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Crítica | What If…? – 2ª Temporada: Parte 2 de 2

Os sacrifícios multiversais da Capitã Carter.

por Ritter Fan
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  • Leiam, aqui, as críticas da temporada anterior e, aqui, de todo nosso material do Universo Cinematográfico Marvel.

Como os nove episódios da segunda temporada de What If…? foram lançados diariamente a partir do dia 22 de dezembro de 2023 e fazer uma crítica por dia seria loucura, ainda que eu considere essa série divertida demais para fazer uma crítica só geral, decidi por um meio termo: fiz as críticas separadas dos quatro primeiros episódios em uma postagem só, sempre escrevendo a do episódio anterior sem assistir ao seguinte, e, agora, lanço as críticas separadas em uma postagem só dos outros cinco, da mesma forma que o conjunto anterior. Em seguida, será a vez dos comentários gerais sobre a temporada com a avaliação da temporada como um todo e o ranking dos episódios.

Vamos então às cinco últimas críticas?

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2X05
O Que Aconteceria Se…
Capitã Carter Lutasse contra o Esmagador Hidra?

Se o episódio anterior, que arremessa Tony Stark para Sakaar, é um prelúdio para os eventos multiversais da temporada anterior de What If…?, este aqui é uma continuação direta do primeiro episódio da série que faz de Peggy Carter a Capitã América de seu universo e que eu pessoalmente considero o melhor do primeiro ano. E, se o referido episódio foi uma reimaginação de Capitão América: O Primeiro Vingador, O Que Aconteceria Se…Capitã Carter Lutasse contra o Esmagador Hidra? é uma bem-vinda e muito bem construída reimaginação de Capitão América: O Soldado Invernal, com direito até mesmo a um uniforme stealth para a Capitã Carter (Hayley Atwell) em uma missão em um navio cargueiro, ao lado da Viúva Negra (Lake Bell), em que ela descobre que, de maneira semelhante ao Soldado Invernal nos filmes, Steve Rogers (Josh Keaton), dentro da armadura do Esmagador Hidra, ainda está vivo e conservado jovem como um assassino do mítico Quarto Vermelho que treinara Natasha Romanoff, o que, de bônus, estabelece o episódio também como uma reimaginação do longa solo da ruiva russa.

O roteiro de A.C. Bradley é esperto ao costurar os eventos que conhecemos dos dois citados filmes em uma narrativa coesa, agitada e coerente com a construção dos personagens e que sedimenta a Capitã Carter como a grande protagonista de What If…? até o momento. Sim, ela é uma heroína “fora do tempo” como o Capitão América foi, mas ela tem personalidade própria, algo que é visto na forma particular como sua conexão com a Viúva Negra é trabalhada. Além disso, Atwell seja em seu trabalho de voz ou nos poucos minutos que teve como a personagem em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, demonstra como ela consegue naturalmente carregar uma história nas costas, algo que já havia ficado claro quando ela era apenas Peggy Carter, uma coadjuvante em O Primeiro Vingador ou a protagonista em Agente Carter.

O Steve Rogers preso em sua armadura e controlado por Melina Vostokoff (Rachel Weisz) consegue reproduzir o drama e as dúvidas de Bucky Barnes (que aparece mais velho, como congressista, com a voz de Sebastian Stan) e também a conexão romântica dele com Peggy, sem que o episódio faça concessões fáceis e convenientes à narrativa dos dois, o que funciona para manter o jogo sempre vivo e o espectador sempre na dúvida, algo que o final aberto e inesperado só aumenta, apontando para um protagonismo ainda maior de Carter nessa segunda metade da temporada. Bem que o próximo pulo multiversal da Capitã poderia ser para um filme solo live-action, não é mesmo?

What If… Captain Carter Fought the Hydra Stomper? (26 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: A. C. Bradley
Elenco: Jeffrey Wright, Hayley Atwell, Lake Bell, Josh Keaton, Sebastian Stan, Rachel Weisz, Frank Grillo, Samuel L. Jackson, Elizabeth Olsen
Duração: 33 min.

2X06
O Que Aconteceria Se…
Kahhori Remodelasse o Mundo?

