Tudo que você espera de um slasher, mas muitas vezes é difícil de encontrar. Eis um caminho possível para pensarmos Você é o Próximo, filme de 2011 que deveria ser mais conhecido, haja vista a sua proposta interessante e condução assertiva dentro de um segmento já exaurido, produção que apresenta ao espectador um espetáculo de tensão e violência que não traz novidade alguma, mas insere ritmo e personagens interessantes, tudo em prol do funcionamento de sua trama. Dirigido com eficiência por Adam Wingard, o filme é guiado com base no texto dramático de Simon Barret, o idealizador deste panorama de figuras ficcionais colocadas para sofrer em doses generosas diante da ação de misteriosos invasores, “monstros” decididos a aniquilar o maior número de pessoas possíveis dentro de uma casa situada numa região distante dos grandes centros urbanos e, por isso, perigosamente apta ao ataque dos criminosos. O começo é o trivial: duas pessoas são brutalmente assassinadas depois de um prazeroso momento sexual. As mortes são violentas e a crueldade reforça que os envolvidos nos crimes não possuem piedade alguma quando o assunto é aniquilar corpos incautos.
Depois deste primeiro momento, o duplo assassinato que parece gratuito. No entanto, logo depois, é compreendido como uma espécie de diminuição das possibilidades de fuga e absolvição das próximas vítimas, um grupo de familiares que decide se reencontrar não apenas para matar as saudades uns dos outros, mas para comemorar o aniversário de casamento da longeva dupla formada por Paul (Rob Moran) e Aubrey (Barbara Crampton). Os seus filhos Crispian (A J Bowen), Drake (Joe Swanberg), Felix (Nick Tucci) e a doce Aimeé (Amy Semetz) se deslocaram com os seus respectivos pares para apresentação e fruição de momentos de alegria, tendo algumas passagens com as habituais trocas de farpas entre os familiares. É uma piada de um lado, indireta do outro, aquele julgamento sobre o comportamento e as decisões tomadas por uma determinada figura, etc. Nada diferente do que as comédias natalinas adoram fazer. O diferencial é que aqui, o clima será de horror, durante o primeiro jantar dos envolvidos.
Enigmáticas presenças lado de fora programaram diversas armadilhas e começam a atirar com flechas que iniciam as primeiras mortes, seguidas de outros ataques que envolvem machados, facões e outras armas afiadas. Quem ganha destaque na situação é Erin (Sharni Vinson), a namorada de Crispian, um dos filhos dos patriarcas da família. Ela assume desde o começo a posição de final girl e segura o arquétipo com maestria até o desfecho, mesmo que o seu destino não pareça ser o mais adequado para quem espera um final tradicional e feliz. A personagem salva a si e consegue aumentar o tempo de vida dos demais, empreendendo armadilhas que a tornam uma autêntica representante do posto de protagonista inteligente e sagaz. Aos poucos, segredos são revelados e descobrimos que os verdadeiros monstros talvez não estejam apenas do lado de fora. O esfacelamento da família pode vir de dentro, o que torna tudo ainda mais macabro e, em linhas gerais, aterrorizante. Sequências de perseguição e embates corajosos dominam a ação prejudicada somente pelo relativo excesso desnecessário na parte gráfica da violência em determinados trechos, em especial, no final. Muita pirotecnia, mas nada que estrague o material por completo. Apenas soou um tanto mirabolante.
Para o bom funcionamento da narrativa, os realizadores contaram com o empenho de Andrew Droz Palermo na direção de fotografia, profissional responsável por enquadrar milimetricamente muitas passagens e permitir que o nível da tensão aumente com base na troca do ponto de vista, ora das vítimas, ora dos algozes, além da calculada movimentação, escolhas que impedem a nossa perda diante de qualquer instante de violência gráfica ou estabelecimento do perigo para qualquer um dos personagens incautos. A cenografia e a direção de arte também trabalham em consonância para colocar em cena elementos que permitem a fixação de uma atmosfera de perigo, em especial, nas numerosas janelas de vidro e nos adereços que compõem os quartos, salas e demais espaços, em sua maioria, material de trabalho para o enfrentamento dos antagonistas, mérito do design de produção de Tom Hammock. Ademais, a condução sonora composta pelo próprio diretor e sua equipe de músicos permite evidenciar a tensão que atravessa o filme todo como um fio devidamente encapado, sem ser excessiva, tampouco ineficaz, ao longo dos 95 minutos de Você é o Próximo, slasher potente e sangrento. Uma produção que cumpre as suas promessas e entrega ao público entretenimento dinâmico e sem firulas.
Você é o Próximo (Cut/Estados Unidos– 2011)
Direção: Adam Wingard
Roteiro: Simon Barrett
Elenco: Sharni Vinson, Joe Swanberg, AJ Bowen, Nicholas Tucci, Wendy Glenn, Margaret Laney, Amy Seimetz, Ti West, Rob Moran, Barbara Crampton, L.C. Holt, Simon Barrett, Simon Barrett, Lane Hughes, Kate Lyn Sheil
Duração: 89 min.