- Há SPOILERS do episódio e da série. Leia, aqui, as críticas dos outros episódios.
Demorou, mas Westworld finalmente voltou! Agora em sua 4ª Temporada, a série apresenta um mundo real que aparentemente vive sob a tranquilidade do livre-arbítrio, com as previsões e manipulações do futuro realizadas pelo Rehoboam apagadas do mapa. Ou pelo menos é assim que a maioria pensa que as coisas andam. O que de fato acontece é que essa realidade pacífica e supostamente normal traz algumas pessoas agindo de forma estranha, algumas perseguições a personagens importantes e William/Homem de Preto (Ed Harris, badass e magnético, como sempre) organizando-se metodicamente nos bastidores, procurando caminhos para tomar o controle de narrativas já escritas, e talvez ter maior ou total controle das vidas nessa sociedade — o que faz parte do grande mistério da temporada, para começo de conversa.
Em outras palavras: a gente não sabe, realmente, o que está acontecendo. Esta premissa misteriosa do ano é ainda mais enigmática que a da 3ª Temporada, e justamente por ser “nova” (no sentido de proposta narrativa para algo a ser investigado & resolvido, mas também para a condução específica dos personagens) tem um pouco mais de dificuldade de capturar o espectador. Talvez essa sensação de desligamento do que veio antes diminua ao longo dos próximos capítulos, mas esse “novo mundo” não se fixa em nossa percepção logo de início. E o roteiro não parece se preocupar com isso, o que é relativamente compreensível. A atenção, na verdade, é afunilada para uma nova personagem chamada Christina (interpretada por Evan Rachel Wood, que realiza um ótimo trabalho de construção de personagem, afastando-a de Dolores), e a este afunilamento juntam-se os perseguidores que William manda para matar a ‘Maeve má’ (Thandiwe Newton) e possivelmente Caleb (Aaron Paul), que apesar do contexto familiar bem erguido, achei meio deslocado aqui.
Os augúrios que o título explicita são justamente as profecias, as indicações, as previsões de que algo muito ruim está se organizando em algum canto dessa sociedade; e esse “algo” definitivamente não é bom. Em linhas gerais, podemos dizer que Westworld está se reinventando com essa nova base de ameaças. É engraçado que, para este ano, os produtores não encheram tanto a bola do show quanto à renovação, como fizeram na temporada passada. Esse distanciamento das principais bases dramáticas dos outros anos nos colocou em uma posição de estranhamento. E não me refiro aqui à clara sensação de “não faço ideia do que está acontecendo“. Isso é parte da graça do show, e a esta altura do campeonato a gente já sabe as regras do jogo, entendemos como funciona esse ponto de partida para a série. O que ocorre neste quarto ano é um mistério que atinge muito mais lugares (um mundo inteiro) e muito mais personagens.
É verdadeiramente intrigante a vida desta criadora de games confrontada por alguém que acha que o que ela escreve é real. Foi impossível não dar uma risadinha com a lembrança de Resurrections, e o episódio não se furta em brincar com a questão de perspectiva da vida e da realidade, mostrando algumas ameaças e, ao mesmo tempo, tentando escondê-las, como se alguém estivesse limpando rapidamente alguma bagunça acidental. Não creio, porém, que este foi o princípio de temporada mais animador, intenso ou mesmo interessante da série, e falo isso tanto em relação ao enredo, quanto em relação à sua parte técnica, inclusos aí dois dos meus xodós do programa: a direção de fotografia e a trilha sonora. No entanto, é de Westworld que estamos falando, portanto, o padrão de julgamento e comparação que eu utilizo aqui é o mais alto possível. Isso quer dizer que o trabalho realizado em The Auguries é realmente de grande qualidade. Ocorre que ele não se aproxima das outras estreias da série: The Original, Journey into Night e sim, Parce Domine, o melhor episódio de estreia de uma temporada de Westworld até aqui (haters, podem chorar à vontade). O mistério, entretanto, planta a pulga atrás da orelha. Para um primeiro passo, portanto, missão cumprida.
Westworld – 4X01: The Auguries (EUA, 26 de junho de 2022)
Direção: Richard J. Lewis
Roteiro: William Bromell, Lisa Joy, Jonathan Nolan
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandiwe Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Angela Sarafyan, Ed Harris, Ariana DeBose, Fredric Lehne, Arturo Del Puerto, Alex Fernandez, Nozipho Mclean, Celeste Clark, Manny Montana, Michael Malarkey, Aaron Stanford, Brandon Sklenar, Ted Monte, Jim Cody Williams
Duração: 54 min.