Welcome to Wrexham (ou Bem-vindos a Wrexham) é um dos programas mais inusitados que esbarrei nos últimos anos. Afinal, a obra é uma série documental de esporte que acompanha o terceiro clube de futebol mais antigo do mundo sendo comprado por Ryan Reynolds, o nosso querido Deadpool, e Rob McElhenney, um comediante/ator que sou muito fã por conta de It’s Always Sunny in Philadelphia. A realidade muitas vezes é mais curiosa do que a ficção, não é mesmo?
Os paralelos com Ted Lasso vêm à mente quando assistimos dois americanos carismáticos que nada entendem de futebol tendo que se virar na administração de um clube europeu. A equipe criativa da série se aproveita destes elementos cômicos com a interação dos atores, mostrando situações que eles ficam perdidos na administração, brincam com a situação toda e riem do absurdo que estão fazendo. O fato do clube ser quebrado e estar na liga mais baixa possível ajuda bastante no ótimo humor do seriado.
Reynolds e McElhenney trazem muito sarcasmo para essas situações, principalmente nos episódios que são focados em sua gestão do clube e algumas de suas escolhas fracassadas. Existe até uma pegada de mocumentário, com muitas situações sendo roteirizadas e funcionando como espécies de esquetes. Vemos isso, por exemplo, com as ótimas propagandas de Reynolds, que trouxe seu marketing cômico de Deadpool e suas outras empresas, como Aviation Gin, para o centro da produção. As interações das estrelas com jogadores e fãs do time também geram momentos bem-humorados, considerando que o povo galês não mede palavras, principalmente quando estão em bares ou no estádio.
Em termos narrativos, Welcome to Wrexham funciona como uma espécie de My Career ganhando vida – aqueles que jogaram FIFA e PES sabem do que estou falando. Vemos os investimentos dos donos, a equipe que contratam, janelas de transferência e basicamente toda a estrutura de gerir um clube de futebol. Pode soar meio enfadonho, mas é bem bacana de acompanhar, com o seriado transformando Wrexham em um personagem que queremos ver tendo sucesso, saindo de uma liga falida e sonhando com a Premier League em um futuro distante.
Para isso, o documentário foca bastante na comunidade, nos cidadãos locais e no vestiário do clube. Inclusive ganhamos algumas subtramas sobre os indivíduos mais interessantes, como um dono de bar do Wrexham ou um jogador-estrela que saiu de uma liga melhor por conta do dinheiro de Reynolds. Muitos desses segmentos são sentimentais e interpessoais, dando tanto um coração para a produção quanto mostrando seu lado mais ruim de reality show, principalmente em alguns desdobramentos melodramáticos e apelativos que acabam soando falsos e/ou exagerados.
Isso acontece porque Welcome to Wrexham é um investimento propagandista milimetricamente pensado para atingir alguns clichês que capturam o grande público, especialmente fãs de futebol. Apesar das piadas, Ryan Reynolds e Rob McElhenney sabem exatamente o que estão fazendo, comprando um clube com história, mas numa situação ruim, e usando suas imagens para criar um documentário que irá promover o time, criar demanda de produtos, trazer novos torcedores e gerar mais receita. E, bem, se um dia chegarem na Premier League, o investimento da dupla será recompensado em bilhões. Até lá, estou comprando muito bem a propaganda bem-humorada que eles chamam de série documental. Aliás, já me sinto como um torcedor desse time galês.
Welcome to Wrexham – 1ª Temporada | EUA, 2022
Criadores: Rob McElhenney, Ryan Reynolds
Direção: Bryan Rowland
Roteiro: Rob McElhenney, Ryan Reynolds, George Dewey, Dan Donovan, Kelly Girth, Maxine Hughes
Elenco: Rob McElhenney, Ryan Reynolds, Humphrey Ker, Fleur Robinson, Shaun Harvey, Phil Parkinson, Paul Mullin, Jordan Davies, Aaron Hayden, Ollie Palmer
Duração: 18 episódios de aproximadamente 25-30 min.
