- Há SPOILERS! Leia aqui as críticas dos outros episódios. E leia aqui as críticas para a série em quadrinhos O Que Aconteceria Se…?
O final desta primeira temporada de What If… já havia sido previsto com exatidão desde What If… Thor Were an Only Child?, embora o conceito tivesse aparecido levemente em discussões anteriores. E sim, foi um bom final, apesar de tudo. Uma das coisas que essa temporada de estreia da série nos trouxe foi a bifurcação na abordagem de tramas fora do Universo principal da Marvel, criando aventuras com uma clara indicação de continuidade e outras que aparentemente encerravam-se em si mesmas. No fim das contas, essa aparência híbrida virou outra coisa neste último capítulo, onde o roteiro de A.C. Bradley faz de tudo para dar sentido à bagunça de abordagens.
Narrativamente é um episódio direto, ambientado algumas poucas horas (?) depois da cena final de What If… Ultron Won?. E essa continuação aposta justamente na convocação de indivíduos de diferentes Universos para fazerem parte dos Guardiões do Multiverso, a equipe multiplanetária que o Vigia, agora intervindo na realidade, cria para batalhar contra um Ultron virado no Jiraya. Ocorre que, diferente do capítulo que o antecedeu, What If… The Watcher Broke His Oath? parece corrido, tem mais elipses do que deveria, se esquece de criar uma história para dar algum preenchimento à porradaria geral e se vale da cara épica do episódio para preencher as carências que tem, conseguindo sucesso parcial com isso… porque é realmente tudo muito divertido de se acompanhar.
Um comentário sobre as escolhas do Vigia precisa vir à tona. Vocês tiveram resistência ou questionamentos bastante fortes a respeito de alguma delas? Exemplo: por que diabos escolher o Thor festeiro num Universo que tinha Capitã Marvel? Bem, essa é até possível entender — embora fora do marketing não haja uma explicação diegética que tinha grande lógica –, mas vamos lá: o que dizer do Killmonger assassino? Para mim, essa história funcionaria muito melhor se fosse deixada para se resolver isoladamente. A presença desse personagem aqui me incomodou desde o início, e o tipo de “sonhos de império” que ele cultiva foi a saída mais confortável que o roteiro encontrou para se livrar do ultra-Ultron — o que por si só já é uma camada grossa de preguiça para imaginar um final inteligente.
Todo esse rolê para unir diversos personagens do Multiverso e, no final das contas, um vilão que nem deveria estar no meio acabar vencendo o outro vilão — e tudo por um anseio de poder, onde os personagens desejam as Joias do Infinito e não podem tê-las. Tenho certeza que o meu sobrinho de 6 anos chega a uma conclusão igualzinha quando está brincando de transformar os dinossauros dele em super-heróis, nas muitas batalhas épicas que trava na sala de casa. “Ah, mas é interessante porque dá ao Estranho algo para fazer, criando uma dimensão paralela dentro da dimensão paralela“. E para essa passadinha de pano à la QI negativo eu só tenho uma coisa a dizzzzzzzzzzzzzzzzzzzz…
A propósito, falando no estranho-Estranho: o que vocês entenderam do status final dele? Claro que o roteiro não fala nada a respeito, mas pelo que a gente depreende, ele precisa voltar para o Universo cristalizado porque já não pode controlar os seus poderes monstruosos e, se não estiver lá, pode colocar outros Universos em perigo. É isso mesmo? Alguém entendeu algo diferente? Porque se houver uma outra justificativa, especialmente depois da belezinha que foi a recolocação de Natasha em uma Terra que tinha perdido a sua Viúva Negra, teremos mais um ponto negativamente complicado desse episódio.
Como qualquer pessoa normal que gosta do mundo dos super-heróis, eu sorri, vibrei e senti leves toques de emoção ao longo desse encerramento de temporada. What If… chega ao fim de seu primeiro ano jogando com um time vencedor: a receita da Marvel que majoritariamente vem dando certo nos cinemas e na TV. Inegavelmente tem seu charme (e por falar nisso, perceberam a leve diferença na animação?) e carrega todos aqueles truques detalhadamente pensados para nos impressionar. Isso funciona? Para mim, sim, na maior parte do tempo. Na outra parte, porém, me sinto feito de palhaço ao ter em mãos um cenário grandioso, com muita gente aos socos, pontapés, tiros, poderes e frases de efeito, com quase nada que possa preencher satisfatoriamente o enredo (o que vale para episódio e para a temporada). Uma coisa é certa: os #thanoslovers continuarão reclamando do quão “desrespeitosa” é a representação do personagem no Universo Marvel de agora; e os “colecionadores de hominhos” terão sonhos molhados pelos próximos meses, até poderem colocar as mãos nesses personagens que devem sair para venda em breve. E o que a gente aprende com tudo isso? Que aquele tiozão genial de fala rápida e sobrancelhas colossais tinha 100% de razão.
1X09: What If… The Watcher Broke His Oath? (EUA, 06 de outubro de 2021)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: A.C. Bradley
Elenco: Jeffrey Wright, Samuel L. Jackson, Hayley Atwell, Lake Bell, Frank Grillo, Georges St-Pierre, Chadwick Boseman, Brian T. Delaney, Mick Wingert, Cynthia Kaye McWilliams, Michael B. Jordan, Ozioma Akagha, Chris Hemsworth, Benedict Cumberbatch, Ross Marquand, Toby Jones, Tom Hiddleston, Kurt Russell, Kari Wahlgren, Matthew Wood
Duração: 28 min.