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Crítica | Virgínia (Twixt)

por Guilherme Rodrigues
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No que se refere à Virgínia, o gênero mais usado para descrevê-lo é o terror, há bons motivos para tal, afinal de contas, Edgar Allan Poe é citado diretamente no filme e é até mesmo um personagem no longa, assim como elementos dignos do gênero, como vampiros e fantasmas, marcam presença de uma forma ou de outra durante a narrativa. Mas outro gênero marca presença nessa produção gótica de Coppola, que é a comédia.

A dúvida é se o diretor queria que o longa tivesse esse humor tão destacado ou não, já que sua presença é inegável, especialmente no modo que o protagonista Hall Baltimore (Val Kilmer) interage com os habitantes da pequena cidade que guarda um grande segredo em seu território. Há um tom muito lynchiano nessas interações comuns, mas que vão um pouco fora do ordinário. Se alguém comendo sanduíche era uma oportunidade para Lynch fazer graça, Coppola aqui faz o mesmo com uma ligação de telefone, que se estende mesmo quando as pessoas estão se falando cara a cara.

Esses são os melhores momentos de Virginia, mesmo que sejam um tanto nonsense, como a sequência em que Hall, gradativamente mais bêbado enquanto tenta escrever seu novo livro, passa a fazer diversas vozes diferentes, “agora eu sou um jogador de basquete gay”, diz ele para o nada. Faz algum sentido? Não, mas esses momentos bizarros funcionam por se encaixarem nessa atmosfera meio Twin Peaks.

Mas esse não é o principal foco do filme, já que Coppola quer explorar mais os aspectos sombrios da cidade e de seu protagonista. Hall é um escritor em decadência que chega em uma pequena cidade sem nome para vender e autografar livros, a única pessoa que o reconhece no local é o xerife Bobby LaGrange (Bruce Dern) que oferece ao autor algumas informações sobre a cidade, como o assassinato em massa que ocorreu ali anos atrás, e o leva para o necrotério, para que ele possa ver o corpo de uma jovem moça assassinada com uma estaca no peito. A noite, ao dormir, ele é transportado para uma versão onírica da cidade onde conhece duas figuras, Virginia (Elle Fanning), uma jovem chamada de vampira devido a sua estranha dentição, e Edgar Allan Poe (Ben Chaplin), que o leva a conhecer os mistérios do local.

No meio disso, Hall também lida com seus próprios problemas, como o luto mal resolvido pela sua filha, que morreu em um acidente de barco, e sua difícil situação financeira, que coloca uma tensão no seu casamento, resultando em constantes brigas.

As partes do filme não encontram uma sinergia muito boa, e o resultado acaba sendo um filme um tanto desconjuntado, mesmo que com ideias visuais muito interessantes. Uma das preocupações ao longo do filme é expor uma certa maleabilidade do tempo – a cidade tem um relógio de 7 faces, todas com horas diferentes – e Coppola expressa isso pela artificialidade que o dia e a noite possuem no filme, colocando em dúvida o que é realmente “dia” ou “noite”.

Mas no geral, Virgínia não funciona muito bem com esses aspectos mais densos, com a trama indo e vindo sem muitas explicações ou coerência – certo momento tive que voltar o filme para ver se não tinha perdido alguma cena – e também completamente desfeitas pelo plot twist final, que é algo nível “e tudo não passou de um sonho”, que apesar de se encaixar perfeitamente no humor que citei no início do texto, acaba sabotando o próprio movimento do longa.

Virgínia (Twixt) – 11 de Junho 2009, EUA
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Francis Ford Coppola
Elenco: Val Kilmer, Bruce Dern, Elle Fanning, Ben Chaplin, Alden Ehrenreich, Joanne Whalley, David Paymer, Anthony Fusco
Duração: 88 min.

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