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Crítica | Watchmen – Ultimate Cut

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais versões do filme.

Apesar de a versão cinematográfica de Watchmen não ter alcançado o sucesso financeiro esperado, a Warner continuou apostando em seu audacioso produto, lançando em home video não só uma Versão do Diretor com 24 relevantes minutos extras reinseridos na obra, como também a versão animada da história-dentro-da-história Contos do Cargueiro Negro, o mocumentário canônico Sob o Capuz e os 12 episódios da Motion Comic que havia sido lançada por episódio no ano anterior, em preparação ao filme. O Ultimate Cut, portanto, era inevitável e também ganhou a luz do dia em 2009, reunindo a Versão do Diretor com os Contos e algumas sequências de ligação.

Como os leitores da HQ original sabem, a história de pirata lida por um jovem ao lado de uma banca de jornal funciona como comentário aos eventos que vemos ser desenvolvidos ao longo da narrativa, criando especial paralelismo com a construção de Adrian Veidt, o Ozymandias, em seu enlouquecido e mortal plano para trazer paz ao mundo. Zack Snyder planejava, originalmente, um estiloso curta live-action para ser costurado em Watchmen, mas o orçamento só permitiu uma animação que ele elegeu fazer emulando o estilo artístico de animes e que foi originalmente lançada em separado. Como tive oportunidade de afirmar em minha crítica, o curta animado funciona bem de maneira independente, ainda que quem não tenha lido a HQ provavelmente não conseguirá conectar uma coisa com a outra. Seja como for, todo o conteúdo da animação de 26 minutos foi seccionado em seis partes que, por sua vez, foram inseridas de maneira razoavelmente equidistante na Versão do Diretor do longa de Snyder, resultando em um gigantesco filme de 215 minutos.

A questão é: será que funcionou?

Tenho para mim que sim, mas somente para os realmente aficionados na acurácia do material fonte, ou seja, para aqueles que querem o pacote completo, o mais próximo possível da obra imortal de Moore e Gibbons. Para o ser humano “normal” ou para alguém que, como eu, tenta se distanciar da obra para um olhar um pouco mais objetivo, o resultado é potencialmente o oposto. E não, não é que a inserção dos Contos do Cargueiro Negro destrua o filme de Snyder. Nada disso. No entanto, os pequenos fragmentos da animação quebram a imersão da narrativa e transporta o espectador para uma outra conjuntura completamente diferente que não necessariamente ganha o paralelismo que tem na HQ, com as conexões com a trama principal tornando-se no máximo tênues. E, como cada “pedaço” da animação é curtíssimo, algo como quatro minutos cada, não há tempo para que essa segunda experiência narrativa seja capaz de absorver a atenção, pois, quando isso começa a acontecer, ela nos remete novamente para o filme propriamente dito, exigindo um processo mental cansativo e pouco recompensador.

São, mal comparando, quase como jump scares em filmes de horror. É algo que chama a atenção, que sacoleja o espectador, mas que, no final das contas, quando visto no agregado, detrai da experiência como um todo porque não traz algo que extrapole a função de ser algo imaginado para ser um agrado aos fãs da adaptação cinematográfica. Seria interessa ver ser se o problema está no fato de o Ultimate Cut ser um choque entre live-action e animação, o que talvez fosse resolvido com uma versão live-action de Contos, ou se é só uma questão do quanto a animação deixa de agregar ao todo.

Uma comparação razoável é a história pregressa de O-Ren Ishii em Kill Bill: Volume 1, já que a técnica de animação é a mesma e o filme em si é tão estilizado quanto Watchmen, ainda que de formas diferentes, claro. No entanto, essa origem no filme de Quentin Tarantino é exposta de uma vez só e, ainda por cima, como um flashback, além de ter uma duração signigativamente maior do que apenas quatro minutos. Com isso, o mergulho narrativo é quebrado apenas uma vez, com um função imediatamente aparente e dando tempo para o espectador aclimatar-se. No Ultimate Cut de Watchmen, nada disso está presente, o que reitera meu ponto sobre as inserções serem supérfluas.

Mas há que se reconhecer o zelo de Snyder nessa versão do filme. No lugar de simplesmente recortar a animação e jogá-la em momentos equidistantes de sua película, ele teve o cuidado de criar transições de entrada e de saída que, em um ponto ou outro, usam a banca de jornal de Bernard (Jay Brazeau) e a leitura da HQ pelo homônimo mais jovem Bernie (Jesse Reid) como âncora narrativa. Com isso, Snyder aí sim criou bons momentos para o Ultimate Cut que não estão presentes na Versão do Diretor, aumentando significativamente o relacionamento entre os dois personagens e criando uma conexão cômica e ao mesmo tempo paterna – e terna – entre eles, fazendo com que a tragédia capitaneada por Ozymandias ressone até mais eficientemente.

Dentre as três versões existentes do filme, o Ultimate Cut é a que menos me agrada pelas razões expostas, mas que não são nem de longe suficientes para fazer a experiência ruir sob seu peso. No final das contas, quando tudo é levado em consideração, o conjunto funciona, apesar da desarmonia, e acaba aproximando ainda mais a adaptação de sua clássica fonte inspiradora.

Watchmen – Ultimate Cut (Watchmen, EUA – 2009)
Direção: Zack Snyder, Daniel DelPurgatorio, Mike Smith
Roteiro: David Hayter, Alex Tse, Zack Snyder (baseado em quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons)
Elenco: Jackie Earle Haley, Patrick Wilson, Malin Akerman, Jeffrey Dean Morgan, Billy Crudup, Matthew Goode, Carla Gugino, Stephen McHattie, Dan Payne, Niall Matter, Apollonia Vanova, Glenn Ennis, Darryl Scheelar, Matt Frewer, Laura Mennell, Danny Woodburn, Robert Wisden, Salli Saffioti, Gary Houston, Frank Novak, William S. Taylor, Walter Addison, Nhi Do, David MacKay, L. Harvey Gold, Jay Brazeau, Jesse Reid, Gerard Butler, Cam Clarke, Siobhan Flynn, Jared Harris, Salli Saffioti, Lori Tritel, Bridget Hoffman
Duração: 215 min.

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