- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo X-Men.
A grande preocupação chegando no último episódio da primeira temporada de X-Men 97′ é óbvia: como a animação vai condensar tanta coisa em apenas 30 minutos? Bem, o season finale acabou tendo 42 minutos, o que ajuda, mas fiquei bastante surpreso pela eficiência do roteiro de Anthony Sellitti e Beau DeMayo em finalizar de maneira satisfatória tanto o conflito com Magneto quanto a ameaça de Bastion, além de dar holofotes para quase todos os personagens principais e, por fim, nos entregar um cliffhanger massivo que certamente manterá as expectativas altas até a vindoura segunda temporada.
Confesso que, de início, até achei a resolução da briga com Magneto muito rápida. Mal começamos o episódio e Xavier rapidamente incapacita o anti-herói, enquanto o ataque à Logan recebe pouca atenção, com o carcaju ficando no banco durante o restante do episódio. A questão é que a escolha funcionou, primeiro pela forma que traz o arco de Bastion de volta à cena quando Xavier desfaz as ações de Magneto (a ironia do momento é perfeita, como bem dito nas palavras do vilão), e segundo pelo espaço que abre com as conversas mentais entre os dois grandes ícones mutantes. Penso que esses doze minutinhos a mais no episódio foram essenciais para a atenção dada aos diálogos dos dois.
Como um leitor bem disse, é fantástico a celebração que a série faz da dualidade de Xavier e Magneto. O Professor acabou ganhando pouco tempo de tela na temporada, e quando apareceu sempre foi com desenvolvimentos súbitos e apressados, então a jogada em deixar ambos os personagens tangenciais ao embate final enquanto ganham tempo para representar os conflitos, os temas e as ambiguidades do sonho mutante foi um acerto total. As conversações entre os dois têm peso narrativo, emocional, traumático e um grande senso de urgência, além de ser um dos melhores exemplares audiovisuais da eterna irmandade e antagonismo entre os personagens. Que a reconciliação deles seja a salvação do mundo é um desfecho praticamente poético.
Do outro lado do episódio, o palco do conflito é protagonizado por Bastion contra os X-Men. Ainda mantenho meu posicionamento de que o antagonista é genérico e sem personalidade em sua encarnação do ódio mutante, mas esse episódio conseguiu representá-lo como uma ameaça constante e com uma presença perigosa. Algumas saídas de roteiro durante a batalha são meio sacaninhas e fáceis, como o retorno da Fênix ou a chegada do Sentinela no Asteroide, mas quando a pancadaria acontece, além de ser um espetáculo técnico da animação, tudo tem uma gravidade dramática. Os socos de Vampira e as rajadas de Ciclope carregam dor, por exemplo, em uma demonstração do que muitas obras de ação de super-heróis têm esquecido: peso narrativo é mais importante do que balé coreográfico. Se os dois estão alinhados, melhor ainda.
As participações de outros heróis da Marvel soam um pouco estranhas em sua inércia de ajudarem em um evento apocalíptico, soando mais como easter-eggs, mas até mesmo os cameos e os atos da humanidade em destruir os mutantes são conduzidos pelo roteiro de maneira coesiva para a grande decisão dos mutantes de salvar o mundo, mesmo que os humanos não os tolerem. Atrás do senso de responsabilidade de Scott, o grupo até tenta ajudar Bastion. Esse é talvez o grande ensinamento das histórias dos mutantes e dos discursos idealistas de Xavier: o altruísmo mesmo em face do preconceito. Que quase todos os personagens principais tenham ganhado um momento especial no episódio (a despedida da família Summers; o discurso da Tempestade; a explosão da Vampira; e até o momento bonito entre Morfo e Logan) é o testamento final de um roteiro extremamente eficiente dentro de uma história contada de maneira comprimida. O gancho final é tão inesperado quanto previsível: os X-Men perdidos no tempo lutando contra o Apocalipse de cada dia, dessa vez literalmente.
X-Men ’97 – 1X10: Tolerance Is Extinction – Part 3 (EUA, 15 de maio de 2024)
Desenvolvimento: Beau DeMayo
Direção: Chase Conley
Roteiro: Anthony Sellitti, Beau DeMayo
Elenco: Ray Chase, Jennifer Hale, Alison Sealy-Smith, Cal Dodd, J. P. Karliak, Lenore Zann, George Buza, A. J. LoCascio, Holly Chou, Isaac Robinson-Smith, Matthew Waterson, Adrian Hough
Duração: 42 min.