I know the way to make you happy, I give you love, you give it back to me.
Escapismo. É em cima desta palavra e deste pretexto descrito pela própria artista que What’s Your Pleasure? cria o seu devido universo, que arqueja em luzes, emoções e batidas de tempos não tão distantes. Jessie Ware e suas canções ardentes simbolizam e vivificam sentimentos que, em meio a este momento difícil, podem ter se perdido entre as preocupações árduas que nos acompanham, e é exatamente nesse momento que as batidas uptempo acariciam os ouvidos e nos prendem numa utopia deliciosa feita de desejo, dúvida e dança. Mas, antes, aceite esse convite. Adentre essa nova realidade com toda a paixão guardada em algum lugar dessa estante empoeirada, feche os olhos e divirta-se.
Esse é o chamado que a primeira parte de Spotlight te oferece, abrindo o álbum com um mistério epopeico traduzido em camadas de voz e víscera a cada batida adicionada que grita “venha para o meu mundo” sem nem mesmo te mostrar. É arquejante. Seu fôlego se esvai enquanto a faixa cresce sem limite nem medo por repetições que não se igualam à anterior, só se tornam ainda mais maduras. Das diversas ilusões em que o trabalho ginga, a que permanece é a que estamos preparados para o que vem pela frente.
Nada se perde entre os cosmos de sintetizadores. Cada introdução aponta para a próxima oportunidade de sentir algo mais e mais real. É um disco que te induz a pergunta. Qual é o tipo de euforia que estou sentindo nesse momento? Estou me apaixonando e perdendo os sentidos em tentação? Estou criando asas e revivendo memórias que nunca sequer existiram? O upbeat arrebatador e as letras entusiasmadas inspiradas em Janet Jackson, na nostálgica Soul Control, ou na etérea Save a Kiss, com toques dramáticos de Kate Bush flutuando em um irrecusável encanto quase melancólico.
Nem tudo se mantém dançante o tempo todo, e quando as melodias e batidas caem, What’s Your Pleasure? mostra e aposta em outras facetas mais vulneráveis. Há algo de hipnótico nas proporções que as músicas mais intimistas abordam. In Your Eyes e sua escuridão sedutora que nos envolve em seus braços e transpassa uma segurança lindamente cantada, enquanto “It feels like we’ve been dancing to this song all of our lives” ecoa mais alto a cada vez repetida. The Kill apresenta uma dualidade analgésica e anseia por respostas dentro de si mesma. Cinematográfica, sombria, épica mas não esquece de caminhar em direção a luz enquanto progride. O álbum necessita desses pequenos grandes momentos para respirar, te dar um tempo para refletir antes de jogá-lo novamente na pista de dança, e somente Jessie e seus eternos “I’ve been waiting my whole life for someone who makes me feel like you do” são capazes de fazer isso de forma tão natural e pulsante.
Sim, nós temos muito pra lidar. Os fantasmas ao nosso redor estão presentes, saindo de nossas cabeças e tomando lugares que não eram de seu direito. What’s Your Pleasure? é a dose de refúgio que nos salva de perder a identidade. Confiante, Jessie Ware preenche um espaço que, em teoria, permaneceria inerte ao encarar o que estamos encarando. O tempo continua andando, as pessoas encontrando formas de seguir em frente, mas enquanto você precisar, o disco estará aqui, esperando pela próxima viagem, aguardando para te transportar para uma galáxia distante feita de júbilo e conforto, mas também te lembrar de quem você é.
Aumenta!: Mirage (Don’t Stop)
Diminui!: Adore You
What’s Your Pleasure?
Artista: Jessie Ware
País: Reino Unido
Lançamento: 26 de junho de 2020
Gravadora: PMR Records
Estilo: Disco, Soul, Pop