Home TVEpisódio Crítica | X-Men ’97 – 1X01 e 02: To Me, My X-Men / Mutant Liberation Begins

Crítica | X-Men ’97 – 1X01 e 02: To Me, My X-Men / Mutant Liberation Begins

Igual e diferente ao mesmo tempo.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo X-Men.

O anúncio de que a Disney e a Marvel iriam fazer uma continuação da série animada dos X-Men dos anos 90 foi uma das maiores surpresas nos anos recentes de ebulição de obras sobre super-heróis. Ganhando tração depois do relativo sucesso de What If?, a divisão de animação da Marvel decidiu deixar um grande número de fãs felizes com esse retorno nostálgico, que começa logo após os eventos que levaram à “morte” do Professor Xavier (aposto que a Lilandra vai aparecer com ele em algum ponto da série, porém), em uma fase de transição para os mutantes e de reintrodução desse universo para velhas e novas audiências.

O primeiro episódio, To Me, My X-Men, tira algumas páginas de Star Wars: O Despertar da Força, na maneira que espelha os eventos do episódio de abertura da série original com alguns toques de novidade, ficando em um meio termo de nostalgia e progresso, o que serve tanto para agraciar antigos fãs quanto para capturar novos espectadores com uma magia similar ao passado. Escrito por Beau DeMayo, showrunner que foi dispensado da produção antes de sua estreia, o primeiro episódio coloca o brasileiro Roberto da Costa, eventualmente conhecido como Mancha Solar, no mesmo papel que Jubileu tinha no início da franquia: ser a nova mutante que acaba caindo de paraquedas na mansão X-Men após ser sequestrada por grupos de ódio com a ajuda de Sentinelas.

Se a trama é, inicialmente, bastante similar com um mutante em perigo, os temas sobre discriminação da franquia e a vinda dos X-Men como salvadores idealistas de uma coexistência das duas espécies, a dinâmica dos personagens é muito diferente. Depois de anos combatendo o crime, a produção evidencia uma certa ressaca dos heróis, principalmente de Vampira, Gambit e Morfo, assim como um ambiente de animosidade mesclado com luto e desilusão em torno da troca de liderança do grupo. Por mais que, ao final do primeiro episódio, tenhamos um tom de reconciliação e as motivações dos personagens sejam semelhantes, é mais do que evidente que a produção quer evoluir e amadurecer a história do seriado original.

Isso fica ainda mais claro quando Magneto, o maior vilão dos X-Men, se torna seu líder através de um desejo final de Xavier, no que é uma reviravolta esperta e subversiva que altera a interação desses personagens e cria ótimos atritos internos, por mais que os dilemas morais e os comentários sociais se mantenham os mesmos. É por isso que coloquei aquele subtítulo, uma vez que DeMayo é inteligente em se apegar à essência do material, mas sem ser submisso ao saudosismo. Nesse sentido, há um peso dramático maior na produção, melhor visto na indecisão de Ciclope em deixar o grupo para ter uma família, principal vertente dramática da história nesse início. É possível notar certas digressões nos arcos dos personagens, como Vampira em conflito com seu toque e seu eterno flerte com Gambit, algo que havia sido “resolvido” na série original, ou então a maneira como muitos diálogos servem para dar contexto para uma nova audiência (que podem se sentir perdidos na forma que a obra evita ser um restart completo e no fato desses mutantes serem diferentes de suas versões cinematográficas), mas, de maneira geral, a equipe criativa quer alçar novos horizontes.

A tragédia que ocorre com Tempestade é o principal exemplo da coragem do roteiro em desbravar situações complexas e tênues, com destaque para a dubiedade de Magneto ao longo do segundo episódio. Os problemas e os dilemas que os personagens se encontram nesses dois episódios são surpreendentemente intensos e carregados, com muitas escolhas ousadas de DeMayo, seja em seu caráter político (ainda superficial, mas pertinente), seja em sua destreza e audácia em explorar momentos emocionalmente profundos com seus personagens. Penso que a leveza infantil que víamos em animações antigas é uma arte pouco apreciada nesta nova geração densa de desenhos animados mais adultos, principalmente de super-heróis, mas o nível de amadurecimento dramático é bem-vindo, além de que ainda temos alguns momentos divertidos de distração, como a sequência do jogo de basquete ou a interação jovem entre Jubileu e Roberto.

X-Men ’97 não joga seguro, mas é produzido de maneira sagaz para agradar qualquer tipo de audiência, da pessoa que cresceu vendo a animação até aquela que está sendo apresentada a uma nova versão do que conhece sobre os mutantes. A animação em si talvez seja o maior exemplo dessa mescla, uma espécie de versão modernizada do 2D clássico dos anos 90 que é tanto vintage quanto contemporâneo, especialmente quando as renovadas coreografias das batalhas entram em cena ao som do tradicional tema musical da antiga série. Entre o velho e o novo, DeMayo resgata o que havia de melhor no desenho noventista em uma embalagem de novas dinâmicas, mais temas adultos e um novo conflito para os principais temas da franquia. É até estranho tentar entender a razão dele ter sido demitido considerando a qualidade do seu trabalho aqui, mas, de qualquer forma, estou ansioso para saber o que mais ele preparou para o restante dessa temporada.

X-Men ’97 – 1X01 e 02: To Me, My X-Men / Mutant Liberation Begins (EUA, 20 de março de 2024)
Desenvolvimento: Beau DeMayo
Direção: Jake Castorena (1X01), Chase Conley (1X02)
Roteiro: Beau DeMayo
Elenco: Ray Chase, Jennifer Hale, Alison Sealy-Smith, Cal Dodd, J. P. Karliak, Lenore Zann, George Buza, A. J. LoCascio, Holly Chou, Isaac Robinson-Smith, Matthew Waterson, Adrian Hough
Duração: 30 min. aprox. (cada)

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