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Crítica | Vitória Régia (1937)

Aula de botânica.

por Luiz Santiago
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Um dos primeiros curtas dirigidos por Humberto Mauro para o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) — destaco que há o registro de um curta chamado Um Parafuso, lançado por ele no ano anterior — Vitória Régia, de 1937, é uma produção simples, mas interessante, sobre as características e o ciclo de vida dessa fantástica espécie sul-americana. As filmagens foram feitas no recanto amazônico recriado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e revelam a beleza e singularidade da vitória-régia em uma versão distanciada de seu habitat natural. Através do olhar sempre romântico do diretor para a natureza, o curta exibe a imponência da planta, com suas gigantescas folhas resistentes e suas flores perfumadas. 

Dada a intenção educativa da produção, sua estrutura narrativa é didática, e utiliza interessantes recursos visuais e sonoros para aproximar o público do tema, como a leitura marcante de Edgard Roquette-Pinto; a filmagem acelerada da eclosão da flor e sua exibição cortada ao meio, para mostrar as partes reprodutivas. A ilustração do mapa da América do Sul contextualiza geograficamente a distribuição da planta, enquanto a narração, semelhante à utilizada em outra versão do mesmo filme (intitulado Victoria Regia: Horto Botânico do Museu Nacional), conduz o espectador por um caminho de descobertas sobre a espécie. Os detalhes descritivos e a ênfase nos nomes indígenas mostram a preocupação do diretor em apresentar um conteúdo completo, expondo componentes da identidade nacional e sua evolução, com o tempo, algo muito comum nos filmes produzidos para o INCE.

Apesar do importante caráter de “material pedagógico“, a cena mais inesquecível do curta é a da criança sentada em uma folha de vitória-régia, acenando para a câmera. É um momento que demonstra, além da resistência da planta, uma nuance lúdica e poética da narrativa, alterando brevemente a atmosfera do documentário. Foi uma escolha delicada e acertada do diretor, que cativa de imediato o público, sobretudo o infantil. A fotografia, conduzida pelo próprio Mauro, que também assina a edição, se destaca por sua beleza nostálgica e rara, com um cuidadoso tratamento de ângulos e contrastes, especialmente nas cenas iniciais da obra.

Embora seja de grande valor histórico — como tudo o que Mauro dirigiu para o INCE, devo dizer –, o filme apresenta algumas limitações. O final abrupto, por exemplo, deixa a sensação de que a exploração do tema foi superficial, com um “vazio” maior do que se percebe à primeira vista; sem contar que a ausência de detalhes sobre o processo de produção e os bastidores da filmagem também dificulta uma análise mais rica da fita. Ainda assim, Vitória Régia é um registro notável da exuberância natural brasileira e um belo exemplo da capacidade do cinema documental nacional em suas primeiras décadas de existência.

Vitória Régia (Brasil, 1937)
Direção: Humberto Mauro
Roteiro: Humberto Mauro
Elenco (narração): Edgard Roquette-Pinto
Duração: 6 min.

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