- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo X-Men.
O início do arco de três episódios nomeado de Tolerance Is Extinction tem um começo didático para finalizar a preparação do terreno narrativo para uma guerra evolucionária. São minutos iniciais explicativos, mas desnecessariamente expositivos e apressados com a introdução do passado de Bastion e de seu plano maquiavélico, que até tem uma versão daqueles monólogos vilanescos clichês, só que direcionado para cameos de antagonistas famosos como Dr. Destino e Barão Zemo. Essas pequenas participações – que incluem uma aparição surpresa do Homem-Aranha – confirmam que estamos em uma produção que poderá impactar o restante do multiverso da Marvel, o que faz sentido considerando a fase atual do UCM e o escopo dessa batalha, que é tanto uma ameaça global quanto temporal.
Como disse, porém, não gostei tanto da contextualização. O pouquíssimo tempo dedicado para apresentar Bastion e suas “razões” não são suficientes para tornar seu personagem particularmente interessante. A impressão que fica é de que o antagonista é só mais um vilãozinho qualquer que personifica o discurso de ódio contra os mutantes, tendo “nascido” para destruir a espécie – imagino que teremos mais contexto sobre isso para além daqueles flashbacks superficiais -, deixando-o sem personalidade. Também tenho alguns probleminhas com as conveniências que circulam a execução do seu plano, desde a quantidade de civis que viram sentinelas até a maneira relativamente boba que Magneto é libertado e facilmente consegue atrapalhar seu grande esquema.
Fora isso, o roteiro acerta em todo o restante do episódio. Por mais que a figura por trás da guerra não seja notável, os conceitos em torno do arco são ótimos, desde suas alusões ao nazismo e ao Holocausto – notem o plano detalhe no braço do Magneto – sobre o discurso perturbado de utopia mascarando o preconceito, até discussões provocativas dentro desse universo sobre o idealismo de Xavier e a visão mais realística de Magneto. Sempre fui fã desse debate ideológico nos quadrinhos, ganhando força em face de um evento de extinção/subjugação que coloca em xeque questões sobre a coexistência ou evolução. A quantidade de referências sobre o próprio desenvolvimento da humanidade são bacanas para esclarecer os pontos de divergência.
Nesse episódio em específico isso tudo acaba sendo mais apresentado do que desenvolvido, já que Magneto é libertado apenas no finalzinho do episódio, que fecha com um ótimo gancho na chegada de Xavier, mas o restante da temporada trouxe essa discussão de diversas maneiras e acredito que os próximos episódios devem focar na eterna batalha ideológica de Xavier e Magneto. Afinal, o mutante magnético está certo ou não? Em recentes HQs, o Professor tem seguido mais para a linha de Erik, apesar da sua figura tradicional no audiovisual ter sido mantida com seu característico idealismo – algo que parece que será reforçado aqui considerando as falas do personagem em S’hiar -, então será intrigante ver o progresso disso na reta final da temporada.
Para além de discussões ideológicas, evolucionárias e metáforas sobre preconceito contra minorias, a primeira parte de Tolerance Is Extinction é uma história sobre a guerra, o que nos presenteia com muitos bons momentos de ação, intensidade e entretenimento. Gosto como o texto mistura isso com desenvolvimento de personagens, passando pela relação complicada da família Summers – um “órfão” do futuro, um pai “ausente” e uma mãe “impostora” – e a camaradagem de Wolverine e Noturno, que foi uma adição carismática perfeita ao elenco. O bloco teen de Jubileu e Mancha Solar continua soando meio deslocado, mas faz sentido dentro da trama principal com seus temas sobre aceitação e pertencimento.
Os minutos finais do episódio são um misto de tantas sensações: euforia, drama, humor e muito espetáculo. Temos Noturno lutando com três espadas e os Summers caindo do céu em um porsche, num estilo galhofeiro próximo de Velozes e Furiosos. Gostei muito da criatividade em algumas dessas sequências, que mesclam um bom humor e interações simpáticas entre os personagens – como não adorar o fistbump de Ciclope e Cable?! – sem perder o senso de urgência da história contra androides que fazem alegoria para o perigo da doutrinação. O contra-ataque apelativo de Magneto fecha muito bem a primeira batalha dos mutantes, que agora devem, mais uma vez, lutar contra a extinção e a subjugação dos Sentinelas, enquanto lidam com suas próprias questões existenciais e ideológicas. Não sei quem vai estar certo nessa briga, mas tenho certeza que a pancadaria vai ter significado.
X-Men ’97 – 1X08: Tolerance Is Extinction – Part 1 (EUA, 01 de maio de 2024)
Desenvolvimento: Beau DeMayo
Direção: Chase Conley
Roteiro: Beau DeMayo, Anthony Sellitti
Elenco: Ray Chase, Jennifer Hale, Alison Sealy-Smith, Cal Dodd, J. P. Karliak, Lenore Zann, George Buza, A. J. LoCascio, Holly Chou, Isaac Robinson-Smith, Matthew Waterson, Adrian Hough
Duração: 31 min.