Assayas, mesmo que ainda emplacando grandes obras na última década, tornou-se um diretor um tanto quanto irregular. Seus filmes dão grandes saltos em qualidade e estrutura, como foi o caso de Personal Shopper e Vidas Duplas, dois filmes que tratavam da tecnologia e materialismo em nossas vidas, mas com duas abordagens completamente diferentes: o primeiro sendo um suspense sobrenatural e o segundo uma comédia típica de burguesia francesa, sem qualquer charme ou autoria.
Nesse trilhar de altos e baixos nos últimos anos de sua carreira, Assayas parece ter voltado-se para um material possivelmente mais acessível e comercial, deixando de lado os dramas pessoais para atracar-se no embate político entre Estados Unidos e Cuba. Uma virada em 180º em comparação aos seus trabalhos intimistas, agora fazendo basicamente um thriller de guerra fria em moldes bastante tradicionais.
Mesmo sem revelar desde o início, Wasp Network é um filme de espiões, no sentido mais literal da coisa. São infiltrados cubanos nos Estados Unidos, denunciando informações norte-americanas para o governo de Fidel. A narrativa é dada pelas vias mais tradicionais possíveis, alguns protagonistas, muitas vezes esquecidos ou introduzidos tardiamente, que revelam a trama por meio de diálogos expositivos, narração em off e letreiros.
É tanta informação em jogo que o cineasta parece ter medo do espectador sem incapaz de recebê-la. Assayas, então, abusa da montagem dinâmica para pegar o espectador pela mão e não perdermos nenhum detalhe importante. O que surge parecendo ser apenas um recurso para poupar tempo de tela, logo torna-se um cacoete preguiçoso de direção, que suga tudo de interessante das imagens para apressar a épica trama situada num período de quase dez anos.
O sentimento que Wasp Network nos traz é de ser um corte de uma série para televisão, algo que não seria novidade na carreira do cineasta, que dirigiu a excelente minissérie Carlos, em 2010, para TV francesa. O filme é inflado de situações e eventos, sempre muito apressados, onde não há tempo para reflexão ou consequência, apenas para os atos em si.
Não vejo sequer grandes ambições políticas neste filme. Na verdade, é um filme bastante inconsequente, onde o juízo moral é traduzido apenas em prisões ou finais infelizes, jamais através de uma contemplação mais aprofundada. Claro, não se santifica nenhum dos lados, nem Cuba muito menos os Estados Unidos, mas há uma busca pelo simples nessa dicotomia para acelerar a narrativa que desvia a intenção do filme.
Os personagens estão todos ali apenas como veículos trazendo os dados históricos, não há camada sensível ou pessoal no filme, por mais que haja tentativa. É tudo descartável, personagens que ficam de lado por mais de uma hora no filme, apresentados depois da primeira metade, que desaparecem sem pestanejar. O prazer está na história, e para isso tudo que faz um grande filme é sacrificado. Há pontos positivos, como quando atores como Wagner Moura e Penélope Cruz finalmente conseguem mais que cinco minutos em cena e finalmente podem brilhar, mas Assayas opta por despir-se de suas melhores qualidades para gerar esse filme sem alma ou conteúdo.
Wasp Network – 2019, França, Brasil, Bélgica
Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas, Fernando Morais
Elenco: Wagner Moura, Penélope Cruz, Edgar Ramírez, Gael García Bernal, Ana de Armas, Harlys Becerra, Julia Flynn, Gisela Chipe, Brannon Cross, Michael Vitovich, Steve Howard
Duração: 123 min.