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Crítica | X-Men 2

por Rafael W. Oliveira
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X-Men – O Filme, lançado no começo dos anos 2000, surgiu como o responsável por ressuscitar as aventuras de super-heróis nos cinemas, através de um filme inteligente, de personagens fascinantes e propondo discussões que, até hoje, permanecem atuais. X-Men 2, novamente sob o comando de Bryan Singer, chegou para ser uma produção ainda mais ambiciosa, e para realizar um feito que pouquíssimas produções Hollywoodianas conseguem: ser superior ao original.

Ainda vivendo em um mundo que os odeia, os mutantes passam a sofrer uma discriminação ainda maior quando um novo mutante provoca um ataque ao Presidente dos Estados Unidos, quase matando-o. A notícia faz com que a sociedade se manifeste ainda mais contra os mutantes, fazendo com que ganhe força o projeto do registro de mutantes. William Stryker (Brian Cox), um militar que tem experiência em lidar com mutantes e uma ligação com o passado de Wolverine (Hugh Jackman), torna-se um dos porta-vozes deste pedido, além de se tornar o responsável por um plano que tem por meta erradicar de uma vez por todas os mutantes. Com a autorização do Presidente, Stryker inicia uma grande ofensiva contra os mutantes, invadindo a mansão do Professor Charles Xavier (Patrick Stewart) e forçando que Magneto (Ian McKellen), que fugiu da prisão, se una aos X-Men para combater Stryker.

Enquanto se assiste a X-Men 2, nota-se que Bryan Singer é um daqueles cineastas que nega em seguir as regras de um típico blockbuster de verão. Muitos dos problemas presentes no primeiro filme são corrigidos aqui, como a falta de grandiosidade. As cenas de ação, enfim, alcançam um nível realmente satisfatório, o que aproxima o público ávido por uma simples diversão. Mas que fique claro: X-Men 2 vai muito, muito além disso. Singer mantém o debate sobre a aceitação das diferenças abertos no primeiro filme, levando-o inclusive a um nível mais desafiador. Agora, tanto faz ao qual lado os personagens pertencem, e o que realmente importa é a união dos dois lados, para garantir a sobrevivência de sua espécie. Mais do que nunca, Singer intensifica sua proposta discursiva, esfregando na cara do espectador (mas sem soar didático) a dificuldade que permeia a vida dos que buscam a aceitação da sociedade, e que a cada dia lutam por seus direitos de igualdade. É neste ponto que reside toda a força de uma série como X-Men, que é a oportunidade de, por baixo da roupa de blockbuster, debater temas atuais, importantes para uma convivência pacifica no meio de uma sociedade que ainda encontra dificuldade em aceitar o que é diferente.

Singer, aliás, não poupa em inserir novos personagens, aumentando o número de figuras na tela. A maior novidade fica por conta de Kurt Wagner, ou como é conhecido nos quadrinhos, o Noturno, muito bem interpretado por Allan Cumming. Não apenas com o ator acertando em cheio no sotaque alemão e nas expressões passivas do mutante, Noturno se revela a faceta mais complexa e realista do longa, com sua devoção religiosa sendo bem estudada e transformando-o na faceta mais humana do longa. O que, claro, não apaga outras grandes presenças, como o sempre fascinante Wolverine (mais uma vez sendo interpretado com fúria incontrolável por Hugh Jackman) e Jean Grey (Famke Janssen), que começa a revelar um lado oculto e mais sombrio de sua personalidade.

É interessante notar, aliás, como alguns mutantes reagem diante de certas situações. Eles se vêem diante da obrigação de se unirem, mas muitos ali buscam um êxito próprio, sendo que o maior exemplo é Magneto (Ian McKellen), que com seu tratamento cordial e elegante, é capaz de confundir e inserir suas próprias idéias na mente de desavisados. E enquanto Magneto permanece em cima da linha que separa o certo e o errado, os outros personagens também apresentam aspectos interessantes de suas personalidades. Apesar de possuírem super-poderes, seus sentimentos são tão humanos quanto de qualquer outro: eles não hesitam em esconder seus medos, suas hesitações e desconfianças. Enquanto que Tempestade (Halle Berry) assume a posição de uma nova líder, Wolverine se vê diante de novas revelações sobre seu passado, e sobre seu verdadeiro lugar no meio da sociedade. Vampira (Anna Paquin) começa a lutar contra seus próprios preconceitos ao iniciar um namoro com Bobby, o Homem de Gelo (Shawn Ashmore). Jean é obrigada a lidar com a distância de Ciclope (James Marsden, resumido a mero coadjuvante), enquanto luta contra os sentimentos que nutre por Wolverine. Mais do que nunca, os mutantes se apresentam como personagens reais, enfrentando dilemas que também podem estar sendo enfrentados por pessoas próximas a nós. Em resumo, eles permanecem como personagens reais, que enfrentam desafios e emoções reais, assim como qualquer um de nós.

Trazendo sequências de ação verdadeiramente alucinantes (o ataque à Casa Branca no começo do filme é, sem dúvida, uma das melhores aberturas de um filme de ação em 2003) e deixando pontas soltas que deixam um agradável gosto de “quero mais”, X-Men 2 se revela uma continuação muito superior ao original, consertando os erros antes presentes e acrescentando novos acertos. Sem dúvidas, é digno de configurar entre os grandes exemplares do gênero, podendo ser aclamado como um clássico das adaptações de super-heróis.

X-Men 2 (idem, EUA, 2003)
Roteiro: David Hayter, Michael Dougherty, Dan Harris
Direção: Bryan Singer
Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Ian McKellen, Halle Berry, Famke Janssen, James Marsden, Anna Paquin, Rebeca Rominj, Brian Cox, Allan Cumming, Bruce Davison, Aaron Stanford, Shawn Ashmore, Kelly Hu
Duração: 134 min.

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