- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos outros episódios e, aqui, as críticas para a série em quadrinhos.
A esta altura do campeonato, acredito que vocês já saibam que Y foi cancelada. E convenhamos que essa informação não representa nenhum choque para nós, não é mesmo? Até o episódio passado a série não tinha apresentado nada que ultrapassasse uma linha que capturasse a atenção do público, ansioso para a chegada de um novo capítulo. Apenas nesta oitava parte do programa é que temos um drama com esse tipo de assinatura, mostrando-nos o passado de Roxanne (Missi Pyle) e sua construção pessoal até tornar-se líder das amazonas, uma versão apocalíptica das mulheres que conhecemos da mitologia grega.
O roteiro de Olivia Purnell desenvolve toda a história em um único núcleo, permitindo ao espectador que foque em personagens específicos e aprenda mais sobre eles. Esta também foi uma boa oportunidade para o show mostrar o desenvolvimento de todo um bloco narrativo sem ter que cortar a história ao meio ou ficar apenas na superfície, obedecendo a ações isoladas, limitando-se a reagir em cima de simples situações chamativas. E sim, este é um dos elementos que faltavam ao show: criar algo verdadeiramente sólido em torno de grupos de personagens, algo que falasse tanto do passado quanto desse melhores características para o presente, exibindo a cara de uma realidade diferente.
Embora eu ainda não tenha gostado da atuação de Olivia Thirlby como Hero, também pela primeira vez na série me vi diante de um grande elenco com boas atuações e representando algo que tivesse importância e atingisse o espectador com algum interesse a longo prazo. Todo o ambiente de culto criado por Roxanne, as ideias extremistas e misândricas que claramente tomam conta do grupo e o contraste com algum momento verdadeiramente nojento que a “grande líder” dessas jovens teve, no passado, ajudam-nos a entender as motivações e a verdade por trás de todo esse teatro, com direito a uma excelente reviravolta no final.
O drama de Sam também merece destaque aqui. O elemento discriminatório, ameaçador, manipulador e doentio que Roxanne cria em torno de si abraça o ódio que ela e boa parte das mulheres em torno sentem por indivíduos do sexo masculino, e isso é jogado para a figura do “intruso” naquele meio feminino. É um lado bastante emotivo e enraivecedor, levando o personagem para a estrada e nos deixando curiosos (olha aí a continuidade ganhando corpo!) para quais serão os seus próximos passos. O que sabemos é que a formalização das amazonas, com um perigoso segredinho interno e a saída de Sam do grupo são plots que nos prendem e nos ajudam a erguer a tão sonhada unidade que Y precisava. Infelizmente, tudo vem tarde demais e a gente nem sabe se continuará nos dois episódios seguintes. Mas pelo menos deu para sentir o gostinho do que seria essa série se os roteiros fossem bem escritos e o elenco estivesse majoritariamente afinado desde o Piloto. Agora podemos sonhar.
Y: O Último Homem – 1X08: Ready. Aim. Fire. (Y: The Last Man – EUA, 18 de outubro de 2021)
Direção: Karena Evans
Roteiro: Olivia Purnell
Elenco: Olivia Thirlby, Elliot Fletcher, Marin Ireland, Sarah Booth, Samantha Brown, Nicole Fournier, Stephannie Hawkins, Quincy Kirkwood, Sydney Meyer, William Poulin, Missi Pyle, J.D. Renemarie, Jasmine Sean, Jayli Wolf
Duração: 51 min.