- Leiam, aqui, as críticas da temporada anterior e, aqui, de todo nosso material do Universo Cinematográfico Marvel.
Como os nove episódios da segunda temporada de What If…? foram lançados diariamente a partir do dia 22 de dezembro de 2023 e fazer uma crítica por dia seria loucura, ainda que eu considere essa série divertida demais para fazer uma crítica só geral, decidi por um meio termo: fiz as críticas separadas dos quatro primeiros episódios em uma postagem só, sempre escrevendo a do episódio anterior sem assistir ao seguinte, e, em alguns dias, publicarei as críticas separadas em uma postagem só dos outros cinco. Depois, será a vez dos comentários gerais sobre a temporada com a avaliação da temporada como um todo e o ranking dos episódios.
Vamos então às quatro primeiras críticas?
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2X01
O Que Aconteceria Se…
Nebulosa Se Juntasse à Tropa Nova?
Não é preciso muito para acertar com a estrutura de film noir e talvez seja preciso menos ainda para acertar quando a fonte principal de inspiração é o sci-fi noir clássico dos clássicos Blade Runner. Ridley Scott criou o formulário do subgênero e não há mal algum em usá-lo, especialmente em um roteiro esperto que transporta a estrutura narrativa que conhecemos muito bem, com narração em off, trama detetivesca na base do whodunnit repleta de reviravoltas, e todo o aparato visual que vai dos becos sujos e chuvosos com luz néon onde um corpo é encontrado, até sobretudos, frases de efeito e personagens do submundo, para o Universo Cinematográfico Marvel. E, claro, ao conseguir reposicionar Nebulosa (Karen Gillan) pela segunda vez como heroína no UCM, o episódio em que ela se junta à Tropa Nova é basicamente irresistível.
O falecido é ninguém menos do que Yondu Udonta em uma Xandar muito diferente da que conhecemos, depois que o planeta se isola do universo com um escudo impenetrável para evitar o ataque de Ronan, o Acusador que, depois de trair e matar Thanos, volta-se à dominação intergaláctica, com Nebulosa, nesse processo, sendo resgatada e recrutada por Nova Prime (Julianne Grossman) para a Tropa Nova. Pode até ser uma sucessão de acontecimentos um tanto quanto atropelada, mas o importante é que ela funciona como pano de fundo eficiente para esse outro universo e como gatilho para a trama da história em si, que coloca Nebulosa investigando o assassinato de Yondu por ordens de sua líder e, claro, a descoberta de uma trama muito mais ampla e assustadora.
Coloquem nesse mix um grupo de desajustados formado por Howard, o Pato (Seth Green), Korg (Taika Waititi), Groot (Fred Tatasciore) e Miek, em uma reedição ainda mais ousada dos Guardiões da Galáxia e pronto, a diversão está garantida. Sim, há um monte de conveniências narrativas para que tudo chegue a um fim completo, mas o que mais esperar de um episódio que embaralha um universo conhecido e apresenta uma trama dessa magnitude com tantos personagens interessantes – exatamente por serem de segundo, terceiro e quarto escalão na hierarquia Marvel – espremido em menos do que meia hora? O negócio é aproveitar a diversão que é acompanhar justamente essa ótima segunda transformação de Nebulosa em uma androide badass.
What If… Nebula Joined the Nova Corps? (22 de dezembro de 2023)
Direção: Stephan Franck
Roteiro: Matthew Chauncey
Elenco: Jeffrey Wright, Karen Gillan, Jude Law, Michael Rooker, Seth Green, Taika Waititi, Peter Serafinowicz, Julianne Grossman, Fred Tatasciore
Duração: 31 min.
2X02
O Que Aconteceria Se…
Peter Quill Atacasse os Heróis Mais Poderosos da Terra?
Confesso que eu já não me lembrava mais que Peter Quill era um meio celestial e que isso implicaria em ele ter algum tipo de poder divino e, por isso, não entendi muito bem o título desse episódio até que as lembranças começaram a retornar na medida em que ele progredia. Ver um Peter Quill (Mace Montgomery Miskel) ainda adolescente depois de ser entregue por Yondu para seu pai Ego (Kurt Russell) que, então, o uso em um plano que faz jus ao seu nome chamado Expansão, em que ele basicamente deseja reformatar o universo à sua imagem, foi uma experiência interessante nos primeiros minutos em que ele retorna para a Terra, mas começa a destruir tudo à sua frente. Meu receio é que tudo não passasse de mera pancadaria.
