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Crítica | Westworld – 4X04: Generation Loss

O mundinho de Charlotte Hale.

por Luiz Santiago
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  • Há SPOILERS do episódio e da série. Leia, aquias críticas dos outros episódios.

Em Westworld  a gente sempre espera grandes viradas de jogo, e é sempre muito bom quando isso acontece, especialmente quando faz parte de um enredo bem construído em termos de personagens e sequência de acontecimentos. Todavia, depois de quatro temporadas, essa dinâmica de ação, por melhor que seja, não tem mais a exata força que tinha quando a vimos pela primeira vez. Ela não deixa de ser boa: entrega o serviço que é para entregar — e como eu disse, funciona aqui porque é muito bem escrita e representada — mas está consideravelmente abaixo daquelas reviravoltas que a gente já teve no show. À parte a comparação inevitável, a mudança que Generation Loss traz consigo é uma grande porrada, e dá o tom daquilo que possivelmente encontraremos na segunda metade desse ano do programa.

O roteiro aqui é muito cuidadoso, e tem poucos pontos onde se permite ser didático. Às vezes os showrunners da série seguem um modelo absurdamente cifrado, em determinados pontos, enquanto deixam passar cenas que reafirmam determinadas situações uma meia dúzia de vezes, para caso algum espectador desatento não tenha entendido… chegue à luz e diga “aaaaaaah, agora sim!“. É irritante, porque acontece nas situações mais simples, como a reta final da entrevista de fidelidade entre Hale e Caleb. O arco do personagem é construído de forma impecável aqui, dando nuances de um loop que inicialmente não entendemos, mas que vai se tornando cada vez mais claro à medida que os minutos passam. Com Aaron Paul entregando uma interpretação marcante, a coisa toda sobe a um bom patamar dramatúrgico, acompanhado de um ponto ainda mais alto por Tessa Thompson, que reina suprema nesse episódio.

O título do episódio é certeiro: Geração Perdida. À primeira vista, ele nos distrai, fazendo com que pensemos que o cerne do drama irá se passar no parque da Era de Ouro (e a gente entende isso pelo contexto, mas é importante deixar claro que nas classificações sociológicas, entende-se a “Geração Perdida” como sendo a das pessoas nascidas entre 1883 e 1900, só pra deixar claro, caso alguém se confunda) ou que se esteja utilizando o termo de forma simbólica, o que acaba se mostrando verdade. A “Geração Perdida” deste episódio é aquela das crianças que viveram no momento em que Charlotte Hale infectou o mundo com suas moscas, “23 anos atrás“. Ela inclusive dá um direcionamento importante para que a gente entenda essa nova realidade, ao dizer que o cérebro dos adultos é mais resistente ao controle, enquanto o das crianças é perfeitamente controlável.

Este, aliás, é um caminho extremamente assustador de se pensar, e a gente pode pegar o que é mostrado no episódio e aplicar, à guisa de análise de consequências, a qualquer conjuntura de doutrinação de crianças (as VERDADEIRAS doutrinações, em seu sentido literal e teoricamente perceptível e analisável, não aquelas que a horda dos gados inventa por aí, para que fique bem claro!) e talvez em grau menor, de adultos. O controle através da contaminação de ideias é uma discussão antiga dentro da Filosofia, e dá a base para investigações de outros processos em construção e funcionamento das ideias como a ideologia e a alienação. Na série, esse controle sempre esteve aplicado às máquinas, aos anfitriões, e esse domínio nos levava para uma discussão teórica que corria um labirinto inteiro para cair no livre-arbítrio. Agora, porém, o caráter do controle é pior. É mais sério, mais perigoso e se assemelha a toda a dinâmica de manipulação que temos em nosso mundo. A escolha do espaço de trabalho dessa temporada foi muito bom, e agora que tudo se tornou ainda mais complexo, estou curioso para ver como vão engatar a resolução do problema.

As dicas sobre diferentes linhas do tempo e a natureza das ações dos personagens passam por interessantes mudanças aqui, com um único pequeno mistério ainda por se apresentar: a localização e função de Christina em todo o processo. Generation Loss veio sacudir um pouco essa já muito interessante temporada, e cria algo ainda mais forte do que a gente imaginava. Hale como vilã está sendo um primor. Agora é torcer para que a segunda metade da temporada mantenha o alto nível e, principalmente, traga um bom final.

Westworld – 4X04: Generation Loss (EUA, 18 de julho de 2022)
Direção: Paul Cameron
Roteiro: Kevin Lau, Suzanne Wrubel
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandiwe Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Angela Sarafyan, Ed Harris, Luke Hemsworth, Aurora Perrineau, Morningstar Angeline, Nozipho Mclean, Celeste Clark, Hannah James, Gabriel Sousa, Chris Rickett, Anthony Traina, A.J. Hierro
Duração: 54 min.

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