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Crítica | Xanadu (1980)

Uma ridícula mistura de gêneros que já nasceu datada.

por César Barzine
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Olivia Newton-John é a protagonista feminina de Xanadu e vivia seu período de ascensão graças a ela, dois anos antes, ter feito Grease — Nos Tempos da Brilhantina. O filme é um musical com romance, repertório fonográfico de forte apelo popular e a cara dos anos 70, ao mesmo tempo que dialoga com outra época (década de 50). Do completo sucesso e da atemporalidade desta obra — hoje é um clássico de matinê e grande referência pop sobre aquele tempo — saltamos para Xanadu, um trabalho de recepção limitada e vergonhosamente datado. O que, então, deu errado para tamanha decaída? Basicamente, Xanadu não parece ter sido feito para dar certo. 

A impressão predominante ao vê-lo, e já bastante forte em seus primeiros instantes, é a de um filme executado sem a mais básica ambição, de um semiamadorismo justificado somente pelo impulso comercial sob as tendências vigentes. Ao passo que Grease possui certa vivacidade e brilho, Xanadu é uma obra morta; um trabalho que parece prometer algo de minimamente contagiante (afinal, é um musical), mas que é completamente insípido. Ou melhor, seria completamente insípido se não fosse também tosco. A tosquice é a infeliz exceção que torna o filme menos cinzento, porém nem por isso melhor. Já temos uma bela injeção dessa tosquice na maneira com que o enredo chega ao seu incidente incitante: Sonny, um pintor frustrado por ter sua criatividade reprimida na empresa que trabalha — e isso, apesar de alguma ênfase, não tem a menor relevância para o filme em si —, acaba aleatoriamente sendo beijado por uma desconhecida. 

O acontecimento aleatório é representado de maneira ainda mais aleatória e desenvolvido sem qualquer mistério ou organicidade. O acaso é uma coisa ríspida aqui; e não só na ligação de Sonny com Kira (a beijadora desconhecida), mas também em todo aquele entorno — o contato de Sonny com Danny (vivido por ninguém menos do que Gene Kelly), outro importante personagem, vai nessa mesma linha de falta de naturalidade. Todavia, até há uma justificativa por trás desse disso: Xanadu possui uma perspectiva ‘’cósmica’’ de tudo isso. Há uma metafísica que engloba toda a trama. O filme é mais profundo do que pode parecer, e sua filosofia se dá por três elementos: teleologia, existencialismo e platonismo. O existencialismo é gritante e instantâneo devido à primeira música tocada no longa, cujo refrão é ‘’Eu existo’’, uma otimista autoafirmação ontológica que ganha seus ares cósmicos nos efeitos neons e espaciais precariamente impressos. 

A teleologia é o que interliga o existencialismo e o platonismo, e ela se dá pelo andar das aleatoriedades e a consequente descoberta de que elas possuem um propósito metafísico. O roteiro de Xanadu (mais especificamente, o romance) se sustenta nisso: uma providência barata que só não é mais ridícula porque o filme nos acostumou ao ridículo. É nesta onda que descobrimos que Kira advém de um certo mundo das formas platônicas na função de servir como inspiração para o artista Sonny no mundo sensível. Ela é uma musa, a ideia perfeita e eterna de mulher — mas não para o coração de Sonny. 

A banda responsável pela trilha sonora de Xanadu é o Electric Light Orchestra, um grupo que mistura glam rock e space rock. Esses dois estilos são a melhor maneira de definir o filme em geral, pois eles vão além da parte musical e conversam profundamente com a direção, o roteiro e os gêneros que o longa se insere (fantasia, musical e romance). O glam rock fornece o tom exagerado, colorido, alegre e com feições dos anos 70/80. Quanto ao space rock, ele complementa tudo isso e dá o toque de transcendência da produção, de algo que veio do além. Tem meio a cara de ficção científica, mas no fundo é fantasia graças à mitologia grega que surge no final. Existe um aspecto futurista inevitável ao space rock, entretanto, é um futurismo que cheira a mofo — análogo em forma àquilo que Os Jetsons é em conteúdo — devido à reinante tosquice. Parece que estamos vendo um episódio da primeira versão de Power Rangers — e o patético uso das transições entre os planos eleva isso ao extremo.

Xanadu é rotulado como musical, no entanto, as únicas músicas cantadas diegeticamente estão somente no final; até lá, todas elas são canções do Electric Light Orchestra sobrepostas. Portanto, também há poucos números de dança, o que talvez seja um livramento, pois o do lançamento da boate é a coisa mais ridícula possível. Aquele amontoado de gente numa péssima direção de arte com coreografia e música patéticas são o suprassumo da vergonha alheia. As músicas, como um todo, são boazinhas e só. A banda não faz feio, apenas merecia um filme melhor. Já Olivia Newton-John e o pobre Gene Kelly não possuem nenhum brilho e aproveitamento. São meros acessórios que completam a já citada insipidez do filme. 

Xanadu — EUA, 1980
Direção: Robert Greenwald
Roteiro: Marc Reid Rubel, Richard Christian Danus
Elenco: Olivia Newton-John, Gene Kelly, Matt Lattanzi, Michael Beck, James Sloyan, Dimitra Arliss, Katie Hanley, Fred McCarren, Ren Woods, Melvin Jones, Ira Newborn, Jo Ann Harris, Wilfrid Hyde-White, Coral Browne, Miranda Garrison , Matt Lattanzi, Adolfo Quinones, Re Styles, Darcel Wynne
Duração: 96 minutos.

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