E fiquei feliz ao ver que, na verdade, Quill não passou de uma boa desculpa para uma reunião prematura dos heróis mais poderosos da Terra, na forma de proto-Vingadores, comandados por Howard Stark (John Slattery) e Peggy Carter (Hayley Atwell), ainda em 1988. Aos dois humanos “normais”, juntam-se Hank Pym, o Homem-Formiga original (Michael Douglas), Bill Foster, o Golias (Laurence Fishburne), T’Chaka, o Pantera Negra antes de T’Challa (Atandwa Kani, filho de John Kani que deu vida ao T’Chaka de carne e osso em Guerra Civil), Thor (Chris Hemsworth, que revela sua existência quando chega para eliminar Quill que destruíra Asgard e os demais reinos e duas ótimas surpresas, pelo menos para mim: Bucky Barnes, o Soldado Invernal (Sebastian Stan) e ninguém menos do que Wendy Lawson, a Capitã Mar-Vell (Keri Tombazian). Ao lado deles todos e com papel importantíssimo para lidar com Quill, vemos a versão adolescente de Hope Van Dyne (Madeleine McGraw), a futura Vespa.
Obviamente que a formação desse grupo é todo o objetivo do episódio, pois a interação entre eles é o coração da história toda, com a ameaça de Ego sendo quase que um detalhe à parte para dar-lhes o que fazer por alguns minutos. Se pararmos para pensar, o mesmo acontece no episódio anterior, em que Nebulosa monta sua própria versão dos Guardiões da Galáxia, o que logo estabelece uma “conversa” temática entre os dois primeiros capítulos da nova temporada e que confesso gostar bastante. E, de maneira semelhante ao desenrolar da aventura de Nebulosa, a que tem Peter Quill como centro é um pouco apressada, com as interações, por melhor que sejam, soando afobadas e com a resolução da ameaça planetária um pouco fácil e deus ex machina demais para o meu gosto, mesmo que ver os Vingadores de 1988 em ação tenha sido um deleite a ponto de que eu não me importaria em nada em ver live-action um dia (e sim, podem reescalar todos os papeis, pois esse tabu de reescalação não faz nenhum sentido).
What If… Peter Quill Attacked Earth’s Mightiest Heroes? (23 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Matthew Chauncey
Elenco: Jeffrey Wright, Michael Douglas, Hayley Atwell, John Slattery, Kurt Russell, Chris Hemsworth, Laurence Fishburne, Sebastian Stan, Atandwa Kani, Madeleine McGraw, Mace Montgomery Miskel, Keri Tombazian, Gene Farber
Duração: 32 min.
2X03
O Que Aconteceria Se…
Happy Hogan Salvasse o Natal?
Duro de Matar na Torre dos Vingadores com Justin Hammer (Sam Rockwell) como Hans Gruber e Happy Hogan (John Favreau) como John McClane em uma história natalina? Podem contar comigo! E a coisa fica melhor ainda quando o episódio é completamente descompromissado com eventuais conexões maiores com o Multiverso e tem apenas uma única preocupação, que é parodiar a obra que o inspirou e entregar litros de diversão com um Hogan completamente perdido que acaba se transformando em um Hulk Roxo(???) e um Hammer ainda mais inspirado que o original em toda a sua canastrice e tiração de onda, como um Tony Stark de xepa de feira.
E o episódio é milimetricamente construído em cima de Duro de Matar, inclusive com referências diretas e explícitas ao filme, quase que eu uma meta-narrativa que parece não ter outro objetivo que não seja criar algo muito próximo à obra original, só que, claro, passado no UCM. Com a Diretora Maria Hill (Cobie Smulders) e a estagiária Darcy Lewis (Kat Dennings) fazendo as vezes de Holly Gennaro-McClane e Al Powell só para completar o elenco central, a progressão do episódio é exatamente o que podemos esperar, com o “Hulk Hogan” (obviamente que essa menção é feita no roteiro) sendo o noves fora, o fator imponderável que até o Vigia (Jeffrey Wright) usa como isca para fisgar o espectador desde o início com uma brincadeira que o leva a rebobinar os acontecimentos para algumas horas antes de sua narração inicial.