A criação em outras mídias de personagens que se inserem em um universo originalmente de quadrinhos é bastante comum. Os dois exemplo mais famosos, claro, são os de Arlequina, que surgiu em Batman: A Série Animada e Laura Kinney, a X-23, que surgiu em X-Men: Evolution, mas há outros vários exemplos, dentre eles ninguém menos do que Perry White e Jimmy Olsen, da mitologia do Superman, que foram criações radiofônicas em priscas eras. Kahhori (Devery Jacobs), moicana do século XV no que, em nosso universo, tornar-se-iam os EUA, é a mais nova personagem a aparecer diretamente em animações, com potencial de, um dia, ser transposta para os quadrinhos, já que sua origem entrelaçada com um universo em que o Tesseract – ou Joia do Espaço – acabou perdido na Terra depois do Ragnarok efetivamente acontecer em Asgard, pelas mãos de Surtur (Clancy Brown).

O episódio tem a vantagem de apresentar uma personagem absolutamente do zero e de construir um mundo mítico criado pelo Tesseract que dá poderes a quem lá vive. Infelizmente, porém, tudo é corrido demais, sem que Kahhori ganhe a profundidade que merecia. Uma coisa é você reformular personagens já conhecidos em 30 e poucos minutos; outra bem diferente é apresentar um completamente novo, com um conjunto de poderes um tanto quanto genéricos e não facilmente dedutíveis a partir do pouco que sabemos da Joia do Espaço e que se vale, exclusivamente, de uma construção arquetípica, ou seja, da valente e altruísta guerreira que faz de tudo pelo seu povo. Kahhori, para ser bem franco, merecia alguns episódios para ganhar a devida construção e ter o devido desenvolvimento em um ambiente crucial em que os Conquistadores espanhóis chegavam para dominar o Novo Mundo.

Aliás, diria que é frustrante ver que o roteiro simplesmente não tem tempo de lidar justamente com a real grande mudança desse episódio de What If…?, que é o potencialmente completo refazimento da geografia do mundo, com as Américas permanecendo com os americanos e a Europa tendo que se contentar com suas colônias em outras paragens do planeta, algo que também poderia sofrer modificações se Kahhori e sua tribo decidissem expandir suas atividades para além de sua fronteiras. Mas tudo o que temos sobre isso são divertidos momentos de completa humilhação da Rainha Isabel I de Castela e Leão (Carolina Ravassa) que são bruscamente interrompidos pelo Estranho Supremo (Benedict Cumberbatch) naquele cliffhanger safado e completamente frustrante…

What If… Kahhori Reshaped the World? (27 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Ryan Little
Elenco: Jeffrey Wright, Devery Jacobs, Kiawentiio, Jeremy White, Gabriel Romero, Benedict Cumberbatch, Carolina Ravassa, Clancy Brown, Jeff Bergman
Duração: 34 min.

2X07
O Que Aconteceria Se…
Hela Encontrasse os Dez Anéis?

A combinação de Hela, a Deusa da Morte, e primogênita de Odin, com a organização Dez Anéis apresentada por completo no Universo Cinematográfico Marvel em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis era algo que jamais imaginaria, mas que o sétimo episódio da segunda temporada de What If…? faz funcionar maravilhosamente bem, mesmo que se curve ao velho clichê da vilã tornando-se heroína. Fazer com que o Pai de Todos exile sua filha não para Hel, mas sim para Midgard, encantando seu capacete da mesma maneira que encantou o martelo de Thor é uma jogada de mestre, assim como é uma jogada de mestre fazer Hela passar por um processo semelhante ao do próprio Shang-Chi em seu filme de origem, não simplesmente entregando a ela os Dez Aneis superpoderosos, mas sim transformando-a completamente.

