- Há SPOILERS do episódio e da série. Leia, aqui, as críticas dos outros episódios.
Na crítica de Zhuangzi eu explorei o quanto Hale (a Dolores maligna, modificada para destaque à sua pior faceta) e Christina (parte da versão original, mais pura e inocente de Dolores) representavam lados distintos de criadoras e manipuladoras de vidas e de comportamentos nessa realidade da 4ª Temporada. Duas figuras que agem como deusas, em situações e até mesmo intenções diferentes. Por conta dessas divergências e também pelo status de percepção de cada uma delas (Christina apenas “acordou para a realidade” há pouco tempo), a série ganhou uma reta final muito intensa, trazendo um cenário de guerra que pode alterar o mundo criado por Hale e talvez devolver o livre-arbítrio aos seres humanos. Talvez. Veremos.
Aqui em Fidelity temos um episódio relativamente simples, dando um pouco mais de margem para essa briga entre as criadoras de realidade (e com a reentrada de uma caótica destruidora de realidades, nossa velha Maeve), além de algumas ideias sobre a preocupante infecção dos anfitriões, que terminam por se suicidar. É uma armadilha criada por Hale para tentar entender, quando Caleb finalmente chega ao ponto onde pode ter acesso à filha, o que é que ele tem de diferente e que ela, a grande idealizadora de um “mundo ideal”, não tem. Neste cenário, vemos Hale à beira de uma crise de programação, porque ela não entende a pequenez dos gestos e vontades humanas, mas cada vez mais percebe que o controle da humanidade pode estar escapando-lhe pelos dedos.
Como libertar o mundo de um domínio assim? Não podemos nos esquecer que a sociedade que vemos aqui é o resultado de 23 anos de programação que foi sendo incrementada conforme a tecnologia dessa realidade também avançava. O que Hale imaginava, porém, não se cumpre. O mundo na palma de sua mão, à mercê de sua espécie, não se mostrou um mundo que trouxesse verdadeira satisfação à criadora, e uma espécie de “síndrome divina” passou a tomar conta da personagem. A gente não tem Christina aqui, mas num comparativo do que já tivemos dela nesta temporada, entendemos que é alguém que caminha no sentido oposto ao de Hale. Ela não tem nenhum tipo de apreço pelo poder de controlar o mundo dessa forma. De criar destinos. Na verdade, isso a aterroriza. E me parece que essa orientação de Christina, somada ao retorno de Maeve a esta realidade, serão as armas fatais para o reinado dos anfitriões.
Ao menos é isso que parece, porque a série pode ir para um caminho bem inesperado a partir daqui — lembrando que faltam apenas dois episódios para acabar da temporada. Isso porque as discussões estão sendo bastante amplas, e mesmo num episódio tão fechado como este, inclusive representando um angustiante loop (trazendo a melhor interpretação Aaron Paul na série), as consequências das atitudes de cada um dos blocos pode resultar em algo inesperado e ainda mais complexo. Na sequência de episódios que vínhamos tendo, Fidelity é o mais calmo, mas isso não significa que deixa de nos entregar coisas boas ou dar andamento à grande aventura do ano. O que ele faz é expandir alguns personagens e dar a eles motivações que certamente terão a sua compensação em breve. A transformação já começou. Virá uma nova revolta?
Westworld – 4X06: Fidelity (EUA, 31 de julho de 2022)
Direção: Andrew Seklir
Roteiro: Jordan Goldberg, Alli Rock
Elenco: Aurora Perrineau, Thandiwe Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Luke Hemsworth, Angela Sarafyan, Daniel Wu, Nozipho Mclean, Celeste Clark, Morningstar Angeline, Emily Somers, Alec Wang, Chris Marrone, Marti Matulis, Joseph Wilson, Nico Galán, Kyle Christiansen, Ariana DeBose, Adrian Dev, Francisco Martos, Dominic Benedetto
Duração: 59 min.