Mas para além da brincadeira toda, se por um momento conseguirmos esquecer a fonte de que o episódio bebe sem pudor (talvez em algum universo alternativo alguém não tenha assistido Duro de Matar…), é notável como ele funciona bem por si mesmo. Nenhum personagem se trai em termos de construção e desenvolvimento, nem mesmo Hogan e muito menos Justin Hammer e a narrativa flui fácil e coerentemente, com todos os elementos formadores do UCM presentes de uma maneira ou outra (a ausência de J.A.R.V.I.S., por exemplo, é muito pontuada, levando até à revelação de que há uma I.A. chamada W.E.R.N.E.R. cuja voz de Ross Marquand “suspeitamente” imita a de Werner Herzog) resultando em uma história autocontida que funciona como um conto natalino do UCM de maneira muito mais eficiente do que aquele outro com os Guardiões da Galáxia.
What If… Happy Hogan Saved Christmas? (24 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: A. C. Bradley, Matthew Chauncey
Elenco: Jeffrey Wright, Jon Favreau, Kat Dennings, Cobie Smulders, Sam Rockwell, Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Jeremy Renner, Mick Wingert, Lake Bell, Josh Keaton, Isaac Robinson-Smith, Matthew Waterson, Ross Marquand
Duração: 29 min.
2X04
O Que Aconteceria Se…
o Homem de Ferro Colidisse com o Grão-Mestre?
A desculpa para esse episódio é dar um estofo à Gamora (Cynthia McWilliams) que se torna a heroína multiversal da primeira temporada de What If…?, o que faz deste capítulo o primeiro a ser uma continuação (ou prelúdio, como queiram) de eventos já trabalhados. Nenhum problema nisso, ainda que Gamora seja um detalhe aqui, com a história partindo do final da Batalha de Nova York, com o Homem de Ferro (Mick Wingert) não conseguindo retornar de seu sacrifício e sendo arremessado via buracos de minhoca para Sakaar, o planeta-lixão que vimos em Thor: Ragnarok comandado pelo enlouquecido e muito divertido Grão-Mestre (Jeff Goldblum). O que segue, daí, é uma ainda mais frenética variação do terceiro filme do Deus do Trovão que também conta com Korg (Taika Waititi) e Valquíria (Tessa Thompson).
A primeira grande mudança em relação ao filme – além do fato de não haver Thor e Hulk, claro – é que não há lutas gladiatoriais, mas sim uma corrida automobilística que parece mais uma fusão entre o clássico cartum Corrida Maluca e a excelente, mas infelizmente desgostada por muitos, versão cinematográfica de Speed Racer, com algumas pitadas dos momentos mais doidos das franquias Velozes e Furiosos e Mad Max. Stark, resolvendo tentar salvar Sakaar do controle tresloucado do Grão-Mestre, desafia-o a uma corrida cujo prêmio é o próprio planeta, o que, claro, automaticamente significa a construção de uma nova armadura de Homem de Ferro e todo o tipo de roubalheira possível por parte do ditador local ao lado de sua segunda em comando Topázio (Rachel House), com Gamora – lembram-se que a história era sobre ela – servindo mais de uma ameaça cansada para um Stark que basicamente a convence a ser boazinha conversando com ela enquanto os dois correm.
Sei que é uma duração curta demais para a pancadaria automobilística e a conversão de Gamora de assassina a heroína, mas o roteiro de A. C. Bradley não parece preocupado com o segundo aspecto, somente o primeiro, fazendo questão de destacar todo mundo, até o hamster que fica nos ombros de Korg, e deixando a alienígena verde quase que completamente para escanteio somente para que a animação possa vender para os espectadores a enésima versão da armadura do Ferroso e talvez a mais colorida. Ainda que o resultado final consiga divertir muito em razão da variedade dos bólidos da corrida e, claro, das vertiginosas sequências de ação, teria sido mais honesto se o episódio fosse só isso, sem Gamora eventualmente aparecendo aqui e ali para lembrarmos de sua existência e de que a história, em tese, era sobre ela.
What If… Iron Man Crashed into the Grandmaster? (25 de dezembro de 2023)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: A. C. Bradley
Elenco: Jeffrey Wright, Mick Wingert, Jeff Goldblum, Tessa Thompson, Taika Waititi, Rachel House, Josh Brolin, Cynthia McWilliams
Duração: 34 min.