Mesmo que a série faça um tremendo esforço para trazer seu elenco original para emprestar suas vozes a seus personagens, era essencial que Cate Blanchett retornasse à sua Hela e seu trabalho de voz é paga juros e dividendos por ser excepcional e simplesmente o ponto alto de toda a animação. Há um misto de sutileza, deboche, maldade, sarcasmo, ironia e zombaria em sua voz que faz de sua Hela animada uma personagem melhor ainda que sua relativamente mal aproveitada Hela em live-action de Thor: Ragnarok. Blanchett convence como a espada de seu pai, como a filha que quer mais, como a mulher vingativa, como a pessoa que percebe que talvez há outro caminho, como a guerreira do bem e, finalmente, como um força da luz sem que sequer por um segundo duvidemos de que ela é tudo isso ao mesmo tempo por todos os momentos.

Obviamente que o passo da narrativa ajuda muito. Nada parece estar fora do lugar e nada demora mais ou menos do que deveria, seja a relação de Hela com Xu Wenwu (Feodor Chin), com o estranho Hundun ou com Jiayi (Lauren Tom) em Ta Lo, ou mesmo seu embate final com seu próprio pai, aliás um momento particularmente bem coreografado que vale o ingresso por si só. Claro que tudo poderia ter gozado de mais tempo para aclimatações e desenvolvimentos mais detalhados, mas a diferença é que nós já conhecemos Hela, algo que não acontece com Kahhori, protagonista do episódio anterior. Seja como for, a improvável conexão de Hela com os Dez Anéis parece vingar a personagem e dar o tempo que Blanchett precisava para realmente torná-la memorável.

What If… Hela Found the Ten Rings? (28 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Matthew Chauncey
Elenco: Jeffrey Wright, Cate Blanchett, Jeff Bergman, Feodor Chin, Lauren Tom, Idris Elba, Michael Hagiwara, Liv Zamora
Duração: 31 min.

2X08
O Que Aconteceria Se…
os Vingadores Se Reunissem em 1602?

O conceito de Vingadores renascentistas, originalmente criado nos quadrinhos por ninguém menos do que Neil Gaiman, é fascinante e com potenciais infinitos só a partir dessa premissa. Dentro de um conceito maior de episódios conectados, mas não passados no mesmo período – ou até no mesmo universo -, o que até ganhou o “selo” nas HQs de Marvel 1602 torna-se uma base narrativa quase aleatória que é desperdiçada pelo tumulto e pela afobação de se atochar a maior quantidade de personagens no menor tempo possível, sem dar tempo para absolutamente nada, a não ser tentar levantar o dedo e apontar para as referências, padrão da indústria que, se um dia foi bacana, hoje é absolutamente irritante, mas infelizmente tudo o que muita gente quer ver nas telonas e telinhas.

Não que o episódio seja ruim, longe disso, mas há uma enorme afobação que não permite que a narrativa flua naturalmente. Vemos a Capitã Carter (Hayley Atwell) agindo como se sempre tivesse vivido nesse universo sendo considerada a última esperança por todos, menos pelo Rei Thor (Chris Hemsworth), que exige sua cabeça depois que sua irmã Hela é sugada por fendas temporais. Mas isso não é suficiente para estabelecer uma história na cabeça dos roteiristas e, então, é necessário trabalhar uma sucessão de artifícios narrativos que funcionam como formulários com os quadradinhos para serem marcados de forma que os demais Vingadores possam aparecer. É o Steve Rogers Robin Hood, ou Rogers Hood (Josh Keaton), é o Sir Harold “Happy” Hogan (Jon Favreau) agindo contra o tipo para ser o equivalente ao Xerife de Nottingham e ao mesmo tempo o Hulk Roxo ou The Freak que vimos no episódio que parodia Duro de Matar e até mesmo um exército de Jaquetas Amarelas sendo arremessado pelas pistolas dos soldados do rei, tudo isso sem que haja tempo para o espectador respirar e absorver os detalhes, para se divertir com o que inegavelmente poderia ser muito divertido.

Ao abraçar tudo e mais um pouco e ainda ser um dos episódios que conta uma história única, com exigências próprias, algo que vem acontecendo desde o quinto, a reunião dos Vingadores de 1602 é uma corrida de 100 metros rasos em que centenas de corredores participam ao mesmo tempo, ou seja, é impossível identificar direito quem é quem ou apreciar a história, a arte e o design dos personagens (que desperdício são Sir Nicholas Fury, por Samuel L. Jackson, e Wanda Merlin, por Elizabeth Olsen, aqui…). Ainda é divertido, especialmente pelas presenças hilariamente blasés de um Tony Stark (Mick Wingert) que adora as “palavras inventadas” de Carter e de um Loki (Tom Hiddleston) declamador de Shakespeare que é a encarnação da fleuma britânica, mas não faz jus à sensacional premissa.

What If… the Avengers Assembled in 1602? (29 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: A. C. Bradley, Ryan Little
Elenco: Jeffrey Wright, Hayley Atwell, Samuel L. Jackson, Elizabeth Olsen, Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Mark Ruffalo, Jon Favreau, Mick Wingert, Josh Keaton, Paul Rudd, Sebastian Stan, Benedict Cumberbatch, Lake Bell
Duração: 32 min.

2X09
O Que Aconteceria Se…
Estranho Supremo Interviesse?

Se eu quisesse ser muito chato, mas muito chato mesmo, eu poderia qualificar esse episódio final da segunda temporada de What If…? como o episódio dos raiozinhos coloridos saindo das mãos dos bonequinhos. São raiozinhos coloridos e bonequinhos muito bonitos, com ótimos designs e uma excelente animação, mas ainda assim são raiozinhos coloridos sendo expelidos pelos bonequinhos. Sei que faz parte de qualquer material super-heróico por aí desde priscas eras, mas sei lá, é um pouco frustrante tudo se resumir a uma rinha de galo arco-íris em que traições acontecem na mesma velocidade supersônica em que arcos de redenção são trabalhados. E olha, vamos combinar que já é o segundo arco de redenção de um mesmo personagem e isso cansa bastante.

Dito isso, já que eu não quero ser tão chato assim, vale dizer que a ideia do pareamento da Capitã Carter (Hayley Atwell) com Kahhori (Devery Jacobs) é bem bacana, ainda que seja irônico que a Marvel tenha se dado ao trabalho de introduzir uma personagem inédita relevante somente para relegá-la a um duvidoso papel de sidekick que, se fosse eliminado do roteiro, não faria a menor diferença no episódio (imaginem os eventos sem Kahhori, como se ela morresse logo depois de ser trazida de volta para o Sanctum Infinitum, e notem como ela não contribui em nada efetivamente importante para o desfecho da narrativa). Além disso, o depressivo e obsessivo Estranho Supremo (Benedict Cumberbatch) é um vilão bacana, mas que eu arriscaria dizer que já deu o que tinha que dar. Mas a ideia de zonear tudo ao libertar os mega-vilões multiversais que ele vinha colecionando para transformar seu santuário mágico em uma arena gladiatorial é obviamente uma diversão só, com um caminhão de referências para fazer qualquer fã babar (como disse, muitos se contentam só com esse tipo de artifício, infelizmente), ainda que essas ameaças todas, juntas, acabem não criando nenhum pingo de senso de perigo e são passíveis de serem derrotas com, você adivinhou, luzinhas coloridas.

Em outras palavras, semelhante ao episódio anterior, O Que Aconteceria Se…Estranho Supremo Interviesse? é uma bagunça multicolorida que não conta história discernível alguma, só colocando heróis, vilões e anti-heróis uns contra os outros em um festival que parece mais diversas explosões de luzes e cores intercaladas com caras de espanto, caras de tristeza, caras zangadas e um monte de frase de efeito tiradas de livros de autoajuda. Estou sendo duro e meus comentários não combinam com minha avaliação final? Bem, isso acontece nas melhores famílias, pois, no final das contas, mesmo com esse caminhão de problemas, ainda achei o resultado final encaixável ali na parte mais baixa da linha do bom, encostando no mediano, mas não exatamente chegando lá. Vai entender…

What If… Strange Supreme Intervened? (30 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Matthew Chauncey
Elenco: Jeffrey Wright, Hayley Atwell, Benedict Cumberbatch, Devery Jacobs, Cate Blanchett, Feodor Chin, Clancy Brown, Josh Keaton, Stanley Tucci
Duração: 33 min.

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