Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Vizinhos (2022)

Crítica | Vizinhos (2022)

Não só um trabalho grotesco, mas também repulsivo.

por César Barzine
1,5K views

É difícil acreditar que um filme como Vizinhos tenha sido feito da maneira que foi. Poucas vezes se viu, até mesmo na comédia brasileira, um trabalho tão incompetente, desengonçado e vulgar. Tudo é tão pessimamente desenvolvido que o filme, sem exageros, torna-se uma obra vil, algo que esteja abaixo de um mero produto sem qualidades, e que acabe sendo uma grande ofensa ao público, seja pela pobreza em sua estrutura narrativa ou por seu humor que é do menor nível possível.

O ponto de partida do roteiro é o problema auditivo de Walter, um comerciante que se torna extremamente sensível a sons altos, fazendo com que ele busque paz e tranquilidade num certo condomínio. O grande conflito neste ponto é que seu vizinho Toninho é um festivo chefe de escola de samba, daí Walter precisa aturar o tempo todo as inúmeras perturbações da casa de Toninho, sejam festas, animais ou situações corriqueiras. Todo o ambiente de convívio em volta de Toninho gira em torno de uma representação exagerada e caricata do que é um brasileiro boêmio e camarada com o ar festivo e completamente cordial. No entanto, essa cordialidade, aqui, trabalha no campo de uma caricatura que beira ao ofensivo, algo tão desesperado que, não só deixa de causar uma conexão, mas cria uma grande antipatia.

A questão da perturbação, dentro da ficção como um todo, serve para criar inúmeras situações de humor, em que, a partir de algo banal (a simples relação entre vizinhos), surge o elemento pitoresco que possa mover muitas comédias – como já vimos até mesmo em outro filme de título igual, de 2014, o que só reforça a pobreza criativa da obra em questão. Portanto, boa parte da história deste Vizinhos atual é somente isso: Toninho fazendo bagunça e Walter se incomodando. A situação só muda na virada para o terceiro ato, quando Walter acredita ter matado a mãe de Toninho. Até lá, o filme nada mais é do que um agrupamento de momentos deslocados que tentam fazer humor e soar carismático da maneira mais pobre possível. Não há a preocupação em construir situações com o mais básico cuidado narrativo, tudo é apenas enfiado no roteiro e jogado na tela sem qualquer compromisso em soar orgânico ou minimamente bem feito.

Simplesmente não há o mínimo de inventividade ou naturalidade nesta produção. As piadas e diálogos parecem ter sido escritas de última hora, e a sensação que se tem diante delas é do mais puro constrangimento. Há até mesmo inúmeros instantes em que o espectador consegue prever o que vai ser dito e acaba acertando; no entanto, o maior problema de Vizinhos não é nem se prender ao óbvio, mas sim promover uma verdadeira falta de respeito com o seu público. Além do teor previsível, o texto é completamente forçado e cheio de piadas sexuais de muito mau gosto. O espectador chega a ficar pasmo com o quão escroto é o conteúdo que se tem em frente, onde o roteirista confunde fazer um humor popularmente ligeiro com um humor grotesco e torpe. 

Vizinhos parece tentar fazer uma versão cinematográfica do Esquenta (aquele programa dominical da Globo que já não existe mais), é encarar o mundo como um grande churrasco na laje, cheio de pessoas esbanjando alegria através de características que buscam ao máximo soar popular. Essa é a sensação que temos do começo ao fim do fim. Toninho é a grande síntese disso, e para representar seu estereótipo, Mauricio Manfrini atua inteiramente de forma despojada, mas nada natural, sendo uma caricatura de si mesmo. Sua família não é diferente, e as aparições deles são completamente irritantes e mal interpretadas (principalmente a das crianças). Essa é a visão do filme sobre aquilo que é popular: uma visão desesperada e que se perde totalmente em seus clichês e tiques.

A única coisa que pode ser classificada como positiva aqui é o visual, que ganha um pouquinho de destaque por fugir do padrão de comédias da Globo Filmes dos anos 2000 e 2010, soando mais profissional e parecido com as produções americanas. De resto, o grande destaque de Vizinhos é não apenas ser extremamente ruim, como também ser um produto desprezível, de uma verborragia e estrutura narrativa histérica que, de tão primitiva, torna-se abjeta.

Vizinhos – Brasil, 2022
Direção: Roberto Santucci
Roteiro: Paulo Cursino
Elenco: Leandro Hassum, Mauricio Manfrini, Marlei Cevada, Lucas Leto, Júlia Rabello, Nando Cunha, Hélio de la Peña, Julia Foti, Dja Marthins, Vilma Melo
Duração: 110 minutos.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais