, somente para serem esquecidos na cena seguinte que, então, repete o processo.

É absolutamente frustrante ver um caso dessa monta ser abordado quase que com um tom amador, desfocado e completamente despreocupado em ser mais do que algo mecânico e burocrático, literalmente como um episódio de uma série de Dick Wolf que, desconfio, conseguiria extrair drama mais eficientemente do que a produção faz aqui. A única vantagem da forma perfunctória como tudo é tratado é que, no final das contas, o filme acaba rápido, o que nos permite esquecer esse e partir para o próximo, esperando algo com um pouco mais de cuidado e carinho e não um longa policial procedimental que é tão frio e distante quanto a cidade de Bérgamo na época do assassinato.

Na verdade, minto, pois Yara também cumpre a função de destacar a existência desse caso e de fomentar pesquisas para entender exatamente o que aconteceu, algo que, garanto, é muito mais frutífero e interessante do que ver Isabella Ragonese sendo tolhida em sua atuação, permanecendo basicamente escrava de um roteiro canhestro e uma direção que é tão pouco inspirada que chega a ser incongruentemente engraçada. Agora fiquei é com vontade que um próximo episódio de Law &  Order adaptasse essa história…

Yara (Idem – Itália, 05 de novembro de 2021)
Direção: Marco Tullio Giordana
Roteiro: Graziano Diana, Giacomo Martelli
Elenco: Isabella Ragonese, Alessio Boni, Chiara Bono, Roberto Zibetti, Aiman Machhour, Mario Pirrello, Sandra Toffolatti, Thomas Trabacchi, Lorenzo Acquaviva, Donatella Bartoli, Andrea Bruschi, Guglielmo Favilla, Nicole Fornaro, Miro Landoni
Duração: 96 min.

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