A primeira vez que ouvi falar de Quentin Dupieux foi quando, em 2010, montando a lisa de filmes que gostaria de assistir no Festival do Rio daquele ano, eu me deparei com a surreal sinopse do filme Rubber, em que um pneu telepático (sim, isso mesmo que você leu) fica obcecado por uma mulher e começa a matar todo mundo que cruza seu caminho. Rubber, apesar da loucura da premissa, é um meta-filme extremamente interessante e divertido, que me deixou impressionado com o diretor.
Em 2012, Dupieux lançou Wrong, outro filme amalucado em que um homem faz de tudo para reaver seu cachorro Paul, envolvendo-se, no processo com diversos personagens bizarros, inclusive um policial vivido por Mark Burnham. Wrong, apesar de ser substancialmente inferior a Rubber, ainda conseguia manter um ar de sandice com sentido, trazendo boas risadas e até algum conteúdo para o espectador.
Talvez identificando um potencial cômico no ator Mak Burnham, Dupieux, então, partiu para fazer uma espécie de spin-off de Wrong, chamado Wrong Cops, focando exclusivamente no universo de um grupo de policiais completamente entediados com um mundo onde não há crimes. Assim, eles tratam de ser os únicos criminosos, em uma inversão de papeis que até poderia ser interessante, mas o filme é tão repetitivo, tão sem graça e pretensioso, que nada funciona direito.
A questão das piadas é especialmente enervante. Duke (Burnham) é um policial que atirou em seu vizinho e, agora, tem que se livrar do corpo. A trama, contada de forma não linear em uma pretensa montagem tarantinesca, é tão absurda e preguiçosa, que não prende a atenção mais do que por alguns minutos.
Erick Warenheim vive outro policial que, além de tarado, é traficante de drogas e seu método é peculiar: ele coloca o produto dentro de ratos mortos para disfarçar a entrega. Isso é razoavelmente engraçado, mas Dupieux repete a mesma piada uma, duas, três, doze, vinte e quatro vezes. Funcionaria como um sketch curto do Monty Python, mas não dentro da estrutura de uma fita de 81 minutos. E o talento para comédia de Warenheim é semelhante ao de Zack Galifiniakis: ele apenas fica em pé com cara de paisagem, esperando que todos riam dele apenas por ele ser ele. Novamente, funciona uma ou duas vezes, mas, depois, torna-se extremamente sem graça e – olha a palavra aí novamente – repetitivo.
E todos os demais personagens em Wrong Cops são extremamente desagradáveis. Sim, Dupieux queria esse resultado, mas o que ele efetivamente esperava ganhar com isso? Antipatia da plateia? Mesmo Marilyn Manson, fazendo o papel surreal de um adolescente, não gera nenhum tipo de relacionamento com o espectador. É apontar o dedo e dizer “olha lá o Marilyn Manson!” e mais nada.
Como é de se esperar em filmes do diretor, que também é músico de música eletrônica, Wrong Cops tem esse gênero musical fortemente inserido na trama, já que um dos policiais também é compositor e acha que está criando algo semelhante à obra de Beethoven. Novamente, é engraçado por alguns minutos, não pelo tempo que Dupieux acha que a piada se sustenta. E isso sem contar no quanto é irritante a trilha sonora.
“Ah, mas o filme é subversivo.” “Você tem que entender que esse era o resultado que o diretor queria.” “É surreal, mas há crítica social.” Isso é o que muita gente tem dito sobre essa obra de Dupieux e, para eles, eu digo: “Veja Rubber do próprio Dupieux.” “Veja Buñuel para algo surreal e ao mesmo tempo bem feito.” “Veja David Lynch para subversão!” “Veja mais filmes.” Simples assim.
Wrong Cops é, com trocadilho, um erro cinematográfico que tenta chegar ao patamar de Rubber – que não é nem tão elevado assim – mas falha miseravelmente.
Wrong Cops (EUA, 2013)
Direção: Quentin Dupieux
Roteiro: Quentin Dupieux
Elenco: Mark Burnham, Eric Judor, Steve Little, Marilyn Manson, Grace Zabriskie, Adern Myrin, Eric Warenheim, Isabella Palmieri, Daniel Quinn, Hillary Tuck, Ray Wise, Eric Roberts
Duração: 81 min.