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Crítica | Wonka

Doce como mágica.

por Felipe Oliveira
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Indo na contramão de duas adaptações cinematográficas categóricas, a nova reimaginação baseada no livro A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl, nos coloca a experimentar o fantástico mundo de chocolate do criador mais exuberante de uma forma diferente; talvez, a mais doce que conhecemos. A começar pelo fato de não se tratar de um filme com números musicais e sim um filme inteiramente na musical. Essa escolha nas mãos de Paul King faz de Wonka um olhar mágico para uma fantasia contagiante sobre explorar novas oportunidades em promessas feitas de chocolate. O resultado é como voltar ao universo de Paddington e encarar a curiosa história de Willy Wonka pela ótica encantadora, aconchegante, mas também crítica que só King sabe fazer.

Mesmo tendo a missão de levar uma versão distinta aos longas já lançados, King não deixa de prestar referências, principalmente à primeira adaptação de 1971, estrelada por Gene Wilder, o que envolve detalhes como a caracterização dos Oompa Loompas – sendo um deles vivido por Hugh Grant – como a estética das músicas compostas para o filme. E enquanto as referências se tornam mais sutis, podemos observar a maior aposta dessa reimaginação: Timothée Chalamet. Mais do que só um nome requisitado, o celebrado ator americano convence ao viver um Willy Wonka ingenuamente  sonhador – muito mais próximo da gentileza de Wilder e longe do sádico e sarcástico chocolateiro de Johnny Depp – em um mundo conspirador e desigual.

Seguindo o caminho oposto do grande chocolateiro que oferece um passeio para cinco crianças sortudas em sua fábrica, o sonho de Wonka é de levar o chocolate que aprendeu a fazer com amor para o mundo, e se tornar referência. Inicialmente, Wonka tinha sido descrito como um tipo de prequel a história já apresentada, contudo, é clara intenção de ser uma versão totalmente nova, com um olhar mágico que só um musical pode fazer e num primeiro momento, o roteiro escrito por King ao Simon Farnaby permite um humor autoconsciente a ideia do filme se tratar de uma fantasia musical, tratando isso quase que como devaneio antes de apresentar a mágica que o inusitado chocolate preparado com ingredientes inusitados pode oferece. Se a história de Dahl concedia esperança com doses de sarcasmo, King substitui isso pela ingenuidade, a gentileza de um ambicioso sonhador que ama chocolate e não tem medo de compartilhar essa paixão de formas especiais com o mundo.

Dispensando um Wonka sombrio e conflitante com seus traumas, o texto escrito por Farnaby e King humaniza essa reimaginação do personagem ao inserir a astuta Noodle (Calah Lane) como co-protagonista. Essa se faz uma liberdade criativa proveitosa por servir um outro olhar para a carga emocional e melodramática comum nos filmes de King. E assim como o sentimento afetivo que o Willy possui pela falecida mãe rende trechos delicados e belos – uma mão na roda para Chamalet apresentar nuances ao seu Wonka – o arco de Noodle transita por similaridade temática ao termos dois personagens trilhando suas próprias jornadas  e tendo como plano de fundo a maternidade e a busca por um sentido em mundo hostil. Ampliando o leque de amizade, o elenco coadjuvante serve como alusão a ideia de família que surge em um grupo de pessoas injustiçadas além de garantir que esse é Wonka mais altruísta – tanto que os famosos episódios de chocolates com efeitos colaterais não entram como uma lição de moral sádica do chocolateiro.

Com sua linguagem capaz de divertir e emocionar na mesma medida, King prova que a intenção não é entregar um novo remake ao livro de Dahl, e sim, uma reimaginação inspirada. Para isso, acompanhamos o Wonka buscando dar início ao seu sonho de chocolateiro depois de aprender segredos desconhecidos e espalhar essa magia em forma de chocolate. Entre o lúdico e a inocência encantadora que reflete na história, King convida o público a se permitir a sonhar acordado e fazer parte desse sonho adocicado; crítico, mas também consciente de sua leveza e traços bobos que levam a origem do extravagante chocolateiro para novas notas, numa versão revigorante da fantástica fábrica de chocolate que oferece uma fantasia fugaz.

Evocando uma magia cinematográfica colorida, dançante e melosa, Wonka nos admite experimentar essa fantasia de forma acessível, e não como um sonho possível só para quem adentra a famosa fábrica. Mesmo apresentando traços desconexos da obra de Dahl, Chamalet surpreende como um ator musical, vivendo um Wonka que saiu de um mundo desconhecido e mágico com desejo de levar esperança para o mundo. Para quem souber se afastar dos filmes de Wilder e Depp e abraçar esse novo número orquestrado por King vai entender que não precisa de um cupom dourado para conhecer um lugar fantástico, basta se permitir sonhar.

Wonka (Wonka – EUA, 2023)
Direção: Paul King
Roteiro: Paul King, Simon Farnaby
Elenco: Timothée Chalamet, Calah Lane, Olivia Colman, Tom Davis, Kobna Holdbrook-Smith, Paterson Joseph, Matt Lucas, Mathew Baynton, Freya Parker, Keegan-Michael Key, Jim Carter, Rakhee Thakrar, Natasha Rothwell Rich Fulcher, Colin O’Brien, Sally Hawkins, Rowan Atkinson
Duração: 116 min.

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